Dior/Divulgação
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Muito antes dos ‘destination shows’ se tornarem parte da agenda fashion, a Dior foi a primeira maison de moda europeia a realizar um desfile no Japão. Aconteceu em 1953, quando Monsieur Dior voou parte das criações recém-desfiladas em Paris para apresentações em Tóquio, Osaka, Nagoya e Kyoto. Pois foi esta última cidade, antiga capital do país, a escolhida para o desfile de outono 2025 realizado pela grife francesa na última semana.
A data do show também foi escolhida a dedo: no calendário japonês, o dia 15 de abril se posiciona dentro da primavera. Mais especificamente, no recorte de aproximadamente 15 dias em que florescem anualmente as sakuras, flores de cerejeira que abrilhantaram o cenário do desfile, realizado ao ar livre. Fun fact: o mesmo tom rosado das flores foi replicado nos olhos das modelos por Peter Philips, diretor criativo e de imagem da Dior Makeup, criando um efeito luminoso a partir de um mix de sombras da linha. Aqui, 3 ideias para falar sobre o desfile.
J’adore Japão
“Eu ainda amo as sedas bordadas com flores e pássaros fantásticos; os uso em minhas coleções”, disse Christian Dior certa vez sobre as estampas com influência do japonismo que decoravam sua casa na infância. A marca cultural e estética do Japão permearia ainda outras coleções da maison: sob o comando do diretor criativo John Galliano, a Dior reproduziu as ondas do artista japonês Katsushika Hokusai na alta-costura do verão 2007. Em seu primeiro desfile pre-fall no comando da grife, em 2014, Raf Simons olhou para a relação entre o país e a alta moda, em uma coleção apresentada em Tóquio. Com o olhar da atual estilista da marca, Maria Grazia Chiuri, a alta-costura para o verão 2017 incluiu looks inspirados pelo motivo ‘Jardin Japonais’ criado pelo fundador da grife.
Sem fronteiras
Maria Grazia gosta de arte tanto quanto de moda (o novo documentário “Her Dior”, com foco nas colaborações com artistas mulheres, está aí para provar). Entre as inspirações para sua nova coleção, consta a exposição “Love Fashion: In Search of Myself”, que esteve em cartaz no National Museum of Modern Art de Kyoto no fim do ano passado. Olhando para a influência dos tecidos japoneses na moda europeia, a estilista estuda a roupa em duas e três dimensões. Um bom exemplo? As jaquetas-quimono que seguem os passos de Christian Dior, que criou o Diorpaletot e o Diorcoat, projetados para serem usados sobre o quimono, respeitando sua forma. Desta forma, os shapes surgem ampliados, ganhando tanta importância quanto as estampas que exibem – menção honrosa para os casacos e capas arquitetônicas que acompanharam peças feitas de denim na passarela.
Japonismo 2.0
Florais estampados, florais bordados, florais em jacquard (tecidos, inclusive, por um artesão de 90 anos que colaborou com a maison décadas atrás): a ornamentação botânica que integra a paisagem e iconografia do Japão sugere perfume feminino e delicadeza para peças de apelo funcional, como as jaquetas e os trench-coats. Aplausos para os looks que trouxeram elementos estéticos, desses que já integram nosso imaginário do Japão, de maneiras que passaram longe do óbvio: o vermelho, por exemplo, estava lá, mas surgiu em tom fechado, tingindo um único vestido longo, feito de veludo – o material do momento, traduzido em uma proposta para o aqui e o agora. J’adore!
Com Antonia Petta e Milene Chaves
Donata Meirelles é consultora de estilo e atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle.
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