Há algum tempo, explicamos o que é a Linha de Kármán, uma linha imaginária que define onde termina a atmosfera da Terra e começa o espaço; essa é uma informação essencial para agências e empresas espaciais. Mas também existem outras linhas imaginárias utilizadas na Terra para referência espacial, como a Linha de Wallace, que marca a divisão entre a fauna da Ásia e da Austrália.
Essa linha imaginária foi definida após pesquisadores e exploradores perceberem uma grande diferença na vida selvagem entre a Ásia e a Austrália, apesar da proximidade geográfica. Por exemplo, enquanto tigres e elefantes são encontrados mais facilmente na Ásia, a Austrália abriga principalmente marsupiais, como cangurus e coalas.
Um exemplo ainda mais claro dessa diferença pode ser observado na fauna das ilhas de Bali e Lombok. Em Bali, na Ásia, são encontradas diversas espécies de pássaros comuns na região. Contudo, a apenas 24 quilômetros de distância, em Lombok, já aparecem cacatuas, aves psitaciformes originárias da Australásia — essa região inclui Austrália, Nova Guiné e partes da Indonésia.
Apesar de estarem relativamente próximas, a Ásia e a Austrália evoluíram separadamente por milhões de anos. Durante a era da Pangeia, a Ásia fazia parte da Laurásia, enquanto a Austrália pertencia a Gondwana.
Após a separação dos supercontinentes, a Austrália permaneceu isolada por muito tempo, o que levou ao desenvolvimento de uma fauna distinta. Para marcar essa divisão biogeográfica, foi definida a Linha de Wallace.
A Linha de Wallace não apenas delimita a fauna dessas regiões, mas também ajuda a explicar a evolução das espécies e a grande diferença entre os animais da Austrália e da Ásia. Além disso, estudos indicam que essa fronteira está em uma das zonas geológicas mais complexas da Terra, o que a torna um tema importante para pesquisas até hoje.
“A Linha de Wallace é a fronteira entre as regiões faunísticas oriental e australiana, proposta pelo naturalista britânico Alfred Russel Wallace no século XIX. Ela se estende desde o Oceano Índico, passando pelo Estreito de Lombok (entre as ilhas de Bali e Lombok), seguindo ao norte pelo Estreito de Makassar (entre Bornéu e Celebes) e depois para o leste, ao sul de Mindanau, até o Mar das Filipinas”, a enciclopédia Britannica descreve.
O que é a Linha de Wallace?
A Linha de Wallace recebeu esse nome em homenagem ao geógrafo e naturalista inglês Alfred Russel Wallace, o primeiro a perceber as grandes diferenças entre os ecossistemas da Ásia e da Austrália.
A linha atravessa o Sudeste Asiático, passando entre as ilhas de Bornéu e Sulawesi e entre Bali e Lombok. Alguns cientistas acreditam que essa linha funciona como uma espécie de barreira invisível, resultado dos processos naturais que moldaram a biodiversidade da região.
Inclusive, Wallace e Charles Darwin chegaram independentemente à ideia da seleção natural como mecanismo da evolução das espécies. Em 1858, Wallace enviou um ensaio a Darwin, que reconheceu a semelhança com suas próprias descobertas.
Como resultado, os trabalhos de ambos foram apresentados juntos na Linnean Society of London. Pouco depois, Darwin publicou ‘A Origem das Espécies’, consolidando sua teoria. Hoje, a síntese moderna da evolução de Darwin, que combina a seleção natural com a genética, é a explicação mais aceita pelos cientistas.
Para estudar a região, Wallace realizou várias expedições e coletou dados sobre as espécies locais. Mas não foi apenas isso. O cientista percebeu que a profundidade do oceano influenciou diretamente na distribuição dos mamíferos, pois uma barreira natural submarina impediu a migração de animais entre a Ásia e a Austrália, mesmo quando o nível do mar estava mais baixo durante as eras glaciais.
Atualmente, a ciência entende a Linha de Wallace como um limite na distribuição de espécies, mas os pesquisadores já não a consideram tanto como uma fronteira real entre as regiões. Ela funciona como uma espécie de barreira invisível, que influenciou a evolução das espécies ao longo do tempo. Além disso, essa divisão também contribuiu para outros estudos sobre a distribuição de animais e plantas no planeta.
“Embora muitos zoogeógrafos já não considerem a Linha de Wallace uma fronteira regional, ela ainda representa um limite abrupto na distribuição de diversos grupos de animais. Muitas espécies de peixes, aves e mamíferos são abundantes de um lado da linha, mas estão pouco representadas ou completamente ausentes do outro lado”, a enciclopédia Britannica acrescenta.
A importância da Linha de Wallace
O que exatamente causou esse cenário? Cientistas sugerem que a Linha de Wallace é resultado da profundidade dos estreitos oceânicos da região, que impediram a migração de muitas espécies terrestres entre a Ásia e a Australásia.
Na última era glacial, há cerca de 18 mil anos, o nível do mar estava mais baixo, o que permitiu a conexão entre a Austrália, a Nova Guiné e a Tasmânia.
Da mesma forma, a Ásia continental estava ligada a várias ilhas do Sudeste Asiático. Contudo, os estreitos de Lombok e Makassar permaneceram profundos o bastante; foi exatamente isso que impediu a formação de pontes terrestres nessas regiões da Linha de Wallace.
O resultado causado pelos estreitos explicam por que algumas espécies da região compartilham ancestrais comuns, mas desenvolveram diferenças significativas ao longo do tempo, que resultou na separação entre a fauna da Ásia e da Australásia.
Como consequência desses estreitos, a fauna se desenvolveu de forma distinta: enquanto Bornéu abriga espécies asiáticas, como tigres, rinocerontes e macacos, Sulawesi possui uma mistura de espécies asiáticas e endêmicas, como o dragão de komodo, o búfalo-anão e o porco selvagem.
“Se você viajar para Bornéu, não verá nenhum mamífero marsupial, mas se for para a ilha vizinha de Sulawesi, verá. A Austrália, por outro lado, não possui mamíferos típicos da Ásia, como ursos, tigres ou rinocerontes”, disse o autor de um estudo sobre o tema e associado da Universidade Nacional da Austrlália, Dr. Alex Skeels.
Apesar de a Linha de Wallace ser amplamente aceita pela ciência, alguns especialistas defendem que ela precisa de ajustes para maior precisão geográfica. A ideia é que essa atualização poderia contribuir para novas descobertas sobre a fauna e a flora da região.
A evolução das espécies sempre gerou debates entre cientistas, e algumas questões continuam intrigantes. Quer saber mais? Entenda como um conflito de Darwin e Wallace na evolução de machos e fêmeas foi “resolvido” por IA. Até a próxima!