Somam US$ 24,3 bilhões os investimentos até 2029 no Brasil em minerais críticos para as indústrias de tecnologia da informação, defesa e alimentação e estratégicos para a transição energética. A estimativa é do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). Trata-se de um valor significativo, mas considerado no mercado abaixo do potencial do país. “Nossas reservas de minerais críticos são um passaporte para o futuro. Mas o Brasil não despertou para essa oportunidade”, afirma Raul Jungmann, presidente do Ibram.
Segundo o Guia para o Investidor Estrangeiro em Minerais Críticos 2025, elaborado pelo Ministério de Minas e Energia (MME), o Brasil detém 12,3% das reservas mundiais de níquel e uma participação de 2,47% na produção internacional. Em grafita, 26,4% das reservas globais são brasileiras, mas a produção local atende 4,56% da demanda. No caso das terras, raras, o país possui 19% das reservais totais e apenas 0,02% da produção mundial. Em lítio, 4,9% das reservas são brasileiras e 2,72% da oferta global. O Brasil é rico em nióbio, com 94% das reservas e 90% da produção do mundo, e detém reservas importantes de vanádio, manganês e bauxita.
Os minerais críticos estão no topo da agenda geopolítica global. Neste ano os Estados Unidos buscaram um acordo para obter reservas minerais da Ucrânia em troca de apoio na guerra contra a Rússia, que também tem interesse nas reservas ucranianas. Os americanos ainda ameaçaram anexar a Groenlândia e o Canadá, detentores de grandes reservas. Em abril, a China, a grande processadora mundial de terras raras, suspendeu exportações aos EUA após o acirramento da guerra tarifária entre os dois países. Já a União Europeia anunciou que investirá em 47 projetos minerais capazes de reduzir a dependência do continente do abastecimento internacional.
Minerais críticos são tema de soberania e a disputa por reservas e acesso se acirrará”
— Raul Jugmann
“Os minerais críticos são tema de soberania nacional em vários países e a disputa por reservas e acesso aos mercados se acirrará”, prevê Jungmann. A demanda é crescente. A Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) estima que apenas o mercado de minerais estratégicos para a transição energética saltará de US$ 320 bilhões em 2023 para US$ 1,1 trilhão em 2030. O Banco Mundial, por sua vez, avalia que para atender a demanda por esses minerais serão necessários investimentos de US$ 1,7 trilhão em 15 anos.
“As incertezas da conjuntura global geradas pela guerra tarifária talvez retardem o ritmo da transição energética, mas a necessidade de descarbonização continuará prioritária e com ela a demanda de minerais”, diz o consultor Afonso Sartorio, da EY. O Brasil não possui uma política nacional adequada para aproveitar suas reservas de minerais críticos. “O país precisa estabelecer prioridades. Em que momento e ritmo explorará as reservas? Quais são as condicionantes socioambientais? Vamos estimular o processamento local ou vender commodities?”, questiona Jungmann.
Para o consultor Manuel Fernandes, da KPMG, o mundo demandará grande quantidade de minerais processados para os quais ainda não existem fornecedores estabelecidos. “O Brasil está diante da oportunidade de ocupar espaços importantes em uma indústria em ascensão. Precisamos analisar as vantagens competitivas do país em cada mineral e definir em quais atividades temos condições de estabelecer cadeias produtivas”, afirma Fernandes.
Entre as ações governamentais mais urgentes, Jungmann cobra uma maior agilidade no processo de licenciamento de lavras. “Não se trata de afrouxar regras socioambientais, mas tornar mais ágil o processo”, afirma. Segundo o presidente do Ibram, o licenciamento chega a demorar até cinco anos, dificultando o planejamento exploratório e aumentando os custos dos projetos. Outra necessidade é a expansão do mapeamento geológico. Hoje, apenas 27% do território nacional está mapeado na escala 1 por 100.000, considerada a mínima necessária para que investidores iniciem um trabalho mais aprofundado de prospecção geológica.
Brasil tem oportunidade de ocupar espaços em uma indústria em ascensão”
— M. Fernandes
Os principais países mineradores, como Canadá, Estados Unidos, Austrália e África do Sul, oferecem aos investidores um mapeamento detalhado de suas províncias minerais. “O Serviço Geológico do Brasil (SGB), responsável pelo mapeamento, está esvaziado, não conta com profissionais suficientes para o serviço”, diz Jungmann. Para Sartorio, diante da escassez, o governo deveria buscar soluções alternativas, como parcerias público-privadas (PPPs) para a execução das tarefas do SGB e da Agência Nacional de Mineração (ANM).
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, diz que o governo está atento aos dois problemas. “No ano passado, a ANM autorizou mais de 4.600 projetos de pesquisa mineral e concedeu dez direitos de exploração, todos relacionados a minerais estratégicos”, afirma. Segundo o MME, o Brasil soma hoje 48 projetos de minerais críticos para a transição energética, sendo 20 em operação e 28 em fase pré-operacional.
O trabalho de mapeamento geológico, conforme o ministro, também está sendo intensificado pelo SGB com o PlanGeo 2025-2034, que tem previsão de mapear 73 áreas com grande potencial para minerais estratégicos até 2034. “O governo está ciente da importância dos minerais estratégicos e atua para desenvolver uma indústria de transformação mineral robusta”, diz Silveira.