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quinta-feira, setembro 19, 2024

Fumaça nos céus: devo me exercitar ou não?

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Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.

Com a má qualidade do ar em diversas cidades do Brasil nas últimas semanas, uma questão surge: devo me exercitar ao ar livre ou pode ser perigoso à saúde? A ciência pode nos ajudar a entender esse paradoxo: fazer exercícios faz bem, mas em ambientes poluídos faz mal? 

O contraste entre se exercitar (saúde), mas em ambiente poluído (riscos) tem interessado a ciência
O contraste entre se exercitar (saúde), mas em ambiente poluído (riscos) tem interessado a ciência.

O corpo durante o exercício físico

Durante o esforço do exercício físico, nosso corpo sofre alterações fisiológicas que podem exacerbar os efeitos dos poluentes do ar sobre nossa saúde. Ao correr, por exemplo, temos aumento da ventilação e da velocidade do fluxo de ar inalado, bem como a passagem do ar pela boca, ao invés do nariz, o qual possui mecanismos de filtragem do ar.

Tais mudanças têm como consequência o transporte do ar poluído para a parte mais profunda do nosso sistema respiratório, o que se torna mais perigoso.

Teoricamente, exercícios em alta intensidade podem exacerbar ainda mais os riscos, pois intensifica as alterações citadas. A questão a ser respondida pela ciência é semelhante à quando pensamos sobre se para pegar menos chuva é melhor caminhar ou correr: quando a qualidade do ar está ruim, é melhor fazer atividade física leve e longa ficando mais exposto ao ambiente poluído ou atividade física mais intensa e ficar pouco tempo exposto?

Por conta desse cenário, atenção é dada ao possível contraste que pode existir entre fazer exercícios – algo positivo para saúde, mas em ambiente poluído – algo que pode ser nocivo à saúde.

Apesar de estudos demonstrarem que permanecemos a maioria do dia (cerca de 90 a 95%) em ambientes fechados – como em casa, escritório, escolas e universidades, hospitais e até mesmo quando vamos nos exercitar em academias, a qualidade do ar indoor é afetada pela poluição do ar externo. Ainda, o momento do exercício é o período em que alguns optam por se movimentar ao ar livre, se expondo à poluição do ar.

Entenda os poluentes

A poluição do ar consiste em uma mistura complexa de partículas e gases. Dentre os poluentes mais investigados estão o material particulado (PM), ozônio (O₃), monóxido de carbono (CO), óxidos de nitrogênio (NOx) e óxidos de enxofre (SOx). Cada um deles tem seus potenciais efeitos negativos sobre à saúde humana, mas o alvo de atenção no exercício físico é o material particulado que geralmente é dividido pelo seu tamanho: 2,5 ou 10 µm (micrômetros). Quanto menor, maior é a capacidade de penetração no sistema respiratório e mais perigoso para nossa saúde.

Exercício na rua com ar poluído: benefícios ou riscos maiores?

Quando pesquisadores buscaram responder à questão se a poluição do ar pode negar os benefícios do ciclismo ou caminhada, encontraram que na imensa maioria dos casos os benefícios da atividade física superam em muito os riscos da poluição do ar, considerando a concentração média global de PM2,5 no ambiente urbano.

Somente em áreas com concentração de PM2,5 acima de 100 µg/m³, os riscos do exercício excederiam os benefícios, mas estima-se que somente após uma hora e meia de ciclismo por dia ou mais de 10 horas de caminhada por dia. Na época da publicação do estudo, em 2016, as cidades que tinham concentrações de poluentes como essa eram predominantemente na China e Índia, porém o Brasil registrou concentrações nesse nível semana passada, o que requer atenção. 

Poluição e exercícios físicos
Poluição e exercícios físicos.

Algumas cidades em São Paulo ultrapassaram esse nível de poluição. Apesar de 10 horas de caminhada/dia parecerem muito, uma hora e meia de ciclismo é uma atividade comum e que segundo a pesquisa, pode trazer riscos.

Em estudo recém-publicado que comparou a exposição à poluição do ar entre sete tipos de transporte, os usuários de carros, motos e ônibus foram mais expostos a poluentes, como CO e NO₂, do que usuários de transporte ativo (caminhada e corrida). 

Já quem caminhou ou correu, foi mais exposto às partículas ultrafinas, o que se deve provavelmente à proximidade das emissões pelos veículos. Outro estudo mostrou que apesar da maior exposição à poluição, pessoas que se deslocam ativamente ganham em média um ano de expectativa de vida, comparadas aos usuários de transporte motorizado.

Recomendações para seu treino

Ainda há um dilema ao aconselhar as pessoas sobre a prática de exercícios em relação à poluição do ar. Reconhece-se que a poluição do ar pode desencorajar as pessoas para a prática de atividades físicas, uma vez que a exposição aos poluentes está associada a aumento na pressão arterial, redução da função pulmonar e aumento de sintomas respiratórios, além de menor capacidade e desempenho no exercício. Portanto, alguns cuidados são recomendados:

  • Monitorar a condição do ar em que se deseja praticar exercícios, quando os dados forem disponíveis, para minimizar a exposição pessoal ao ar poluído;
  •  As principais plataformas são: o IQair e o Índice de Qualidade do Ar (AQI), plataformas de monitoramento gratuitas sobre as condições do ar em todo o mundo. O fato é que o Brasil é pobre em monitoramento da qualidade do ar, ou seja, na maior parte das cidades não sabemos sobre o ar que respiramos;
  • Se distanciar dos pontos críticos de poluição;
  • Quando possível, trocar o ambiente ao ar livre pelo indoor, como correr em uma esteira em ambiente fechado;
  • Quando a exposição ao ar poluído não pode ser evitada – como uma pessoa que usa a bicicleta para trabalhar, o uso de máscaras (N95, KN95, FFP₂) tem sido recomendado devido à capacidade de filtragem de partículas pequenas.

Parece que, geralmente, os benefícios do exercício superam os riscos de se exercitar em ambiente poluído, exceto quando a poluição é severa e dependente do tempo de exposição e intensidade do esforço praticado.

***
Fábio Dominski é doutor em Ciências do Movimento Humano e graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). É Professor universitário e pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE/UDESC). Faz divulgação científica nas redes sociais e em podcast disponível no Spotify. Autor do livro Exercício Físico e Ciência – Fatos e Mitos.



[Fonte Original]

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