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sexta-feira, abril 25, 2025

Bitcoin e ouro para proteção de carteira? Como investidores podem se beneficiar de ambos

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Em tempos de crises e incertezas macroeconômicas globais, investidores buscam por ativos mais seguros, que possam proteger seu capital de perdas acentuadas. O ouro é uma das principais opções e, como tal, vem batendo sucessivos recordes de preço nos últimos três meses. Outro ativo também poderia estar entre essas alternativas, mas divide opiniões. Com forte volatilidade, mas alto rendimento, o bitcoin, primeira e maior criptomoeda em valor de mercado, foi criado para ser o “ouro digital”.

“A construção da tese do bitcoin como reserva de valor (ou ouro digital) se apoia na característica de escassez: quando alcançar o total de 21 milhões de unidades em circulação, não poderão ser minerados novos tokens, o que tende a criar um ativo que se valoriza junto ou acima da inflação”, explica Paula Zogbi, gerente de Pesquisa da Nomad.

“Para que isso se confirme, porém, é importante que haja uma ampla adoção do bitcoin como ativo de valor – que é mais difícil do que o caso do ouro, pela intangibilidade dos ativos digitais e pela ausência de um histórico como moeda de troca.”

Ou seja, o ouro “de verdade” é palpável, visível e já foi amplamente utilizado para comprar e pagar mercadorias durante séculos. Já o bitcoin tem pouco mais de uma década de existência, não é tangível e sua utilização como meio de pagamento é irrisória.

De acordo com seu curto histórico, no entanto, o bitcoin tem se mostrado bastante resiliente a crises e gerado ganhos vultosos ao investidor com foco no longo prazo. Ao mesmo tempo, também tem se caracterizado como um ativo de altíssimo risco, com forte especulação – e, muitas vezes, grandes perdas no curto prazo.

Test-drive de investimentos (e dos nervos)

A última grande crise econômica e financeira global aconteceu há cinco anos: a pandemia de covid-19. Investidores em pânico, como todas as pessoas do mundo, passaram a vender seus ativos e buscar mais segurança, em um cenário caótico, em que não houve, durante longos meses, qualquer sinal de, para onde caminharia a humanidade. E nem ativos considerados seguros passaram incólume à liquidação.

Em 12 de março de 2020, logo após a declaração da pandemia, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o bitcoin derreteu 35%, em apenas 24 horas. No mesmo dia, o S&P 500, principal índice da bolsa de Nova York, tombou 9,5% e, no Brasil, o Ibovespa, índice de referência da bolsa brasileira, a B3, desabou 14,8%.

O preço do ouro também foi levado pelo pânico causado pelo coronavírus, mas em uma intensidade muito menor, e caiu 3,5%, na mesma data.

Ao final desse ano trágico, mas com uma vacina já chegando aos braços de alguns europeus, os índices acionários registravam alguma recuperação acumulada no período: o S&P 500 teve alta de 16,3% e o Ibovespa, de 3%. Já o bitcoin saltou 300%, enquanto o ouro subiu 25%.

“Apesar da volatilidade, o bitcoin superou a maior parte dos ativos do mundo em performance no seu período de existência”, afirma Felipe Amoedo, especialista em criptoativos e ETFs da HMC Capital. “O bitcoin é descentralizado, fácil de movimentar globalmente, sem barreiras, seu mercado funciona 24 horas sem interrupções, superando o ouro na escassez, mobilidade e facilidade de negociação.”

Mas, em 2022, quando a vida já havia voltado ao normal, o mercado cripto viveu sua crise particular, com falências de grandes empresas e fraudes colocando e xeque a confiança no segmento. Resultado: bitcoin encerrou o ano com desvalorização de 65%. E o preço do bom e velho ouro ficou praticamente estável. Ou seja, a volatilidade das criptos (tanto para cima quanto para baixo) é para o investidor que tem estômago para fortes emoções.

Novo episódio e (não tão) novo personagem

O retorno de Donald Trump à presidência do maior mercado financeiro do mundo, os Estados Unidos, foi o gatilho de novos preços recordes tanto do ouro real, quanto do “digital”, mas por motivos antagônicos.

Uma euforia foi provocada pela campanha pró-cripto do então candidato republicano e pela indicação de fortes entusiastas desse setor para compor sua equipe de governo, principalmente na liderança de órgãos estratégicos, como o Tesouro e a Securities and Exchange Commission (SEC, a CVM americana). Esses elementos levaram o bitcoin a encerrar 2024 com valorização de 120% e marcar nova máxima histórica, a US$ 109 mil, em 20 de janeiro, nada coincidência, dia da posse de Trump.

E o ouro? Subiu 24%, no ano passado, basicamente por conta das crises geopolíticas no Oriente Médio.

Mas o sonho virou pesadelo após a posse e as primeiras medidas de Trump, notadamente o tarifaço aplicado a parceiros comerciais dos Estados Unidos e seus prováveis efeitos negativos na economia global. Mais ainda: a sombra de uma possível recessão provocada pela queda da atividade econômica do próprio país.

Nesse contexto, o bitcoin – como membro do mercado de ativos de risco – não aguentou e, desde o último recorde de preço, já perdeu em torno de 25%, retornando ao nível de US$ 80 mil.

Nesse mesmo cenário e período, no sentido oposto, o ouro soma mais de 10% de alta, registrando na última sexta-feira (28) o valor recorde de US$ 3.086, a onça-troy (medida padrão da commodity). O banco americano Goldman Sachs projeta que, mantidas as atuais circunstâncias, o preço deve chegar a US$ 3.100.

“O ouro tem um histórico de longo prazo como instrumento de proteção em momentos de aversão a risco e tende a ter uma performance boa e ajuda na proteção do portfólio”, ressalta André Barbosa, especialista em investimentos.

Uma primeira prova de que o bitcoin é, sim, um ativo de proteção e reserva de valor, pode ter sido dada pelos Estados Unidos: Trump autorizou a criação de uma reserva no Tesouro formada por essas criptos apreendidas. O ouro americano tem endereço fixo: Fort Knox, uma pequena cidade no estado de Kentucky. Já o bitcoin deve ficar “armazenado” nas carteiras digitais dos EUA.

Uma carteira com “opostos complementares”

Especialistas apontam que uma composição mista, em que ouro e bitcoin possam dividir espaço na carteira do investidor, pode aproveitar o que cada ativo tem de positivo.

Zogbi afirma que é difícil cravar que o caminho do bitcoin rumo a uma ampla adoção esteja certo e, enquanto isso, a volatilidade é a tônica dos negócios, com a principal representante do mercado cripto se comportando como um ativo de risco, altamente correlacionado a ativos de tecnologia e ao índice Nasdaq.

“O investidor que aposta em bitcoin como proteção deve ter estômago para essas oscilações, focar no longo prazo e ter consciência de que a tese pode não se comprovar”, pondera Zogbi.

“Já o ouro é a reserva de valor histórica da humanidade, e consistentemente apresenta a característica de proteção contra a volatilidade, tendendo a gerar retornos positivos em momentos de aversão a risco, com potencial de desvalorização modesta em momentos de mercado aquecido”, afirma Zogbi. “Em geral, não costuma oferecer grandes retornos, já que não há geração de fluxo financeiro, dividendos ou receita, sendo mais indicado como um escudo contra a volatilidade.”

Segundo Zogbi, outros ativos com potencial de proteção do capital são o próprio dólar e, dependendo do momento, a renda fixa, como títulos públicos. “Mas é importante se atentar aos riscos do ciclo atual. Por exemplo: os juros pagos pela renda fixa pode oscilar em períodos inflacionários, e o dólar pode se enfraquecer durante choques à economia americana, que são justamente dois riscos no radar dos investidores atualmente.”

Amoedo reforça que, para o objetivo específico de proteção contra crises macroeconômicas, o ouro é a opção tradicional mais óbvia, mas o bitcoin pode também ser usado como alternativa. “O bitcoin pode sofrer oscilações severas na mesma direção de mercados tradicionais, como aconteceu na pandemia, pois é bastante sensível a liquidez”, pontua. “Entretanto, com o crescimento da sua adoção em ritmo superior ao da internet, é importante reforçar que este [o bitcoin] é um ativo com potencial expressivo de valorização, neste caso servindo bem como proteção contra dinâmicas inflacionárias.”

Marco Túlio Lima, diretor comercial da Vórtx, a diversificação do portfólio em tempos de incertezas macroeconômicas globais deve considerar na sua composição os ativos lastreados em ouro e os ativos digitais, como bitcoin. “A proporção deve respeitar o perfil do investidor de cada indivíduo”, ressalta.

Para Lima, a guerra comercial global, provocada pela aplicação de sobretaxas pelos americanos, poderá pesar sobre o dólar e o euro, como moedas-padrão. “É muito oportuna a alocação em ativos reais, como ouro, e outras commodities, como petróleo, mas também nas moedas digitais que, por estarem em ambiente de blockchain e não serem passíveis de influência de seus lastros, possuem outra dinâmica de transferência de valores financeiros”, afirma.

Lima ressalta que ouro e bitcoin “não são oponentes, mas complementares na sua essência, mesmo considerando a diferença de volatilidade”. Para ele, “guerras, protecionismo das potências globais, doenças virais e outras intempéries” acabam por serem muito mais relevantes do que o objetivo e horizonte do investidor.

[Fonte Original]

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