A concentração de prédios corporativos em determinadas regiões da capital paulista — como a da Avenida Faria Lima, principal eixo financeiro da cidade — é fator determinante para definir o valor de locação dos imóveis. Alugar um estúdio de até 30 metros quadrados no Itaim, por exemplo, pode custar até 3,5 vezes mais do que um com características semelhantes e a mesma metragem em bairros das zonas Norte ou Leste.
É o que aponta um estudo inédito produzido pela empresa de tecnologia e serviços Loft, feito com base em 20 mil anúncios ativos de apartamentos no mês de março, postados nas principais plataformas imobiliárias digitais da cidade.
O levantamento segmentou tipologias de produto e apontou quais os três bairros mais caros e os três mais econômicos para locação na capital paulista. Na categoria de imóveis com até 30 metros quadrados, Itaim Bibi, Vila Olímpia e Brooklin lideram com o tíquete médio mais alto.
“Fica claro nesses dois recortes o quanto a região da Avenida Faria Lima, o mais importante polo financeiro de São Paulo, impacta o valor do aluguel”, afirma Fábio Takahashi, gerente de Dados da Loft.
No Itaim, a locação sai por R$ 5,6 mil mensais — quase R$ 200 por metro quadrado. Nos bairros subsequentes, algo em torno de R$ 3,9 mil. Na ponta oposta, Vila Prudente e Tucuruvi (R$ 1,5 mil) e Rio Pequeno (R$ 1,6 mil), na Zona Oeste, são onde os estúdios têm preços mais acessíveis.
Entre os apartamentos de 30 e 65 metros quadrados, Itaim e Vila Olímpia repetem a dobradinha no ranking do aluguel mais caro, seguidos por Vila Nova Conceição. Nos três bairros, os valores médios variam de R$ 6,6 mil a R$ 7,6 mil. “As pessoas querem morar perto do trabalho, e isso pressiona os preços tanto para compra quanto para locação de imóveis”, avalia Takahashi.
Imóveis com plantas maiores, entre cem e 125 metros quadrados, por exemplo, rendem bons comparativos. Alugar apartamentos do mesmo tamanho pode custar o dobro se for na Vila Olímpia (R$ 11,8 mil) em relação a Santana (R$ 5,4 mil). “A Vila Andrade e a Vila Romana também têm boas ofertas nessa categoria. O que mostra a diversidade do mercado de locação na cidade, permitindo que as pessoas possam escolher viver com mais espaço pagando menos por isso.”
A partir de 125 metros quadrados, o bairro do Morumbi surge como opção dentre os mais caros: R$ 22,9 mil de tíquete médio. “É a parte do Morumbi que fica mais próxima do Rio Pinheiros, portanto, também da Avenida Faria Lima, o que influencia no preço”, analisa o gerente da Loft. Como opção mais em conta, a Vila Sônia tem apartamentos com a mesma metragem por R$ 6,3 mil.

No último boletim FipeZap de locação residencial, divulgado em março, a evolução da rentabilidade acumulada do aluguel residencial (“rental yield”) para o primeiro trimestre na cidade foi de 6,22%. Dentre as capitais brasileiras, São Paulo ocupa o 11º lugar no ranking das mais rentáveis do trimestre, atrás de Manaus, Belém e Recife, entre outras.
Com relação ao perfil dos produtos, imóveis de um dormitório tiveram o maior “rental yield” de março: 6,64%. Residências com quatro dormitórios ou mais registraram o pior desempenho (4,83%), levando em consideração todas as 36 cidades monitoradas pela pesquisa.
Para Paula Reis, economista do DataZap, quem busca obter renda com locação de ativos imobiliários deve estudar com atenção a localização dos imóveis antes de investir. “A rentabilidade do aluguel pode variar muito dentro da mesma cidade, por isso, é importante o investidor se informar sobre os locais e os nichos de mercado que atraem maior interesse”, explica.
A economista aponta ainda uma tendência de desaceleração no reajuste dos valores de aluguel na capital paulista. Depois da alta de 3,22% no primeiro trimestre deste ano, o ritmo de crescimento deve ser mais modesto do que o observado no mesmo período de 2024 (3,75%) e de 2023 (4,63%).

Entretanto, ela aponta dois fatores que podem reverter essa dinâmica. O primeiro seria o baixo nível de desemprego, que reflete a capacidade dos locatários em absorver eventuais aumentos de preços; e o segundo diz respeito ao desaquecimento do mercado de vendas, causado pelo aumento dos juros e pela menor oferta de crédito. “Esse cenário pode levar mais famílias a optar pelo aluguel em vez de comprar um imó- vel”, analisa Paula.
O cenário de elevação da Taxa Selic e a redução dos recursos da poupança, segundo a economista do DataZap, criam um ambiente menos favorável ao financiamento imobiliário. Assim, com o crédito mais caro e restrito, “a procura por imóveis à venda tende a diminuir, enquanto a demanda por aluguel pode crescer, especialmente em regiões com oferta limitada”, conclui.