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sábado, fevereiro 22, 2025

‘A inteligência artificial consegue humanizar a relação do médico com o paciente’, diz Paulo Moll, CEO da Rede D’Or

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Aos 43 anos, Paulo Moll preside o maior grupo de hospitais privados do país, a Rede D’Or. Sob sua gestão a Rede se tornou uma das empresas de saúde mais sustentáveis do mundo e ampliou o investimento em inteligência artificial (IA), tanto no funcionamento das instituições, como no dia a dia do atendimento médico e laboratorial.

O caçula do médico e empresário Jorge Moll Filho, criador do conglomerado, não planejava trabalhar nos negócios do pai. Formado em economia, sonhava com a Bolsa de Valores, até fazer o primeiro estágio no Barra D´Or, no Rio, a convite do pai, no fim da década de 90.

CEO há cinco anos, inaugurou recentemente um novo conceito de hospital, o Vila Nova Star 2, em São Paulo, o primeiro com pronto-socorro privativo, onde não há fila de espera e os exames vão até o quarto do paciente durante a internação. São Paulo, inclusive, acaba de se tornar o estado com o maior número de hospitais do grupo, com 28 unidades, do total de 78 espalhadas por 13 estados brasileiros.

Em entrevista ao GLOBO, Moll fala como a IA está transformando a saúde, da carência de leitos hospitalares no Brasil e dos bastidores da movimentação médica provocada no mercado com a contratação de pesos-pesados na medicina.

Como a inteligência artificial está mudando a área da saúde?

Estamos só no início de uma grande transformação. Acredito que a grande revolução seja na área da assistência. A IA consegue humanizar e potencializar a atuação do médico, a sua relação com o paciente. Temos um projeto piloto que gosto muito, na área do atendimento. Nele, toda a consulta é gravada, sempre com a devida autorização do paciente. No final, a IA faz hipóteses de diagnósticos e sugestões de exames e a serem pedidos. O médico avalia o material, e o utiliza como apoio para dar seu veredicto. Isso faz com que o médico fique totalmente concentrado no paciente durante a consulta, sem ter que ficar anotando as informações ao longo do atendimento, voltado para um laptop. Esse olho no olho é fundamental.

E o impacto da IA no dia a dia dos hospitais?

Para citar alguns exemplos, temos mudanças importantes na identificação de patologias, que antes poderiam passar despercebidas. No refinamento dos exames de anatomia patológica, que agora conseguem detectar a presença mínima residual de células de câncer após uma terapia, contribuindo para saber se o tratamento está sendo eficaz ou se é necessário rever a estratégia. No setor administrativo tem sido essencial na redução de no-show (situação em que o paciente agenda uma consulta ou exame, mas não comparece e não desmarca previamente), que traz prejuízo para o hospital. A IA calcula essa possibilidade conforme a distância da casa do paciente e a especialidade.

Como o senhor avalia o déficit de leitos no país?

O Brasil tem muito para crescer em todas as regiões, com hospitais eficientes. Temos cerca de 2,3 leitos por mil habitantes, inferior à média global que é de 3,2. A Organização Mundial da Saúde estima que o ideal é entre 3 e 5 leitos. E a média de leitos por hospital no país é baixa também, 60. Nos EUA, a título de comparação, são 170. Hospitais menores em geral têm mais dificuldade de serem eficientes sem uma rede de apoio pela pouca diluição de custos para operar. Os hospitais estão cada vez mais caros. Estudo da Federação Brasileira de Hospitais com a Confederação Nacional de Saúde aponta o fechamento de 630 hospitais privados entre 2010 e 2020 no país. Para você ter uma ideia, nos primeiros hospitais que inauguramos, como o Barra D ´Or e o Copa D´Or, 80% do investimento era no imóvel, como a compra do terreno, a construção do prédio, 20% era para equipamentos médicos. Hoje, os equipamentos requerem 50%. Não ficou mais barato comprar terreno e construir. A tecnologia é que é cada vez mais intensiva.

A Rede D’Or está entre as 500 empresas do mundo mais sustentáveis pelo ranking da revista Time e é a única do setor de saúde entre as 5 instituições brasileiras da lista. O que tem sido feito na prática?

Somos signatários do pacto global da ONU desde 2021, com o compromisso de até 2050 neutralizar as emissões líquidas de carbono. Trata-se não só de uma medida sustentável, mas também econômica. O grande gasto de energia dos hospitais está ligado ao ar condicionado. Passamos a contratar energia limpa e, mais recentemente, fizemos a nossa autoprodução. A migração das nossas unidades para o uso de energia de fontes renováveis será concluída até o final de 2025. São plantas de energia solar que vão abastecer a rede. Como parte do pacto teremos também a redução de 36% das emissões relativas de gases de efeito estufa até 2030. Curiosamente há muito tempo não sou cobrado pelos investidores para ser sustentável, a sensação é que não se trata mais da pauta da vez. A cobrança vem muito mais nos corredores do hospital, da nossa equipe, principalmente os mais jovens.

Em 2019, a Rede D´Or mexeu com o mercado hospitalar de São Paulo com a inauguração do Vila Nova Star, quando chamou médicos renomados de outras instituições de ponta na capital, prática que continua até hoje. Como é o bastidor dessas movimentações?

Na inauguração da primeira torre do Vila Nova Star, se especulou muito sobre a forma como estávamos atraindo os médicos. A realidade é que eles foram atraídos por motivos que vão muito além do financeiro. Discutimos com cada um dos médicos das lideranças o que poderíamos fazer de melhor em relação à tecnologia, infraestrutura que eles teriam nas mãos, nas mais diversas especialidades. Vou citar o que foi feito na oncologia, uma de nossas vitrines, com a liderança do médico Paulo Hoff. Montamos uma infraestrutura única. Por exemplo, temos o único Cybernife do Brasil, um bisturi robótico virtual que ataca o tumor por meio da emissão de raios fótons com exatidão milimétrica. É um dispositivo robótico, não invasivo, que proporciona um tratamento altamente preciso. O robô se move e se curva ao redor do paciente. O Tomotherapy também é inigualável, com imagens de tomografia que detectam a posição do tumor e emite pulsos de radicação de forma extremamente precisa. Somos líderes em robótica no pais, com mais de 30 equipamentos instalados. Mas não adianta ter os melhores equipamentos sem os profissionais e foi isso que buscamos. Tem mais um detalhe importante. Os grandes nomes da medicina querem estar envolvidos com ensino e pesquisa. O IDOR (Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino) tem 16 anos de experiência, com mais de 150 Ph.Ds. É a maior instituição privada em publicações médicas no país. Isso é um grande atrativo. E vou elencar mais um fator: somos uma instituição com dono, ao qual eles têm acesso. Somos capazes de tomar decisões rápidas. Quando alguém traz um projeto, uma solicitação que faça sentido podemos aprovar no mesmo dia.

Como está hoje a atuação da Rede em São Paulo?

Há pouco inauguramos no estado a nossa 28º unidade hospitalar e, com isso, São Paulo passou a ser a nossa maior operação em número de hospitais e leitos. É natural, o estado é mais populoso, tem mais por onde crescer. Acredito que nos posicionamos muito bem. O Rio vem logo em seguida, com 26 unidades, entre elas uma muito querida da minha família, o Barra D´Or, o primeiro hospital da Rede, que acaba de ser reinaugurado em um prédio ultramoderno bem em frente ao antigo endereço, que se transformou em um hospital pediátrico. Temos obviamente uma estrutura grande e vital no Rio de Janeiro, vou para lá toda semana.

É por isso que a sua base de trabalho passou a ser em São Paulo recentemente?

Nada disso. Vim para São Paulo por que casei com uma paulista (Gabriela Feffer). Nosso combinado era morar no Rio. Moramos dois anos lá e ela foi convidada a trabalhar na empresa da família dela. Eu já vinha dividindo meu tempo entre o Rio e SP, mas a decisão da nossa base familiar ficar aqui foi a partir disso.

[Fonte Original]

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