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quinta-feira, abril 24, 2025

Crítica | Superman Absoluto (Absolute Superman) – Vol. 1: Última Poeira de Krypton – Plano Crítico

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Apesar de ter sido o terceiro título do Universo Absoluto lançado pela DC Comics, Superman Absoluto chegou ao fim de seu primeiro arco antes de Mulher-Maravilha Absoluta, que terá sete e não seis edições, como foi o caso aqui e no de Batman Absoluto. E, seguindo a linha do arco inicial do Homem-Morcego desse universo, o Homem de Aço ganha uma nova origem que altera elementos fundamentais do que estamos acostumados, ainda que, claro, mantenha a essência do personagem. Com roteiro de Jason Aaron e arte do espanhol Rafa Sandoval por cinco das seis edições, com o italiano Carmine di Giandomenico ficando responsável exclusivamente pela sexta edição, o começo desse novo Superman oferece bem mais do que o início do novo Batman foi capaz de oferecer, valendo-se bem menos de novidades que não são realmente novidades e preocupando-se bem mais em real e efetivamente repaginar o Azulão para esse universo em princípio livre das amarras da continuidade editorial.

Diferente, porém, do que foi alardeado quando a primeira edição foi lançada, o Superman não é brasileiro, ou melhor, ele não “caiu” no Brasil quando chegou de Krypton. Os acontecimentos que se passam no país referem-se ao herói, já jovem adulto, fazendo de tudo para ajudar mineiros contra a exploração inclemente de seu trabalho por parte da Corporação Lázaro que tem Pacificadores como sua força tarefa e é aparentemente controlada por um Brainiac que permanece nas sombras. Superman, conforme aprendemos, já vinha fazendo em diversos outros países do planeta Terra há muito tempo. O uso do Brasil como ponto de partida para a história veio provavelmente do artista brasileiro Rafael Albuquerque que fora contratado para fazer a arte, mas teve que largar o projeto no último minuto em razão das terríveis inundações no Rio Grande do Sul, seu estado natal (e não, não neva de verdade na cidadezinha fictícia – isso também foi alardeado por aí como um incorreção absurda, mas é porque as pessoas são afobadas e não sabem ler). O que serve como gatilho narrativo para a história é a chegada de Lois Lane na história, aqui uma agente da Lázaro que consegue um feito impressionante, que é algemar-se ao Superman com um par de algemas que ele não consegue quebrar. Isso a faz se interessar pelo personagem e começar a enxergar seu lado, da mesma maneira que, claro, Superman percebe que nem todo mundo da corporação opressora é opressor.

Em termos do personagem em si, ele tem um traje fascinante que parece ser biomecânico feito a partir da essência de seu planeta por seus pais e que conta não só com uma inteligência artificial que o auxilia e que se chama Sol,como, também, com uma capa que não é bem uma capa, mas sim uma espécie de “poeira” vermelha kryptoniana que toma diversas formas. Além disso, a conexão dos poderes do Superman com o sol amarelo da Terra é muito maior do que o usual, com ele efetivamente precisando recarregar-se, algo que faz com auxílio da I.A. e do “metal líquido” de seu traje que, conforme vamos aprendendo ao longo das seis edições, está muito longe de ser apenas um traje. A ação na Terra funciona como um bom veículo para deixar evidente o equilíbrio (ou a falta dele) de forças no planeta, com a tirânica, militarística e onipresente Corporação Lázaro de um lado e os rebeldes e misteriosos Ômega Men do outro, com um deles contando com um membro muito querido da mitologia do Superman, além de haver espaço para uma história de origem paralela de Christopher Smith, o Pacificador do Universo Padrão da DC Comics que, aqui, é um membro particularmente perturbado e violento da força de Pacificadores da Lázaro.

Intercalando a narrativa no presente na Terra, Aaron nos conta a história da destruição de Krypton construindo mitologia nova e muito interessante que estabelece um sistema rígido de castas por lá que é basicamente dividida entre os cientistas – que usam um símbolo de sol no peito – e os trabalhadores braçais de toda ordem, que contam com o símbolo do “S” que Superman usa. Os pais do jovem Kal-El – ele é um garoto quando o flashback começa – eram para ter sido cientistas, mas, por razões diferentes, acabaram relegados à funções inferiores, mas isso não os impede de notar que Krypton está próximo do fim, passando a dedicar seu tempo para a construção de uma arca para salvar o máximo de pessoas possível e não somente seu filho. Fazer de Kal-El um menino já crescido, de uns 10 anos de idade, é uma jogada excelente que o equipara à sua prima Supergirl no universo padrão no sentido de ela ter testemunhado efetivamente a destruição de seu planeta e não apenas “ter ouvido falar” como é o caso de Kal-El em sua origem clássica. Essa intercalação entre presente e passado, oferecendo narrativas bem diferentes e visuais também muito díspares, mas com a mesma narrativa de fundo sobre opressão, exploração e destruição do meio ambiente, é muito bem conduzida pelo roteiro de Aaron, que sabe exatamente como manter o leitor preso às duas narrativas, sem realmente saber como elas serão fechadas, valendo especial destaque para a maneira como o texto lida com a inspiração para Lois e o pequeno Kal-El demonstrarem seus respectivos gostos e aptidões para a palavra escrita.

No entanto, o primeiro arco de Superman Absoluto não seria o que é sem a arte de Rafa Sandoval, desenhista que já se provou por diversas vezes como alguém no perfeito domínio de sua arte e com um estilo que sempre combinou e continua combinado demais com a mitologia do Superman. Sandoval não só cria um belíssimo traje novo para o Superman que bebe das mais variadas fontes ao longo das décadas, como esmera-se na construção de dois mundos – Krypton no passado e a Terra no presente – fascinantes e belíssimos mesmo quando tudo o que vemos é destruição completa. Como diria minha avó, a arte dele é um desbunde, capaz de surpreender com páginas inteiras e páginas duplas de tirar o fôlego – não posso deixar de elogiar também o trabalho de Ulises Arreola nas cores – e que dão o tom para toda a narrativa de Aaron que posiciona o Superman em algum lugar ali entre a versão mais sombria e ainda perdida de Zack Snyder e a versão mais iluminada e madura que povoa classicamente os quadrinhos por décadas a fio. Se tenho um  reparo a fazer, ele é pequeno e se refere às feições dos rostos que desenha, muitas vezes semelhantes demais e sempre fazendo o personagem parecer um modelo da Calvin Klein. A última edição, desenhada por Carmine di Giandomenico, conta uma outra parte importante da origem do Superman, com seu estilo menos realista, mas muito bonito e repleto de traços que parecem “inacabados”, servindo muito bem a função de mudar o ritmo da narrativa e, com isso, encerrando o arco.

O primeiro arco de Superman Absoluto é uma verdadeira e, diria, até mesmo surpreendente repaginação do icônico personagem e de sua mitologia, uma que não tem receio de realmente inovar e de criar algo que consegue ter lampejos de originalidade mesmo diante da várias versões do personagem que existem no multiverso da DC Comics. Enquanto Scott Snyder jogou mais seguro em seu Batman Absoluto, Jason Aaron trouxe novidades com grande potencial para o novo Superman que foram colocadas nas páginas de maneira irretocável por um inspirado Rafa Sandoval. Resta saber o que mais aguarda os leitores nesse universo!

Superman Absoluto – Vol. 1: Última Poeira de Krypton (Absolute Superman – Vol. 1: Last Dust of Krypton – EUA, 2024/25)
Contendo: Absolute Superman #1 a 6
Roteiro: Jason Aaron
Arte: Rafa Sandoval (#1 a 5), Carmine di Giandomenico (#6)
Cores: Ulises Arreola
Letras: Becca Carey
Editoria: Ash Padilla, Chris Conroy
Editora: DC Comics
Data original de publicação: 06 de novembro e 04 de dezembro de 2024; 1º de janeiro, 05 de fevereiro, 12 de março e 02 de abril de 2025
Páginas: 176



[Fonte Original]

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