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sexta-feira, fevereiro 7, 2025

Afinal, quando os seres humanos começaram a comer carne?

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Os veganos e vegetarianos costumam defender a seguinte tese: a de que nós, seres humanos, não precisamos necessariamente da proteína vinda da carne para poder viver bem. Este tipo de alimento poderia ser substituído por outras fontes, vindas de vegetais.

Para muitos, isso pode levar a outras questões que remetem aos primórdios da nossa espécie. Será que, desde o surgimento dos primeiros homens e mulheres, foi necessário se alimentar de outros animais? Vejamos a resposta a seguir.

Quando começamos a comer carne?

Pesquisadores debatem quando os seres humanos começaram a consumir carne. (Fonte: Wikimedia Commons / Reprodução)

Para aqueles que são mais carnívoros, essa resposta pode doer um pouco. Mais creia: os estudiosos tendem a afirmar que nossos antepassados podem ter passado mais tempo comendo vegetais do que carne.

Recentemente, uma pesquisa reiterou essa tese. Ela consistiu na análise da composição química dos dentes fossilizados do Australopithecus africanus, que é um parente antigo dos humanos. A partir dela, constatou-se que os primeiros primatas bípedes tinham dietas que eram vegetarianas.

Segundo Tina Lüdecke, que é geoquímica do Instituto Max Planck de Química em Mainz, Alemanha, a dieta tem importância crucial na evolução humana. Uma mudança de uma dieta vegetariana para o consumo habitual de alimentos ricos em proteínas, como a carne, pode ter alterado as capacidades cognitivas dos humanos.

Para ela, isso tem a ver com algumas características desse tipo de comida. “Esses alimentos de alta qualidade nos fornecem muita energia, que precisamos para alimentar nossos enormes cérebros”, afirmou Lüdecke.

Entretanto, não se sabe dizer ao certo quando ocorreu essa mudança nos hábitos alimentares. Para entender melhor a dieta de nossos antepassados, Lüdecke e seus colegas perfuraram amostras dos dentes de 43 mamíferos fossilizados de aproximadamente 3,5 milhões de anos encontrados nas cavernas de Sterkfontein na África do Sul. A amostra incluía os dentes de sete indivíduos diferentes de A. africanus.

Eles encontraram, na matriz do esmalte dentário, pequenos pedaços de material orgânico com a presença de nitrogênio. Esse achado revelou mais sobre dietas antigas, já que a proporção de duas formas de nitrogênio está ligada à quantidade relativa de carne consumida na vida.

A partir dessa análise, os cientistas passaram a acreditar que os primeiros humanos podem ter tido uma dieta variável, mas não rica em carne de mamíferos. As descobertas podem ter implicações em como os pesquisadores entendem a influência do consumo de carne no surgimento de outras características humanas.

Ainda assim, Lüdecke observa que as descobertas não indicam que os humanos não exploravam eventualmente uma refeição de carne. Os resultados também não descartam que os primatas comessem muitos cupins, que é um alimento bastante enérgico. “Vemos que os macacos hoje em dia catam cupins, então por que nossos ancestrais não podiam fazer isso?”, comentou.

Precisamos realmente comer carne?

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Cientistas discutem até hoje a teoria de que precisamos ingerir mais carnes que vegetais. (Fonte: Getty Images)

Essas descobertas levantam novas hipóteses acerca das necessidades que teríamos (ou não) de ingerir carne. Há uma teoria bem conhecida, elaborada na década de 1950, que afirma, de alguma forma, que o consumo de carne nos tornou humanos. Ela surgiu a partir das ideias do paleoantropólogo Raymond Dart. Já nos anos 1990, os pesquisadores Leslie Aiello e Peter Wheeler levantaram outra hipótese de que alguns tecidos humanos tiveram que regredir conforme o cérebro humano evoluiu.

O fato é que o cérebro humano consome muita energia – cerca de um quinto da nossa energia total. Quando comparamos a carne a outros alimentos, como raízes, folhas e muitas outras partes de plantas, nota-se que ela tem uma densidade nutricional bastante alta com muitas proteínas e, acima de tudo, gorduras. Por isso, qualquer excedente energético poderia colaborar com o funcionamento do cérebro.

Essas ideias têm sido usadas, ao longo dos anos, para justificar o consumo de carne como uma necessidade natural da humanidade, enquanto o vegetarianismo não seria. Mas o fato é que especialistas de vários campos têm questionado essas afirmações.

Um dos argumentos em cima disso é que a evolução humana não é estática: o que era verdade para nossos ancestrais não é necessariamente verdade ainda hoje. Assim, as novas condições de vida teriam mudado nossos hábitos, o que também envolveria a disponibilidade, a composição e a preparação dos alimentos.

Hoje não precisamos passar um dia todo perseguindo animais. E o desenvolvimento de processos culinários também fez com que os nossos alimentos se tornassem mais fáceis de digerir, o que também fez com que os nutrientes ficassem mais acessíveis.

A própria teoria de que “a carne nos tornou humanos” tem sido questionada por vários paleoantropológicos. Uma equipe liderada pela pesquisadora Ana Navarrete, da Universidade de Zurique, não encontrou mais evidências no reino animal para a hipótese do “tecido caro”, que afirma que o maior gasto energético de vertebrados com cérebros maiores é equilibrado por uma diminuição correspondente na energia consumida por outros órgãos.

Os cientistas explicam: “essa ideia altamente intuitiva ganhou ampla aceitação na paleoantropologia e em muitos outros campos, e está alimentando discussões públicas sobre a dieta humana ideal. Ao contrário das previsões da hipótese do tecido caro, não encontramos correlações negativas entre o tamanho relativo do cérebro e o trato digestivo, outros órgãos caros ou sua soma combinada entre mamíferos, ou dentro de primatas não humanos”, escreveu o grupo em um artigo publicado no periódico Nature em 2011.

Em resumo: a tendência atualmente é de se pensar que é possível ter uma alimentação com uma boa quantidade de energia sem ingerir produtos de origem animal. Basta manter a organização e priorizar uma dieta rica em diferentes nutrientes.

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[Fonte Original]

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