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sexta-feira, novembro 14, 2025

Inflexão à esquerda foi decisão de risco para Lula

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Os dois blocos da mais recente pesquisa Quaest, o que trata da avaliação de Lula e de seu governo e o que traz cenários para a eleição presidencial, mostram que a clara inflexão feita pelo presidente à esquerda nos últimos meses não obteve, ao menos por enquanto, respaldo do eleitorado. Pelo contrário: ele pode ter afugentado um eleitor que “voltava” para o petista depois da sabotagem promovida por Eduardo Bolsonaro contra o Brasil nos Estados Unidos.

Antes mesmo de ser levado a empunhar a bandeira da soberania nacional devido às ações do filho de Jair Bolsonaro para obter sanções contra o país, Lula já vinha apostando na retomada do discurso do “nós contra eles”, desta vez traduzido numa defesa da justiça tributária em que ele representaria os trabalhadores e a classe média, e a oposição e o Congresso promoveriam os interesses dos BBBs, banqueiros, bets e bilionários.

Não deu tempo de testar essa estratégia arriscada isoladamente, porque logo a condenação de Bolsonaro, o tarifaço, a aplicação da Lei Magnitsky contra ministros do STF e a aprovação da PEC da Blindagem pela Câmara compuseram um pacote de Natal antecipado para Lula, de que ele soube tirar proveito imediato. A leitura desse refresco mostrado pelas rodadas de pesquisa de agosto a outubro parece ter sido otimista demais pelos lados do Planalto e do PT. Desde então, Lula ligou a seta à esquerda e passou a dar demonstrações de estar convencido de que, dali para a frente, governaria nos seus termos.

Designou Guilherme Boulos para a Secretaria-Geral da Presidência depois de meses de enrolação; viu aprovada a reforma do Imposto de Renda da Pessoa Física, que isenta quem recebe até R$ 5 mil e reforça o discurso da justiça tributária; apostou em medidas para baixar o preço do gás e da energia e noutras para facilitar o acesso a financiamento da casa própria para a classe média. E, em breve, deve nomear Jorge Messias para o Supremo Tribunal Federal, em outra escolha de alguém “de casa”.

Isso, somado à desarticulação absoluta da direita nocauteada pela condenação de Bolsonaro e pelas trapalhadas do clã, parecia formar uma tendência irreversível de recuperação da dianteira pelo petista. Até a “química” com Donald Trump pintou no horizonte para corroborar a mística, antiga, da “estrela” de Lula. Tanto que ele passou a dar entrevistas não só admitindo a nova candidatura, como cantando vitória antecipada.

Acontece que nenhum desses fatos autoriza o entorno do presidente a entender que o eleitorado estava propenso a virar à esquerda com Lula. Pelo contrário: há anos todo o acervo de pesquisas produzido por diversos institutos vai no sentido oposto. A sociedade está cada vez mais conservadora, pendendo para a direita em alguns temas (inclusive os de ordem fiscal e tributária), com certa ojeriza à presença maior do Estado e de corporações como sindicatos em sua vida e, sobretudo, com visão punitivista no crucial tema da segurança pública.

Ao nomear Boulos, Lula pretende se aproximar do empreendedor individual, dos trabalhadores por aplicativos, dos jovens que estão no “corre” e não querem saber de se sindicalizar. De fato, o agora ministro fez uma lição de casa de se aproximar desse contingente depois que perdeu a eleição de 2024 e sentiu na pele a rejeição que havia à esquerda.

Ele terá tempo de construir essa ponte? E o governo tem um discurso capaz de encaixar com as aspirações dessa novíssima classe trabalhadora não petista? As ações do Ministério do Trabalho nestes três anos e pepinos como o escândalo do desvio das aposentadorias do INSS sugerem que não.

O freio na recuperação de Lula e a redução da diferença de sua vantagem para os adversários mostram que, se a direita se organizar, não há nada assegurado em termos de reeleição. Ou o presidente entende que não é a esquerda que o elegerá, como não foi em 2022, ou corre sério risco de ter jogado fora a chance de reação que recebeu quase de mão beijada pelos erros da oposição.

[Fonte Original]

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