Governo Trump está perfeito, “só tem a tarifa para dar uma estragadinha”, diz André Esteves

“Governo eficiente, que vai cortar custos do governo, impostos, desregular a economia, promover paz global, só tem a tarifa para dar uma estragadinha. Mas o resto está perfeito”, afirmou o executivo nesta quarta-feira em evento do banco em São Paulo.

Esteves afirmou que é contrário às preocupações em relação a possíveis consequências geopoliticas do novo governo americano, pela personalidade instável de Trump. “Eu acho que, quando o saloon tá muito bagunçado, quando entra alguém assim com uma estrela no peito, a coisa tende a se acalmar.”

Ele destacou a direção favorável aos negócios como positivas, mas comentou também as “ideias meio diferentes” do presidente dos Estados Unidos, como o resort na Faixa de Gaza: “Imagina, vamos passar férias aqui no Four Seasons Faixa de Gaza. Parece uma coisa um pouquinho diferente, para dizer o mínimo.”

A elevação de tarifas, continuou ele, está entre os erros econômicos de Trump. Para Esteves, é um retorno de cem anos nos Estados Unidos. “Se você olhar o início do século passado, os Estados Unidos não tinham imposto de renda, como a maioria das nações. E a receita do país vinha de tarifas. E tem gente que acha que esse é o modelo mais adequado para o desenvolvimento. Eu não concordo com isso. Eu acho que a gente retrocedeu a um passado que era pior do que agora.” Para ele, o livre comércio criou um ambiente “extremamente positivo” e promoveu “enorme desenvolvimento” para os Estados Unidos.

As restrições a imigrantes também foram alvo de críticas do banqueiro. “Claro que tem uma imigração ilegal, um excesso que tem que ser combatido. Por outro lado, é uma sociedade baseada na imigração, mais ou menos como o Brasil. A imigração só fez bem aos Estados Unidos.”

Esteves chamou a escolha de Elon Musk e a criação do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) de “uma coisa meio carnavalesca”, “tudo meio estranho”. Mas frisou que uma agenda de eficiência agressiva para o governo, tocada por pessoas do setor privado, é muito positiva.

“Se a gente implementar um negócio desse aqui no Brasil, não precisa de Elon Musk não, pode botar um cara mais normalzinho, com menos talento, vai fazer um tremendo estrago. Então assim, você olha e vê coisas muito especiais no governo, mas também tem erros.”

De acordo com Esteves, o mundo está vivendo a era de redução do multilateralismo. “Eu acho uma pena.” O Brasil, no entanto, está protegido da guerra comercial, conforme o banqueiro. “Guerra tarifária é uma coisa que afeta muito os exportadores de produtos industriais, que não é o nosso forte. Nós somos exportadores de commodities.”

Esteves ainda comentou que a turbulência nos mercados que levou a uma forte alta do dólar no fim de 2024 “teve um exagero no pessimismo, na dúvida sobre qual é o destino do Brasil.” Segundo ele, a crise, principalmente ao longo de dezembro, não encontrava fundamento na economia do país, mas foi gerada por um acúmulo de desconfianças da política fiscal brasileira.

A recuperação vista neste início de ano, porém, afirmou ele, não tem “a ver com os méritos do Brasil” e, sim, com um movimento mundial de ajuste, apesar do otimismo com o governo Donald Trump. Esteves deu como exemplo a alta das bolsas europeias e de Colômbia e Chile, Brasil.

“O que a gente está vendo agora é uma certa volta daquele excesso de dezembro, e como no Brasil teve também um excesso de pessimismo, a coisa também voltou um pouco. Agora, eu acho que a gente está mais ou menos chegando no final desse movimento aqui.”