Ao longo de mais de trinta anos de carreira, Edward Berger se tornou uma das figuras centrais do cinema alemão contemporâneo, com pelo menos 23 produções no portfólio. Uma chave virada em sua história ocorreu em 2014, com o drama “Jack”, um retrato austero e sensível da busca de dois irmãos abandonados pela mãe pelas ruas de Berlim. O filme demonstrou o detalhismo e a meticulosidade com que Berger trabalha e que foi um prenúncio da grandeza de seu “Nada de Novo no Front”, adaptação poderosa do romance de Erich Maria Remarque. Premiado com quatro estatuetas do Oscar, incluindo Melhor Filme Internacional, o longa consolidou Berger como um narrador de intensidade rara, capaz de transpor para a tela histórias de profunda carga humana e histórica com uma densidade e clareza impressionantes.
Em 2025, Berger corrobora seu talento com “Conclave”, adaptação cinematográfica da obra homônima de Robert Harris. Conhecido por seu rigor na pesquisa, Harris desvendou os bastidores dos rituais e tradições da Igreja Católica, oferecendo um olhar inédito sobre o processo de escolha de um novo Papa. Berger, com igual meticulosidade, transporta essa riqueza de detalhes para o cinema, criando uma experiência visualmente arrebatadora e narrativamente instigante. O filme explora a tensão e o simbolismo do Conclave, o evento secreto que define os rumos da liderança da Igreja.
Embora fictícia, a narrativa de “Conclave” é uma reprodução fiel dos rituais e das tradições vaticanas, enriquecida por relatos confidenciais de cardeais. Filmado em Roma, o longa impressiona pela atenção aos detalhes: em um set que recria minuciosamente a Capela Sistina, o elenco e a equipe mergulharam em uma imersão total para capturar a atmosfera de isolamento e solenidade. Ao longo de 48 dias de filmagem, Berger conduziu sua equipe por um processo que garantiu autenticidade e intensidade às cenas.
A trama segue o cardeal Lawrence, encarregado de liderar o Conclave após a morte de um Papa. O enredo se desenrola em meio ao confinamento rigoroso dos cardeais, submetidos a regras que incluem o confisco de dispositivos eletrônicos, o bloqueio de comunicação com o mundo externo e o isolamento total até a escolha de um sucessor. A tensão aumenta à medida que intrigas e alianças se formam, revelando segredos e ambições pessoais. Diálogos precisos e carregados de significado dão ritmo à narrativa, levando o espectador por reviravoltas surpreendentes.
As atuações elevam o impacto emocional do filme. Ralph Fiennes e Stanley Tucci entregam performances marcantes, explorando as nuances de seus personagens com profundidade. Entre as surpresas do elenco, destaca-se Carlos Diehz, que interpreta o cardeal Benítez. Em sua estreia no cinema, Diehz oferece uma interpretação sensível e convincente, fruto de uma decisão tardia de abraçar a carreira de ator após completar um curso online. Sua atuação simboliza a potência do talento aliado à determinação, independentemente da idade.
“Conclave” tem uma narrativa extremamente envolvente, mas sua técnica impecável é um fenômeno. A fotografia minimalista, inspirada no estilo de Stanley Kubrick, reforça o tom introspectivo e solene da trama. Cada detalhe, desde os trajes litúrgicos até a reprodução dos cenários, contribui para criar um mundo imersivo que captura a atenção do início ao fim. A trilha sonora sutil, mas impactante, complementa a atmosfera de suspense e gravidade que permeia a obra.
Com um total de seis indicações ao Globo de Ouro e 11 ao Critics Choice Awards, “Conclave” ainda levou 8 indicações ao Oscar 2025 e levou uma estatueta na categoria de Melhor Roteiro Adaptado. O filme reafirma Edward Berger como um cineasta de visão única, capaz de transformar temas complexos em experiências cinematográficas profundas e memoráveis. Com “Conclave”, ele não apenas reforça a complexidade humana em um dos cenários mais secretos do mundo, mas também solidifica seu lugar entre os grandes mestres do cinema mundial.
Filme:
Conclave
Diretor:
Edward Berger
Ano:
2025
Gênero:
Drama/Épico
Avaliação:
10/10
1
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Fer Kalaoun
★★★★★★★★★★