Um artigo publicado quarta-feira (5) na revista Science Advances alerta para os impactos climáticos e ecológicos de uma possível colisão do asteroide Bennu com a Terra. Segundo a pesquisa, essa rocha espacial com 500 metros de diâmetro tem uma chance em 2.700 de atingir o planeta em setembro de 2182 – o que equivale a apenas 0,037%.
Se isso acontecer, as consequências podem ser devastadoras, desde um resfriamento global intenso até uma crise alimentar de grandes proporções.
Conduzido por pesquisadores da Universidade Nacional de Pusan, na Coreia do Sul, o estudo utilizou simulações climáticas avançadas para prever os efeitos de um impacto desse porte.
Impacto do asteroide provocaria perturbações climáticas e ecológicas na Terra
A principal descoberta indica que a colisão lançaria centenas de milhões de toneladas de poeira na atmosfera superior, reduzindo a luz solar e derrubando as temperaturas globais em até 4 °C. Além disso, a precipitação média cairia cerca de 15%, enquanto a camada de ozônio poderia perder até 32% de sua integridade, ampliando os riscos ambientais.
Essencial para a vida na Terra, a fotossíntese também seria gravemente afetada. A pesquisa sugere que a produção de biomassa em ecossistemas terrestres e marinhos poderia cair entre 20% e 30%, comprometendo colheitas e cadeias alimentares. “O inverno de impacto criaria condições extremamente desfavoráveis para o crescimento das plantas, levando a grandes perturbações na segurança alimentar”, explica Lan Dai, principal autor do estudo, em um comunicado.
As simulações foram feitas no supercomputador IBS Aleph e testaram diferentes cenários de impacto, variando entre 100 e 400 milhões de toneladas de poeira liberada na atmosfera. Em todos os casos, os efeitos climáticos foram severos e persistiram por pelo menos três anos após o evento.
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Esperança viria dos oceanos
No entanto, os pesquisadores observaram uma reação inesperada nos oceanos. Enquanto a recuperação das plantas terrestres seria lenta, o plâncton marinho poderia reagir de maneira diferente. Em regiões como o Oceano Antártico e o Pacífico tropical oriental, a poeira rica em ferro liberada pelo impacto poderia estimular o crescimento de diatomáceas, um tipo de alga que serve de base para a cadeia alimentar marinha.
Esse aumento na produtividade oceânica poderia atenuar, em parte, os efeitos da crise alimentar global. “O crescimento do fitoplâncton pode ser uma bênção para a biosfera, ajudando a reduzir a insegurança alimentar provocada pela queda da produtividade terrestre”, destaca Axel Timmermann, coautor do estudo.
Colisões de asteroides desse porte ocorrem, em média, a cada 150 mil anos, e eventos semelhantes podem ter influenciado a evolução humana no passado. Para entender melhor essas interações, a equipe planeja usar modelos computacionais que simulam o comportamento humano diante de catástrofes ambientais.
Esse estudo reforça a importância do monitoramento de asteroides potencialmente perigosos e do desenvolvimento de estratégias para amenizar seus impactos. Embora a colisão de Bennu esteja prevista para daqui a mais de um século (e tenha uma chance mínima de acontecer), compreender seus possíveis efeitos pode ser essencial para preparar a humanidade para futuros eventos desse tipo.