Os duros questionamentos feitos pelo presidente americano, Donald Trump, sobre a independência do Federal Reserve (Fed, banco central americano) e os ataques ao presidente da instituição, Jerome Powell, representam uma ameaça maior à economia do que as tarifas comerciais anunciadas pelo republicano. A afirmação é do fundador e CEO da CIO Capital Partners, David Bailin, executivo que atuou durante anos como diretor de investimentos do Citi Global Wealth.
Em carta enviada a clientes no fim de semana, Bailin destacou que “a perda da independência do Federal Reserve implicaria danos mais profundos, amplos e duradouros às economias dos EUA e do mundo do que até mesmo os regimes tarifários mais agressivos [impostos por Trump]”.
“Embora as tarifas possam desencadear recessões e correções de mercado, o enfraquecimento da autonomia do Fed desestabilizaria toda a arquitetura dos mercados de capitais globais, elevaria a inflação e as taxas de juros, enfraqueceria o dólar e iria corroer a liderança econômica dos EUA por uma geração ou mais”, alertou o CEO.
As críticas de Trump a Powell ganharam força nos últimos dias, em meio a uma batalha travada pelo republicano para que a autoridade monetária corte os juros. Na semana passada, o diretor do Conselho Econômico Nacional, Kevin Hassett, disse que o presidente americano estava estudando a possibilidade de demitir Powell.
Para Bailin, a quebra da independência do Fed poderia “minar” a confiança na liderança econômica dos EUA, provavelmente levando investidores globais a realocar capital para fora de ativos americanos.
O executivo também alerta que o prêmio de risco sobre os ativos americanos aumentaria, reduzindo o investimento físico na economia americana. Da mesma forma, as taxas de juros de longo prazo se elevariam, à medida que investidores exigiriam compensação pelo aumento do risco de inflação e pela incerteza política. Como consequência, Baillin avalia que isso deprimiria o Produto Interno Bruto (PIB) potencial americano e que deslocaria a produção e o investimento para outros países, visão que é oposta à defendida por Trump.
“Cortes de juros com motivação política para lidar com a volatilidade do mercado de ações ou para estimular o crescimento de curto prazo provavelmente impulsionariam a inflação, forçando eventuais aumentos acentuados das taxas para restaurar a estabilidade”, resumiu.