O governo federal planeja viabilizar pelo menos R$ 100 bilhões em investimentos em melhorias logísticas no Nordeste para acelerar o crescimento econômico da região. O valor inclui ampliação de ferrovias e melhorias em rodovias. O montante foi revelado pelo secretário executivo do Ministério dos Transportes, George Santoro, durante evento realizado em Fortaleza pela série de debates Logística no Brasil, promovida pelo Valor, com oferecimento de Infra S.A. e Ministério dos Transportes.
De acordo com Santoro, o Plano Nacional de Logística 2050 (PNL 2050), em elaboração no Ministério dos Transportes, deve prever um corredor ferroviário leste-oeste, passando pelo Nordeste. A obra promoveria a interligação das ferrovias de integração do Centro-Oeste (Fico) e Oeste-Leste (Fiol), projetada para ligar o Tocantins a Ilhéus (BA). O projeto deve custar R$ 60 bilhões, incluindo a modernização de trechos de ferrovias já existentes, e deve começar a ser licitado em 2026.
“O projeto do corredor leste-oeste está passando por alguns ajustes em sua modelagem. Até dezembro, ele estará na ANTT [Agência Nacional de Transportes Terrestres] para, no início do ano [2026], ser enviado ao TCU [Tribunal de Contas da União]. Muito provavelmente, o edital será publicado no primeiro semestre do ano que vem”, detalhou o secretário.
Ele também destacou investimentos planejados na Ferrovia Minas-Bahia e na Transnordestina. Tufi Daher Filho, diretor-presidente da Transnordestina Logística, que constrói a linha férrea, disse que ela iniciará a operação comercial em 2027. Serão feitos transportes de cargas como soja, milho, farelo de soja e calcário entre Bela Vista do Piauí (PI) e Iguatu (CE).
Há ainda R$ 40 bilhões em investimentos do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Parte disso inclui obras rodoviárias na região, como a duplicação das BRs 101, 304 (de Natal a Mossoró/RN) e 104 (entre Alagoas e Pernambuco).
José Arlan Silva Rodrigues, presidente da Federação das Empresas de Transporte de Cargas e Logística do Nordeste (Fetranslog-CE), destacou que esses investimentos são urgentes, já que 1.017 dos 2.446 pontos críticos identificados em estradas do país, de acordo com a última edição da Pesquisa de Rodovias da CNT (Confederação Nacional do Transporte), de 2024, ficam no Nordeste – ou seja, 41% do total.
O presidente da estatal Infra S.A., Jorge Bastos, acrescentou que esses e os outros investimentos que serão previstos no PNL 2050 podem contribuir para que o Nordeste destrave seu potencial econômico. “Para crescer, é preciso planejamento de longo prazo”, disse. “O Nordeste é um território de grandes potencialidades. Mas para que esse potencial se converta em desenvolvimento, é preciso investir na infraestrutura de transporte e logística.”
Flavio Ataliba, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), lembrou que a região concentra 27% da população nacional, mas só produz o equivalente a 14% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Ressaltou também que o Nordeste, nos últimos dez anos, cresceu mais que a média nacional. Ainda assim, no atual ritmo, demoraria 180 anos para conseguir elevar sua participação no PIB ao mesmo patamar de sua participação na população. Para ele, é preciso acelerar o crescimento do Nordeste – e confirma a importância da melhoria do transporte para que isso ocorra.
Fabiano Chaves da Silva, subsecretário de Planejamento de Longo Prazo do Ministério do Planejamento e Orçamento, disse que, com um melhor sistema de transporte, o Nordeste pode se tornar polo de novas atividades econômicas, podendo inclusive virar um polo de vendas internacional de energia renovável em forma de hidrogênio verde.
Essa atividade é vista como estratégica pelo governo federal para aumentar a relevância nordestina na pauta de exportação – hoje, a região responde por 7% das vendas brasileiras ao exterior – e para a criação de uma nova cadeia de empregos. Para Silva, isso demanda melhorias logísticas. “Há a possibilidade de exportar essa energia por meio de portos”, disse, lembrando que o embarque ao exterior é feito por meio da conversão do hidrogênio em amônia.
Já Cloves Eduardo Benevides, subsecretário de Sustentabilidade do Ministério dos Transportes, disse que o planejamento da logística também vai reduzir as emissões com uso mais racional dos diversos modais. “A ampliação do uso do transporte aquaviário e ferroviário vai impactar nas emissões.”
Santoro ressaltou que todas essas mudanças dependem de obras e que o PNL 2050 considerará limites orçamentários do governo federal para que não sejam listados “trilhões de projetos que nunca serão executados’. O secretário disse que o setor privado tem potencial para colaborar com projetos para se beneficiar com as melhorias que eles trarão ao país.
O debate foi mediado por Marina Falcão, repórter do Valor.