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quinta-feira, novembro 13, 2025

Na COP30, deslocados pela mudança climática exigem medidas de adaptação

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As mudanças climáticas já estão moldando como e para onde as pessoas se deslocam. Enchentes, calor extremo, secas e tempestades obrigam milhões a abandonarem suas casas, todos os anos. Na maior parte dos casos, eles se tornam deslocados internos, ou seja, dentro de seus próprios países.

Porém, a médio prazo, nações inteiras podem se tornar desertas ou serem engolidas pelo aumento do nível do mar. Esta é apenas uma das consequências da crise climática.

Um participante da Conferência das Nações Unidas sobre o Clima em Belém expressa sua opinião sobre a importância da ciência no debate climático

Mobilidade climática como tema das negociações

Para a Organização Internacional para Migrações, OIM, este é um tema que deve ser tratado nas negociações da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, COP30, sobre indicadores de adaptação.

A ONU News conversou com a vice-diretora-geral da agência, Ugochi Daniels, que defendeu que a agenda de adaptação deve focar em reduzir o risco de deslocamentos devido ao clima e proteger as pessoas que se deslocam, viabilizando opções regulares e seguras.

Ela enfatizou que diante de um desastre natural, “pessoas e comunidades que escolhem ficar devem estar seguras e aquelas que decidem se deslocar devem ter a opção de fazer isso com dignidade”.

A OIM atua em 80 países com projetos de mobilidade climática, onde o protagonismo é dado para soluções locais, lideradas pelas pessoas impactadas.

Ugochi Daniels espera que a COP30 sirva como “ponto de virada para colocar a mobilidade humana como uma área chave da ação climática”, especialmente nos planos nacionais de adaptação e no financiamento para aqueles que sofrem perdas e danos por causa de desastres.

Marina Silva, ministra de Estado do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do Brasil, com Robert Montinard, refugiado haitiano no Brasil, e Mekebib Tadesse, da delegação de refugiados do Acnur

ONU News/Felipe de Carvalho

Marina Silva, ministra de Estado do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do Brasil, com Robert Montinard, refugiado haitiano no Brasil, e Mekebib Tadesse, da delegação de refugiados do Acnur

“10 segundos que mudaram minha vida para sempre”

Falando da COP, o haitiano Robert Montinard descreveu essa realidade de perto. O terremoto que arrasou o Haiti em 2010, durou apenas 10 segundos, mas mudou para sempre a vida dele. Com seu país e seus sonhos completamente destruídos,  ele partiu para o Brasil como refugiado, onde fundou a Associação Mawon, para apoiar o acolhimento de outras pessoas com histórias semelhantes. Em Belém, Robert afirma que a voz dos refugiados deve ser ouvida.

“A gente quer fazer parte da solução. A gente quer que os migrantes e refugiados sejam ouvidos. As pessoas que foram afetadas, as pessoas deslocadas pelas consequências das mudanças climáticas tem as soluções. Os refugiados, as comunidades indígenas, os negros, as mulheres. Temos aqui uma carta de propostas que traz todas as necessidades, que transforma as dores dessas pessoas em propostas”.

Nesta quarta-feira, ele entregou uma carta de propostas para a primeira-dama do Brasil, Rosângela Janja da Silva, e para a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. O texto propõe medidas como criação de conselhos municipais de clima, combate ao racismo ambiental e formação de brigadas comunitárias para lidar com desastres naturais.

Segundo o haitiano, seus país sofre uma “injustiça climática”, enfatizando que muitos eventos naturais extremos que assolam o país também atingem a Flórida, nos Estados Unidos. A diferença é que no estado americano, a reconstrução acontece rapidamente, enquanto no Haiti, prédios destruídos desde o terremoto em 2010 ainda estão em ruínas.

Crise climática gera ciclo de violência na Etiópia

Para Makebib Tadesse, a história de Robert se assemelha a de seu país de origem: a Etiópia, onde a crise climática está impulsionando conflitos armados.

Tadesse contou que as disputas por terras na Etiópia se intensificam na medida em que as mudanças climáticas tornam alimentos e outros recursos essenciais cada vez mais escassos.

Ele explicou que isso cria um “ciclo contínuo de violência e deslocamento”, inclusive na região norte do país, onde nasceu. Para o etíope, a mudança climática está causando mais impactos na sociedade do que a guerra civil de 1974 a 1991 e está forçando muitas pessoas a sair da nação africana.

Robert e Makebib fazem parte da delegação do Alto Comissariado da ONU para Refugiados, Acnur, na COP30, juntamente com a indígena venezuelana Gardenia Warao.

“Abertura do Brasil para refugiados deve ser celebrada”

O esforço para dar visibilidade à luta dos refugiados na COP30 também conta com o apoio do ator mexicano Alfonso Herrera, embaixador da Boa Vontade do Acnur na América Latina.

Em conversa com a ONU News ele disse que “as vozes das pessoas refugiadas têm sido caladas e precisam ser escutadas”.

O ator já viajou para diversos países para conhecer de perto a realidade de deslocados internos e refugiados, muitos deles por efeito das mudanças climáticas.

Em visitas a países como México, Venezuela, Honduras e El Salvador, Herrera pôde conferir o trabalho do Acnur com educação e assistência jurídica para refugiados, garantindo um “futuro com mais esperança”.

O ator acredita que é preciso celebrar a abertura que o “Brasil tem para receber refugiados”, tendo em conta que muitos outros países adotam a atitude “completamente oposta”.

*Felipe de Carvalho é enviado especial da ONU News à COP30, no Brasil.

[Fonte Original]

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