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terça-feira, abril 29, 2025

Novo regime cambial argentino terá sua prova de fogo nesta segunda-feira

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O secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, desembarca nesta segunda-feira (14) em Buenos Aires para uma visita de apoio dos EUA ao presidente libertário do país, Javier Milei, no primeiro dia da vigência do novo regime de banda cambial argentino. O relaxamento nos estritos controles cambiais (“cepo”), que datam de 2019, era uma exigência para a Argentina obter um novo empréstimo de US$ 20 bilhões do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Em pronunciamento feito na Casa Rosada no fim da tarde de sexta-feira, o ministro da Economia, Luis Caputo, anunciou as novas regras cambiais: o fim do limite para que pessoas físicas comprem dólares pela cotação oficial; as empresas poderão transferir dividendos para o exterior sem limites a partir do exercício 2025 — as remessas referente a anos anteriores seguem sob restrições do “cepo”; as empresas também poderão pagar imediatamente por suas importações.

A partir desta segunda-feira, o preço do dólar oficial vai flutuar dentro de uma banda que tem como piso 1.000 pesos e como teto 1.400 pesos por US$ 1. Essa banda será reajustada a taxa de 1% ao mês.

A mudança cambial na Argentina ocorre em meio a uma forte turbulência nos mercados globais, provocada pela errática guerra tarifária de Donald Trump, contra todos os parceiros comerciais dos EUA, em especial a China. Os temores de uma recessão global provocaram desvalorização das moedas emergentes e quedas acentuadas nos preços das commodities — incluindo as agrícolas, principal fonte de dólares da Argentina. Em linha com o estresse nos mercados internacionais, as ações e bônus argentinos registraram fortes perdas nos últimos dez dias.

Inicialmente, os investidores comemoraram a eliminação da maior parte dos controles como um grande passo para o país retornar aos mercados internacionais de dívida após a reestruturação soberana em 2020. O ETF Global X MSCI Argentina subiu mais de 5% no pós-mercado de sexta-feira.

Até sexta-feira, o regime cambial argentino era um “crawling peg” que permitia a desvalorização do peso ao ritmo de 1% ao mês, bem abaixo da inflação, que em março subiu para 3,7%. Isso levou à uma gradual sobrevalorização do peso, que no fim de março consultorias privadas estimavam ser de cerca de 50%. Para sustentar o peso, o BC argentino foi forçado a gastar US$ 2,5 bilhões para defender a taxa de câmbio oficial nas últimas semanas.

Ao anunciar a remoção dos controles cambiais, Caputo, insistiu que “não se tratava de uma desvalorização”. “A verdade é que não sabemos para onde o dólar irá.”

Porém, há um consenso entre os analistas que haverá uma desvalorização do peso, com alguns estimando que a moeda deverá cair em direção à cotação da taxa do câmbio paralelo. Na sexta-feira, essa taxa era de 1.375 pesos por dólar, em comparação com a taxa oficial de 1.097 pesos.

Marcelo J. García, diretor para as Américas da consultoria Horizon Engage, sediada em Nova York, disse à Associated Press esperar uma desvalorização inicial de cerca de 20% a 25%. “Um grande ponto de interrogação é a inflação no segundo trimestre. É muito provável que haja um choque”, disse Leonardo Piazza, economista-chefe da consultoria argentina LP Consulting.

“O risco mais relevante no sistema de banda cambial é o seu potencial de arbitrariedade”, afirmou Luis Secco, fundador da consultoria Perspectivas Económicas, ao Valor. “Tanto o piso quanto o teto da banda são definidos pela autoridade monetária. Na prática, as bandas devem lidar ao final com os mesmos desafios da fixação da taxa de câmbio.”

“Veremos o que acontece na segunda-feira”, disse ao Valor uma fonte do mercado, sob condição de anonimato. “Se o efeito imediato dos anúncios for uma corrida à segurança do dólar, os créditos do FMI ficarão longe de serem suficientes.”

Para assegurar a capacidade da Argentina de defender seu novo regime cambial, Caputo afirmou em seu anúncio de sexta-feira que o BC disporá ao longo deste ano cerca de US$ 50 bilhões. Além da parcela de US$ 12 bilhões que o FMI deve desembolsar amanhã, o Banco Mundial se comprometeu a liberar um pacote de outros US$ 12 bilhões a partir de maio. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) também anunciou um pacote de US$ 10 bilhões.

As negociações do novo pacto com o FMI — o 23 da história da Argentina e o terceiro desde 2018 — se arrastaram por meses, diante da pressão para um programa bem-sucedido após o fracasso dos dois últimos. Caputo disse que o governo se comprometeu a manter o déficit primário federal (excluindo o serviço da dívida) em 5% do PIB e o déficit fiscal total em 10% nos próximos anos.

A diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, elogiou o governo de Milei por eliminar um déficit fiscal crônico. “É um voto de confiança na determinação do governo em avançar com reformas, fomentar o crescimento e proporcionar padrões de vida mais elevados para o povo argentino”, postou Georgieva no X na sexta-feira. O programa tem planos de contingência em vigor, visto que a volatilidade tem afetado os mercados globais nas últimas semanas, acrescentou ela, sem mencionar a guerra comercial entre os EUA e a China.

Em cadeia nacional de TV, após a fala do ministro, Milei anunciou a série de medidas como “o início da ‘Fase 3’ de estabilização macroeconômica da Argentina”. Hoje com apoio precário do Congresso, ele espera que os resultados de sua política econômica lhe traga dividendos políticos na eleição legislativa de outubro.

“Este novo acordo com o FMI busca somente conter o valor do dólar neste momento, para evitar uma desvalorização muito ampla às vésperas de uma eleição”, disse Francisco Cantamutto, pesquisador especializado em política econômica do Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas (Conicet) da Argentina. “O que se estabelece no atual acordo é uma decisão de desregulamentação pura e simples, sem um plano de atração de investimentos crível e claro”, afirmou. “Não há porque pensar que este pacto com o Fundo será diferente dos demais.”

“O governo parece estar diante da oportunidade de romper com o passado ou repeti-lo com outro nome”, resumiu Secco, da Perspectivas Económicas. (Com agências internacionais)

[Fonte Original]

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