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O Partido Liberal, de Mark Carney e do ex-premiê Justin Trudeau, deve conquistar cadeiras suficientes no Parlamento do Canadá para formar um governo, segundo projeções da emissora pública canadense CBC News sobre as eleições desta segunda-feira (28/4).
Carney, de 60 anos, é o atual primeiro-ministro do Canadá — mas está no cargo há apenas um mês.
Ele substituiu Justin Trudeau, após o ex-primeiro-ministro renunciar em janeiro. Em março, Carney venceu com mais de 85% dos votos dos membros do Partido Liberal para assumir a função.
Na noite desta segunda, ainda não era possível afirmar se os liberais conseguirão a maioria das 343 cadeiras em disputa ou se terão que formar governo com outros partidos, segundo a CBC.
Ainda assim, a vitória tem sido considerada uma reviravolta política impressionante para os liberais, que estavam sendo considerados “mortos e enterrados”. Pesquisas chegaram a mostrar durante meses o Partido Conservador, de Pierre Poilievre, com 20 pontos na frente.
Agora, devem conseguir um quarto mandato seguido.
Quem é Mark Carney

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Para muitos no Canadá (e no Reino Unido), Carney é um rosto conhecido. Ele foi anteriormente governador dos bancos centrais do Canadá e da Inglaterra, atuando no primeiro durante a crise financeira de 2008 e no segundo durante o Brexit.
Ele é o primeiro primeiro-ministro vindo do norte do país, sendo natural de Fort Smith, nos Territórios do Noroeste. Estudou na Universidade de Harvard e, depois, em Oxford, onde se formou em economia.
Carney é elogiado por sua expertise financeira. Ele também adotou uma postura firme contra o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, prometendo que o Canadá jamais se tornará o 51º estado norte-americano.
No entanto, Carney é politicamente inexperiente. Ele nunca foi eleito para um cargo público no Canadá.
O economista se lançou como candidato em janeiro para substituir Trudeau como líder do Partido Liberal, disputando a liderança com outros nomes, entre eles Chrystia Freeland, ex-vice-primeira-ministra.
Apesar da falta de experiência na política, sua trajetória no mundo financeiro e sua reputação como líder econômico foram fatores decisivos, segundo analistas, para consolidar sua candidatura.
‘Canadá nunca será parte dos EUA’

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Trudeau vinha enfrentando uma crise de popularidade, atribuída ao aumento do custo de vida e às políticas migratórias de seu governo.
No entanto, o crescimento do sentimento nacionalista no Canadá, impulsionado pelas recentes tensões com Washington, fortaleceu a posição dos liberais diante das esperadas eleições federais.
As políticas comerciais de Trump e suas declarações sobre transformar o Canadá no 51º estado dos EUA provocaram forte rejeição entre a população canadense.
Isso se refletiu, por exemplo, em vaias ao hino americano em eventos esportivos, como jogos da NHL e da NBA, enquanto muitos canadenses cancelaram viagens aos Estados Unidos e reduziram o consumo de produtos americanos.
“São dias sombrios, provocados por um país no qual já não podemos confiar”, afirmou Carney em seu discurso ao vencer a eleição dentro do Partido Liberal, ressaltando a necessidade de “trabalharmos juntos nos dias difíceis que estão por vir”.
Mais especificamente, sobre a guerra comercial com os EUA, declarou: “Nós não pedimos por essa luta, mas os canadenses sempre estão prontos quando outros desistem”.
O novo líder dos liberais afirmou na ocasião que os norte-americanos “querem nossos recursos, nossa água, nossa terra, nosso país” e garantiu que “se tivessem sucesso, destruiriam nosso modo de vida”.
“O Canadá nunca será parte dos Estados Unidos de forma alguma”, sentenciou.
Análise: vitória dos liberais se deve, em parte, a Trump
Por Anthony Zurcher, correspondente da BBC News na América do Norte
Mark Carney e o Partido Liberal estão projetados para conquistar a maioria nas eleições canadenses — e parece que isso veio com uma grande ajuda de Donald Trump.
A constante provocação do presidente dos Estados Unidos ao vizinho do norte coincidiu com uma reviravolta dramática na sorte do Partido Liberal. Mas ninguém deve esperar que os liberais agradeçam — ou que Trump suavize sua retórica, apesar de, no mês passado, ele ter dito que preferia um primeiro-ministro liberal.
Em vez disso, o mais provável é que haja mais do mesmo — mais comentários sarcásticos sobre o Canadá se tornar o 51º estado dos EUA, mais ameaças de guerra comercial e mais disposição para colocar em dúvida os laços e acordos históricos com o vizinho do norte.
Embora Trump não pareça ter a mesma antipatia por Carney que demonstrava claramente em relação ao ex-primeiro-ministro Justin Trudeau, seus interesses políticos e de políticas públicas e os do Canadá parecem destinados a continuar divergindo.
Já há sinais de que o Canadá está voltando seu olhar mais para a Europa como parceiro confiável, em vez da América de Trump — um movimento que certamente irá irritar o líder americano.
Será um desafio formidável para Carney, à medida que ele se firma no poder após sua ascensão relativamente repentina na política canadense.