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domingo, novembro 2, 2025

‘Semeadura de nuvens’: técnica fracassa em Nova Délhi e especialistas debatem soluções para a poluição na capital indiana; entenda

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Os esforços da Índia para combater a poluição em Nova Délhi com a “semeadura de nuvens” parecem ter fracassado, enquanto cientistas e ativistas questionam a eficácia dessa técnica de modificação do clima.

A semeadura de nuvens consiste em pulverizar partículas, como iodeto de prata e sal, em nuvens a partir de um avião para provocar chuva, com a esperança de que ela lave os poluentes do ar.

O teste em Délhi, apoiado pelo Instituto Indiano de Tecnologia (IIT) Kanpur, começou na semana passada.

Mas as autoridades informaram que as primeiras tentativas resultaram em pouca chuva devido à escassa cobertura de nuvens.

“Isso nunca vai funcionar, é uma ilusão”, afirma Bhavreen Kandhari, ativista ambiental de Nova Délhi. “Só quando limparmos as fontes da poluição poderemos controlá-la.”

O governo investiu mais de US$ 354 mil nos testes, segundo a mídia local.

Todo inverno, uma espessa névoa tóxica sufoca os 30 milhões de habitantes da capital indiana. O ar frio retém as emissões das queimadas agrícolas, das fábricas e dos veículos.

Apesar de medidas como restrições ao tráfego, torres de absorção de smog e caminhões que pulverizam água, a qualidade do ar em Nova Délhi continua entre as piores do mundo para uma capital.

Um dia após o último teste, o nível de partículas PM2.5 — causadoras de câncer — chegou a 323, mais de 20 vezes acima do limite diário estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A tendência, segundo especialistas, é de piora com a chegada do frio.

Um estudo publicado no ano passado pela The Lancet Planetary Health aponta que 3,8 milhões de mortes entre 2009 e 2019 na Índia estão relacionadas à poluição.

Também há dúvidas sobre o impacto a longo prazo dos produtos químicos utilizados.

Segundo a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), alguns estudos “limitados” sugerem que o iodeto de prata não representa risco ambiental ou à saúde, mas “não se conhece” o impacto de seu uso extensivo.

De acordo com ambientalistas, mesmo que a semeadura de nuvens gerasse chuva, os benefícios seriam mínimos.

O cientista climático Daniele Visioni, da Universidade Cornell, afirma que a eficiência da técnica em condições de alta poluição é incerta.

“Ela não pode criar chuva quando não há umidade no ar, apenas força parte da água a se condensar em um lugar em vez de outro”, explica à AFP. “Apenas uma coisa pode reduzir a poluição de forma significativa: parar de queimar combustíveis fósseis”, acrescenta.

Virendra Sachdeva, representante em Délhi do partido governante Bharatiya Janata (BJP), considera prematuro classificar a semeadura de nuvens como um “fracasso científico” e lembra que o resultado nem sempre é alcançado na primeira tentativa.

Mesmo assim, dois cientistas do IIT Délhi chamaram o plano de uma “artimanha”.

“É um exemplo de mau uso da ciência e de falta de ética”, escreveram Shahzad Gani e Krishna Achutarao no jornal The Hindu.

Mohan George, do Centro para a Ciência e o Meio Ambiente, em Délhi, disse à AFP que, mesmo se a chuva for provocada artificialmente, “os níveis de poluição voltarão assim que a chuva terminar”.

A semeadura de nuvens, desenvolvida nos anos 1940, tem sido usada em vários países para induzir chuva, mas com resultados muito variados. A China, por exemplo, recorreu à técnica durante os Jogos Olímpicos de Pequim de 2008 para tentar controlar o clima.

Gani e Achutarao afirmam que as causas da poluição em Délhi são conhecidas, assim como as soluções: uso de combustíveis limpos, melhor gestão de resíduos e aplicação rigorosa das regras.

“Em vez de reforçar essas prioridades, partes do ecossistema científico — como pesquisadores, assessores e instituições — dão credibilidade a um espetáculo caro que fará pouco para enfrentar as causas da crise”, destacaram.

[Fonte Original]

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