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terça-feira, dezembro 2, 2025

Ações de cidades para enfrentar a crise climática avançam

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Eventos como calor e frio extremos, furacões e inundações têm afetado intensamente as cidades, agentes fundamentais no combate às mudanças climáticas. Em contrapartida, projetos incentivados por governos locais são implementados em várias partes do mundo, com iniciativas que vão de energia limpa a arborização urbana e gestão de resíduos.

O indispensável comprometimento dos governos municipais para enfrentar a crise climática é a base do C40 Cities, rede global composta por 97 cidades. “Em 2005, um pequeno grupo de prefeitos visionários criou esta organização porque temiam que ninguém mais tomasse a iniciativa. Hoje, os resultados falam por si: 73% das nossas cidades, para as quais temos dados, atingiram o pico das suas emissões, reduzindo-as mais rapidamente do que os governos nacionais”, afirma o diretor-executivo da C40, Mark Watts.

A C40 e outras redes de cidades sustentáveis servem de modelo para ações inéditas, como a criação da Rede Brasileira de Cidades Resilientes. Lançada na COP30, pelo Instituto Bem Ambiental (Ibam), a organização visa auxiliar municípios de pequeno e médio portes a atenderem os requisitos do financiamento climático, por meio de capacitação e formação de equipes e de estruturação e modelagem de projetos de adaptação.

“Vamos trabalhar por meio de uma governança compartilhada. Abriremos um edital para que os municípios submetam propostas e demandas e, a partir disso, 50 serão selecionados. A ideia é chegar a 300 municípios em cinco anos”, diz o presidente do Ibam, Sergio Myssior. Também está nos planos a conexão com outras redes de cidades para trocas e colaboração.

Há exemplos inspiradores em diferentes continentes de cidades que têm projetos bem-sucedidos de mitigação e adequação à crise do clima. Veja abaixo.

Freetown
Situada na costa atlântica de Serra Leoa, Freetown sofre com o desmatamento. Nas últimas décadas, perdeu cerca de 70% de sua área florestal para a produção de carvão e a construção civil. O crescimento de moradias informais em áreas de risco ainda aumenta a vulnerabilidade local. O principal programa de adaptação e mitigação é o “Freetown, The Tree Town” (Freetown, a Cidade-árvore), que é parte do plano “Transform Freetown”, lançado em 2019 pela prefeita Yvonne Aki-Sawyerr, que ocupa o cargo até hoje. “Desde 2020 já plantamos 1,2 milhão de árvores. Vamos atingir 5 milhões em 2030”, diz Yvonne, que também é copresidente do C40 desde 2023.

A iniciativa gera emprego e permite o patrocínio de árvores por um sistema de tokens digitais. Moradores são pagos para plantar e cultivar árvores e manguezais, que recebem identificadores únicos e são monitorados pelo aplicativo Tree Tracker. Assim, cada planta pode ser associada a um token de impacto, instrumento financeiro que pode ser comprado por indivíduos ou empresas. A venda dos tokens ajuda a remunerar o cuidador de acordo com seu desempenho. A iniciativa é financiada também por doadores internacionais, fundos climáticos e agências multilaterais.

Há dois anos em operação, o metrô de Quito já evitou a emissão de 107 mil toneladas de carbono por ano — Foto: Divulgação

Quito
A capital do Equador tem avançado em mobilidade sustentável, adaptação e mitigação de mudanças climáticas, bem como no tratamento de água. Um dos destaques é o metrô da cidade, inaugurado há dois anos como parte de uma política social e ambiental. “Agora as pessoas se deslocam em até uma hora ou uma hora e meia a menos do que antes. O sistema também evita a emissão de cerca de 107 mil toneladas de CO2 por ano, o equivalente ao plantio de aproximadamente 5 milhões de árvores”, diz o prefeito Pabel Muñoz. A frota de ônibus de transporte rápido (BRT) também está sendo renovada: os 60 novos veículos são 100% elétricos. A meta é que toda a frota operada pelo município seja movida a eletricidade e que a energia seja gerada pela própria cidade por meio de sistemas solares fotovoltaicos.

Por estar localizada a 2.850 metros de altitude, Quito enfrenta dois tipos de risco em relação à água: o da escassez, que aumenta a probabilidade de incêndios, e a do excesso, que pode causar deslizamentos e inundações. Em áreas afetadas por incêndios, o projeto “Quito Mais Verde do que Nunca” visa plantar 500 mil árvores nativas. Já para evitar que chuvas intensas cheguem de maneira brusca às zonas urbanas, as obras buscam reduzir a velocidade da água e melhorar a captação.

“Criamos também uma regulamentação que obriga a separar a água da chuva da água residual. Estamos avançando rapidamente, e o principal projeto em andamento é um plano de dez anos, estimado em cerca de US$ 1 bilhão, para tratar 100% do esgoto de Quito e, com isso, recuperar os rios da cidade”, Muñoz.

Há iniciativas também voltadas para os vulcões, chamados por Muñoz de “antigos e perigosos vizinhos”. Segundo ele, os riscos estão principalmente na queda de cinzas, nos deslizamentos e nos fluxos de água e lodo decorrentes do degelo — o Cotopaxi é um vulcão nevado. Para lidar com eles, a cidade desenvolveu um sistema de gestão de desastres que hoje é um dos mais reconhecidos pelas Nações Unidas na América Latina.

Parisienses aprovaram referendo para fechar mais 500 ruas para o tráfego de carros, priorizando pedestres e áreas verdes — Foto: Divulgação
Parisienses aprovaram referendo para fechar mais 500 ruas para o tráfego de carros, priorizando pedestres e áreas verdes — Foto: Divulgação

Paris
Em 25 anos, a capital francesa mudou radicalmente. A transição verde ganhou força a partir de 2001, quando a atual prefeita, Anne Hidalgo, era subprefeita, cargo que ocupou por 15 anos até assumir o comando da cidade em 2014. Desde a virada do século, o tráfego de carros caiu pela metade e, nos últimos 20 anos, os níveis de poluição por dióxido de nitrogênio foram reduzidos em 50% e os de partículas finas, em 55%.

“Quando assumi a prefeitura, era impossível respirar. Decidimos fechar ruas, reduzir a circulação de veículos no entorno das escolas e plantar árvores e jardins. As pessoas acharam que a prefeita estava maluca, mas nós precisávamos disso. Hoje, ninguém quer voltar ao que era antes”, diz Hidalgo.

O plano inicial foi fechar 300 ruas, das quais mais de 100 já foram revitalizadas, com vegetação adicional, ampliação de calçadas, bloqueio do tráfego de veículos e instalação de mobiliário urbano. A prefeitura também acabou com 10 mil vagas de estacionamento desde 2020.

Em março passado, parisienses aprovaram um referendo para fechar mais 500 ruas (de cinco a oito por bairro) para o tráfego de carros, priorizando pedestres e áreas verdes. O referendo eliminará mais 10 mil vagas de estacionamento e, onde não for possível plantar árvores, novas torres de resfriamento serão instaladas. “Os cidadãos são os principais atores. Se você quer ter os benefícios, você tem que envolvê-los nas suas decisões”, diz Hidalgo.

Houve ainda expansão maçiça de ciclovias e despoluição do Rio Sena, que neste verão, pela primeira vez desde 1923, foi aberto para os banhistas. E como parte de um esforço para reduzir o consumo de energia, Paris está investindo na reforma de mais de 5 mil moradias sociais e de outros 29 mil imóveis em regime de copropriedade.

Oslo
Lançado em 2020, o projeto Fossil Free Trucks (Caminhões Livres de Combustíveis Fósseis) pretende acelerar a transição de veículos pesados, grandes emissores de carbono, para veículos com emissão zero. Na capital da Noruega, um conjunto de políticas ampara a iniciativa, a começar por licitações que exigem transportes com emissão zero em projetos municipais. Os veículos devem ser elétricos, ou a biogás, que é produzido a partir do esgoto da cidade.

Segundo a prefeitura, toda a água residual será utilizada para a produção de biogás e recuperação de energia. Nas duas estações de tratamento da cidade, foram produzidos, em 2024, cerca de 14 milhões de metros cúbicos normais (Nm³) de biogás, que abastece, por exemplo, ônibus e caminhões de coleta de lixo.

Como forma de incentivo à transição energética, também foi construído, com recursos de um fundo para clima e energia, carregadores rápidos dedicados à recarga elétrica de veículos pesados. Outra medida foi a isenção de pedágio, por cinco anos, para caminhões de emissão zero. “É uma forma de reduzir o custo operacional de um veículo, já que o pedágio representa um custo considerável para os proprietários de caminhões.”

Hoje 16% da frota de caminhões pesados é de emissão zero (biogás ou elétrico). Entre os novos, vendidos em 2025, 23% são a biogás, 13% são elétricos e 64% são a diesel fóssil. Segundo a prefeitura, estes números indicam que as políticas municipais estão funcionando, mas a transição precisa ocorrer de forma mais rápida para que Oslo atinja suas metas de redução de emissões. Em 2026, a cidade preparará o mercado da construção civil para as futuras exigências de máquinas elétricas e a biogás

Quezon City, Filipinas
Sete dos dez rios mais poluídos por plástico no mundo estão nas Filipinas, segundo estudo publicado na Science Advances. Parte disso se deve à cultura local de consumo de produtos em pequenas quantidades, a um preço muito mais baixo, conhecida como “economia de sachês”. Neste contexto, agravado na pandemia de covid-19 com o aumento de resíduos de uso único, a prefeitura de Quezon City lançou, em 2021, o programa Trash to Cashback, que oferece recompensa por itens recicláveis.

A cidade estabeleceu 10 postos permanentes, além de quiosques temporários em bairros e escolas, em que os moradores trocam recicláveis limpos, como papel, papelão, metais, garrafas PET, embalagens plásticas e vidro, por Pontos Ambientais (EPs), que podem ser usados para pagar contas de luz, água e internet e serviços de entrega, ou trocados por mantimentos no Trash to Cashback Mart e em lojas parceiras.

Os EPs podem ser creditados numa conta digital ou, se o morador preferir, ele pode se cadastrar num dos postos físicos do programa e receber uma espécie de cartão de débito de Pontos Ambientais.

A prefeitura de Quezon City tem parcerias diversas: com empresas de tecnologia, que cuidam da logística e triagem dos recicláveis, das contas digitais e do pagamento de contas, além de empresas que compram determinados materiais recicláveis ou que abrigam alguns postos de troca.

Dados da Bloomberg indicam que, até junho de 2025, o Trash to Cashback havia desviado mais de 639,5 toneladas de resíduos dos aterros, ajudando famílias a suprir necessidades básicas. O programa já foi reconhecido por outras organizações internacionais, destacando-se como prática replicável em nações do Sudeste Asiático.

[Fonte Original]

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