A economia brasileira cresce mais rápido que o esperado e as ações estão baratas, diz o estrategista do Morgan Stanley Nikolaj Lippmann. Só não espere que isso se traduza em uma alta da bolsa, ele alertou.
O crescimento robusto está sendo impulsionado pelo aumento dos gastos fiscais, o que alimenta a inflação e pressiona o banco central a aumentar as taxas de juros, disse ele em entrevista.
“O crescimento econômico é uma má notícia para as ações brasileiras porque sabemos que o mecanismo de crescimento é todo gerado por meio de dívida adicional”, disse Lippmann.
Quanto maior a proporção de dívida em relação ao produto interno bruto, “mais oxigênio você suga do espaço para investimentos em risco”.
O déficit orçamentário nominal do Brasil foi de impressionantes 9,8% do PIB nos 12 meses até agosto, elevando a dívida bruta para 78,5% do PIB, acima dos 71,7% no final de 2022. Esse salto ocorreu mesmo com a economia expandindo 3,3% no segundo trimestre em relação ao ano anterior, superando rivais regionais como Colômbia, Chile, Argentina e México. Em setembro, o Banco Central aumentou previsão de crescimento para 2024 de 2,3% para 3,2%.
A perspectiva fiscal desafiadora e a expectativa de taxas mais altas por mais tempo pesam sobre as ações, que estão ficando para trás da maioria dos principais pares, à medida que os investidores são atraídos para os retornos de dois dígitos da renda fixa. Os mercados precificam uma Selic de 13,25% até julho do ano que vem, acima dos atuais 10,75%.
Enquanto isso, investidores estrangeiros retiraram bilhões de dólares de ações locais neste ano. Setembro viu R$ 1,6 bilhão em saídas, enquanto outubro já registrou quase R$ 240 milhões em retiradas. Até agora neste ano, investidores estrangeiros retiraram mais de US$ 5,8 bilhões do mercado de ações do país, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
Embora a relação preço/lucro das ações locais tenha aumentado nos últimos dois anos e esteja atualmente em 9,86x, ainda está muito abaixo dos níveis pré-pandemia, que normalmente ultrapassavam 15x.
Quaisquer ganhos em ações serão limitados até que o BC comece a sinalizar um ciclo de flexibilização à frente, disse Lippmann. O governo precisa de uma estrutura para gerenciar a perspectiva fiscal, ao mesmo tempo em que se move em direção a algum nível de sustentabilidade quando se trata de gastos, ele acrescentou.
Em um relatório de setembro, o estrategista observou que continua overweight em Brasil, com alta exposição a listagens estrangeiras como Nubank, enquanto permanece “leve” em ações locais.
“Não acho que o navio tenha partido completamente, mas isso requer que o Brasil jogue junto com o mundo” e que os diretores do BC reduzam os juros, disse Lippmann. “E isso só acontece com responsabilidade fiscal.”