A Casa do Seguro, espaço da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) na COP30, realizou nesta quarta-feira (12) o terceiro dia de painéis sobre os desafios climáticos. Pela manhã, especialistas discutiram o financiamento da transição energética, o papel das cidades na adaptação às catástrofes e como as novas tecnologias podem fortalecer o setor de seguros.
À tarde, o espaço recebeu a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) e a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) para conduzir o Fórum de Finanças Sustentáveis, que destacou as contribuições do setor para uma economia de baixo carbono.
A iniciativa conta com o apoio de Allianz, AXA, BB Seguros, Bradesco Seguros, Caixa Seguridade, MAPFRE, Marsh McLennan, Porto, Prudential e Tokio Marine.
Confira como foi o terceiro dia de evento:
Painel 1 – Cidades resilientes: planejamento urbano para um clima imprevisível
Em 1960, dois terços da população mundial viviam no campo. Hoje, 57% — cerca de 4,6 bilhões de pessoas — moram em cidades. No Brasil, o percentual é ainda maior: 87%. É, portanto, nos centros urbanos que se concentram alguns dos maiores desafios ligados às mudanças climáticas, destacou Eduard Folch Rue, CEO da Allianz Brasil, no primeiro painel do dia.
“As cidades são mais quentes, especialmente quando não têm áreas verdes. Também concentram as pessoas, de forma que o impacto dos fenômenos naturais se torna ainda maior. Por isso, precisamos nos mover na direção de construir cidades mais sustentáveis”, afirmou.
Segundo Folch Rue, o setor segurador precisa se mover para uma nova direção: “Não apenas cobrir danos, mas apoiar a prevenção e gerar e compartilhar dados e tecnologias para apoiar as áreas de maior risco”.
Seguros para cidades resilientes
Durante o painel, Lena Fuldauer, head de Resiliência e Desenvolvimento de Negócios da Allianz Risk Consulting, destacou que as seguradoras têm capacidade de mapear riscos e apoiar ações preventivas — mas a integração com outros setores é essencial.
“As estatísticas e estimativas do setor podem subsidiar a produção acadêmica e o desenho de políticas públicas nas metrópoles. Também precisamos do apoio das empresas”, afirmou.
Fabio Ohara Morita, diretor executivo de Auto, Massificados e Vida da Allianz Brasil, acrescentou que o setor tem contribuído com a criação de novos produtos, como seguros para alagamentos residenciais e para a proteção de placas solares. “Considerando que o home office ajuda a reduzir emissões, ampliamos também a proteção para equipamentos eletrônicos, como notebooks”, observou.
Infraestrutura que gera retorno
“A infraestrutura resiliente é um dos investimentos mais inteligentes que podemos fazer. Ela protege as pessoas, fortalece a economia e permite uma recuperação mais rápida após eventos climáticos extremos.” A análise é de David Paul White, diretor de Comunicação e Advocacy da Coalition for Disaster Resilient Infrastructure (CDRI), e se baseia em dados concretos.
Segundo White, 80% dos impactos dos incidentes climáticos recaem sobre a infraestrutura. “À medida que as cidades crescem e abrigam mais pessoas, novos edifícios e equipamentos urbanos precisarão ser construídos. Se forem projetados para suportar o novo cenário global, eles se pagam — e com sobra: para cada dólar investido em infraestrutura resiliente, o retorno pode chegar a até 12 dólares.”
Painel 2 – Mudanças climáticas e o novo paradigma dos seguros
Momentos de grandes mudanças exigem novas abordagens — e o setor de seguros tem avançado na revisão de seu paradigma de atuação. “O futuro é mais difícil e menos previsível; por isso, precisamos usar novas tecnologias para compreender melhor as consequências desse cenário”, avaliou Eduard Folch Rue, CEO da Allianz Brasil, no segundo painel da manhã.
Gabrielle Durisch, CSO da Allianz Commercial, reforçou a necessidade de adaptação. “Os principais pontos de atenção para o setor segurador mudam rapidamente. Os riscos climáticos crescem, a taxa de cobertura ainda é baixa e novos requerimentos regulatórios estão em andamento. Contribuímos com soluções de baixo carbono e outras iniciativas sustentáveis, atuando de forma consultiva e estimulando parcerias público-privadas”, afirmou.
Tecnologia e seguro sustentável
Com o apoio de ferramentas tecnológicas, as seguradoras podem impulsionar setores estratégicos da economia, destacou Mauricio Masferrer dos Santos, diretor-executivo de Corporate da Allianz Brasil.
“O agronegócio representa cerca de um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) do país, mas em 2024 registrou R$ 6,7 bilhões em prejuízos causados por eventos climáticos”, exemplificou. “Apoiamos o setor com o uso de satélites, sensores e dados climáticos para prever e reagir a situações extremas.”
Butch Bacani, head de Seguros do United Nations Environment Programme (UNEP), acrescentou que o setor pode investir em ações de descarbonização. “A natureza é parte essencial da redução de riscos. As florestas são poderosos reservatórios de carbono”, afirmou.
Sessão de abertura – União de forças pelo financiamento da transição
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Quando a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), a Anbima e a Febraban se unem, o financiamento da transição climática ganha escala. Essa foi a mensagem central do Fórum de Finanças Sustentáveis na COP30.
“Boa parte das discussões na COP certamente trata de financiamento. O seguro é essencial nesse contexto, porque a correta alocação dos recursos será decisiva para alcançarmos uma sociedade mais sustentável”, afirmou Dyogo Oliveira, presidente da CNseg. “Por isso, construímos a Casa do Seguro, que não é apenas um espaço físico, mas uma agenda. Queremos dialogar com cada elo da sociedade para encontrar soluções conjuntas. A resposta é híbrida e combina instrumentos públicos e privados.”
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Sustentabilidade em ação
Carlos José da Costa André, presidente da Anbima, destacou que a sustentabilidade faz parte da rotina da entidade há uma década. “Nossas iniciativas estão baseadas em três pilares: informação e dados; boas práticas; e educação para os profissionais do setor”, afirmou.
Já Luiz Carlos Trabuco, presidente do Conselho Diretor da Febraban, ressaltou que o Brasil tem avançado em pautas sustentáveis, como energia renovável, biocombustíveis e aumento da produtividade no agronegócio. “O setor bancário impulsiona iniciativas de impacto real em sustentabilidade. Dessa forma, o Brasil se posiciona para liderar uma nova geração de políticas que unem crescimento econômico, preservação ambiental e inclusão.”
Painel – Plano de Transformação Ecológica: contribuições do setor financeiro
“Nós nos preparamos para esta COP30 com uma visão clara sobre a oportunidade de o Brasil assumir um papel de liderança global”, afirmou a embaixadora Tatiana Rosito, secretária de Relações Internacionais do Ministério da Fazenda, em sua palestra na Casa do Seguro.
Segundo ela, o Plano de Transformação Ecológica representa uma inflexão estratégica na transição para uma economia de baixo carbono, inclusiva e regenerativa. “Queremos fazer o que está no discurso: criar mecanismos, padronizar normas e facilitar o acesso a ações essenciais para o país, como a recuperação de terras degradadas e o desenvolvimento do combustível de aviação sustentável”, destacou.
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Rosito também citou o recém-lançado Fundo de Florestas Tropicais para Sempre, que propõe um novo modelo de financiamento climático. “Convidamos os países a construir uma agenda pela preservação”, concluiu.
Mutirão pela transição climática
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O primeiro painel da tarde apresentou iniciativas concretas que mostram como o setor financeiro já contribui para acelerar a transição climática. Dan Ioschpe, campeão de alto nível da COP30, destacou a proposta de implementar um mutirão para coordenar e potencializar ações de impacto.
“Não temos condições de promover as mudanças necessárias, na velocidade que o momento exige, sem adotar o espírito do mutirão, que reúne todos os setores da sociedade para contribuir de forma concreta, mobilizando os agentes do setor financeiro”, afirmou.
Ioschpe explicou ao moderador Cacá Takahashi, coordenador da Rede Anbima de Sustentabilidade, que a mobilização já está em andamento. “Estamos no início de uma jornada de engajamento, iniciada em julho, e que começa a mostrar resultados nesta COP30. O mutirão é promissor, é assim que enfrentamos os problemas da vida real em qualquer organização”, completou.
Finanças globais pela transição
Denise Pavarina, conselheira consultiva do capítulo brasileiro da Glasgow Financial Alliance for Net Zero (GFANZ), destacou que a coordenação global do setor financeiro rumo à descarbonização ainda está em estágio inicial. “Temos lacunas, mas o momento é promissor e há muitas iniciativas em fase embrionária”, afirmou. Segundo ela, avanços na taxonomia sustentável — ou seja, nas definições claras sobre o que caracteriza um investimento verde — são essenciais para dar escala à transição. “Com critérios mais precisos, conseguimos comparar e avançar mais rápido.”
Remco Fisher, climate lead da Iniciativa Financeira do Programa da ONU para o Meio Ambiente (UNEP FI), reforçou: “Precisamos saltar dos atuais US$ 200 bilhões para US$ 1,3 trilhão em financiamento climático até 2035. É um desafio enorme”.
Investimentos com impacto climático
Conduzido por Amaury Oliva, diretor-executivo de Sustentabilidade da Febraban, o segundo painel da tarde destacou a importância de direcionar corretamente os investimentos climáticos.
“Tão importante quanto ampliar o volume de investimentos é diversificar o acesso, levando recursos também para regiões do mundo onde eles ainda não chegam com a mesma intensidade”, afirmou Tamsin Ballard, diretora de iniciativas para investidores dos Princípios para o Investimento Responsável da ONU (PRI).
Já Butch Bacani, head de Seguros do United Nations Environment Programme (UNEP), ressaltou: “Quando os investimentos contam com o suporte do setor segurador, tornam-se mais eficientes e bem direcionados. E o seguro pode ir além, apoiando ações que gerem impacto social positivo a partir da resiliência ambiental”.