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terça-feira, abril 29, 2025

BC argentino autoriza pagar compras com cartão vinculado a conta em dólar

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Desde o fim de fevereiro, os correntistas de bancos com operação na Argentina e que mantêm conta em dólares nessas instituições estão autorizados a fazer pagamentos de compras cotidianas na moeda americana usando seu cartão de débito. Até agora, porém, a novidade não “pegou”.

A medida foi adotada por meio de uma norma publicada em 16 de janeiro pelo Banco Central da República Argentina (BCRA).

Cumprindo a determinação de disponibilizar o meio de pagamento a partir de 28 de fevereiro, as instituições bancárias dispararam e-mails aos correntistas donos de “caja de ahorro” com o cifrão americano, informando sobre o novo benefício.

Muitos desses correntistas aparentemente não leram ou ignoraram a correspondência, pois já se passaram mais de 30 dias e pouca gente fala ou sabe da nova ferramenta. Ao caminhar pelas ruas do centro, da Recoleta e de Caballito, bairros da capital federal, é possível perceber esse desconhecimento ao perguntar às pessoas se elas usam o cartão de débito para pagar em dólares, por exemplo, os quilos de carne na afamada rede Res ou as compras da semana no hipermercado Coto, uma das maiores empresas varejistas do país.

A medida vem no momento em que a Argentina começa a relaxar seus rígidos controles cambiais como parte de um empréstimo de US$ 20 bilhões do Fundo Monetário Internacional (FMI). Na sexta-feira (11), o BCRA e o ministro da Economia, Luis Caputo, disseram que na próxima semana serão suspensos os controles que limitam a movimentação de dólares — restrições conhecidas como “cepo” — para pessoas físicas. Para empresas, serão mantidas algumas restrições.

Ricardo Martínez, um comerciante de janelas e esquadrias de metal que mantém sua loja há 39 anos em Caballito — um dos mais antigos bairros de Buenos Aires — disse que não sabia dessa nova modalidade de pagamento e que, apesar de ter dólares no banco, não pretendia usá-los para comprar nada. “Não me parece uma boa decisão essa nova norma do BC”, disse ele, que também não aceita pagamentos em dólares na sua loja por meio do cartão de débito.

Questionado se esse seria um primeiro passo para a dolarização da economia argentina, tão propagada pelo presidente Javier Milei, Martínez, que votou no economista de extrema direita, disse que isso pode até ter passado pela cabeça do mandatário argentino. Mas ele não acredita que a dolarização acontecerá e, se acontecer, que vá funcionar. “Nem no governo dele nem em governo nenhum. Para isso dar certo, precisaríamos de um Banco Central forte”, afirmou.

Segundo ele, considerando a situação econômica da Argentina que perdura por décadas, os pesos são para gastar, e os dólares, para guardar.

O economista Luis Secco, diretor da consultoria Perspectiv@s, em Buenos Aires, não acredita que a medida seja uma prévia de uma dolarização da economia do país. Para ele, “é mais um reconhecimento do fenômeno da dolarização informal” que um passo em direção à dolarização total.

“A dolarização como regime monetário implicaria, entre outras coisas, a eliminação do peso como meio oficial de pagamento. Em suma, esa norma é uma medida que incentiva a chamada competição cambial ou bimonetarismo, pois visa nivelar ou igualar as funções do dólar com as do peso”, diz Secco.

Assim como Martínez, Secco não acredita que o uso de dólares para fazer compras cotidianas vá funcionar entre os argentinos, cuja maioria ainda guarda bilhetes da moeda americana embaixo do colchão.

Como a medida tem pouco mais de um mês em vigor, os bancos notaram apenas uma movimentação muito incipiente de pagamentos com dólares, dizem fontes do sistema financeiro ao Valor. No entanto, após a divulgação da norma do BC argentino, instituições financeiras perceberam um pequeno aumento na abertura de contas em dólares — para receber pagamentos na moeda americana, os estabelecimentos comerciais também precisam ter contas em dólar.

Segundo essas fontes, falta uma divulgação mais massificada da norma. Com o tempo, os bancos acreditam que esse meio de pagamento será mais comum nos setores de turismo, principalmente hotéis, e gastronomia. Além disso, “é preciso subverter a ideia, arraigada em nossa cultura, de que os dólares devem ser muito bem guardados e só usados em grandes negociações, como a compra de uma casa”, afirma um interlocutor.

Talvez, agora, com a suspensão do “cepo” – que acabou com o limite de US$ 200 para compra mensal por pessoa física da moeda americana (no câmbio oficial) – os argentinos tirem os dólares da toca e passem a gastá-los com sorvete e entrada de cinema.

Desde 28 de fevereiro, os argentinos podem pagar compras do dia a dia em dólar com o cartão de débito da conta corrente — Foto: Márcia Almeida/Valor

[Fonte Original]

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