Homenagens estavam previstas para sábado, e o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, realizou uma visita ao local do ataque na manhã deste sábado. O incidente ocorreu enquanto muitos alemães celebravam o início das festividades natalinas, após um ano marcado por notícias desanimadoras sobre a desaceleração da economia e a queda do governo alemão.
Na manhã de sábado, autoridades informaram que mais duas pessoas haviam morrido em decorrência de ferimentos. Uma quinta vítima foi confirmada no início da tarde deste sábado (horário local). De acordo com o jornal Bild, há ainda outros 205 feridos. Destes, mais de 40 estão gravemente feridos.
Enquanto a Alemanha se recuperava do ataque chocante — que ocorreu oito anos depois de um ataque jihadista em um mercado de Natal em Berlim que matou 13 pessoas —, mais detalhes surgiram sobre o saudita preso. Nomeado pela mídia alemã como Taleb A., ele era um médico que vivia na Alemanha desde 2006, tinha autorização de residência permanente, e trabalhava em uma clínica perto de Magdeburg.
O saudita suspeito deu, há alguns dias, uma entrevista a um blog americano anti-islã. Nela, o homem acusou a Alemanha de promover uma “operação secreta” para “perseguir” ex-muçulmanos sauditas e “destruir suas vidas”, enquanto concedia asilo a sírios jihadistas. Na entrevista e nas redes sociais, o suspeito expressou visões fortemente anti-islâmicas, ecoando a retórica da extrema direita.
As autoridades acreditam que o ataque foi deliberado, mas que o motorista agiu sozinho.
Um vídeo de vigilância do ataque mostrou um BMW preto dirigindo em alta velocidade no meio de uma multidão, atropelando e espalhando corpos entre as barracas que vendiam lanches, artesanatos e o tradicional vinho quente. A polícia disse que o veículo percorreu “pelo menos 400 metros pelo mercado de Natal”, deixando para trás destruição, destroços e vidros quebrados na praça central da prefeitura da cidade.
A tristeza e a raiva provocadas pelo último ataque, no qual uma criança foi morta, inflamaram acalorado debate sobre imigração e segurança enquanto a Alemanha se encaminha para as eleições antecipadas, em 23 de fevereiro.
A líder do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), Alice Weidel, que se concentrou em ataques jihadistas em sua campanha contra imigrantes, escreveu no X: “Quando essa loucura vai acabar?” O líder da oposição conservadora alemã, Friedrich Merz, que está à frente nas pesquisas de opinião pré-eleitorais, prometeu em sua campanha mostrar “tolerância zero” ao crime e “impedir a migração ilegal”.
— O que aconteceu hoje afeta muitas pessoas, nos afeta muito — disse à AFP Fael Kelion, um camaronês de 27 anos que vive na cidade. — Acho que como (o suspeito) é estrangeiro, a população ficará menos acolhedora.
O engenheiro alemão Michael Raarig, de 67 anos, concorda:
— Estou triste, estou chocado. Eu nunca teria acreditado que isso pudesse acontecer aqui, em uma cidade provinciana da Alemanha Oriental — disse ele, que acredita que o ataque “vai favorecer a AfD”, que tem seu maior apoio na antiga Alemanha Oriental comunista.
A ministra do Interior, Nancy Faeser, pediu recentemente vigilância nos mercados de Natal, embora tenha dito que as autoridades não receberam nenhuma ameaça específica. O serviço de segurança nacional, o Escritório para a Proteção da Constituição, alertou que considera os mercados de Natal um “alvo ideologicamente adequado para pessoas motivadas pelo islamismo”.
A Alemanha tem testemunhado recentemente uma série de supostos ataques islâmicos com facas e outros tipos de violência que inflamaram a opinião pública. Três pessoas foram mortas e oito ficaram feridas em uma onda de esfaqueamentos em um festival de rua na cidade ocidental de Solingen, em agosto. A polícia prendeu um suspeito sírio pelo ataque que foi reivindicado pelo Estado Islâmico. Em junho, um policial foi morto em um ataque com faca em Mannheim. Um cidadão afegão foi detido.
O governo alemão impôs neste ano novos controles de fronteira com vizinhos europeus e prometeu intensificar as deportações de requerentes de asilo rejeitados.