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segunda-feira, maio 5, 2025

Golfinhos e tubarões

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Se você for comprar uma lata de atum aqui nos Estados Unidos, vai encontrar em alguns produtos o aviso “dolphin safe”(“seguro para golfinhos”, na tradução). Isso é resultado de uma campanha feita nos anos 1980, após a denúncia de que a pesca de atum estava vitimando milhares de golfinhos por ano. Cardumes de atum têm o hábito de nadar debaixo de grupos de golfinhos. Uma estratégia comum de pesca era usar redes na área onde estavam golfinhos para pegar os atuns embaixo. O problema é que os golfinhos ficavam presos na rede e não conseguiam subir à tona para respirar.

A prática já era apontada como cruel e antiética, mas foi apenas depois de o biólogo Sam LaBudde integrar a tripulação de um navio de pesca durante cinco meses, ocultando sua identidade verdadeira, que a situação mudou. O pesquisador documentou em vídeo a pesca dos atuns e morte de mais de 500 golfinhos, e mostrou esses vídeos durante um depoimento ao Senado dos EUA. Com os vídeos, a opinião pública despertou e houve um boicote contra produtos de atum.

O boicote funcionou. Em 1999, foi aprovada a Lei de Informação ao Consumidor para Proteção dos Golfinhos. A lei estipula que todo navio de pesca de atum deve trazer observadores a bordo para garantir que as práticas utilizadas não sejam prejudiciais para os golfinhos. Redes diferentes, que não aprisionam os animais, devem ser usadas. A indústria agora precisa registrar a origem do atum, incluindo as espécies pescadas, as condições dos peixes antes de serem processados, o local da pesca, nome do navio e a data. Quem segue todas estas regras pode exibir o rótulo de “seguro para golfinhos”. Após a aprovação da lei nos EUA, vários outros países regulamentaram a pesca de atum. Trata-se de um belo exemplo de como intervenções ambientais podem ser bem-sucedidas e gerar políticas públicas eficazes.

Recentemente, tivemos outro exemplo de intervenção, para regulamentar a pesca de cavalinha. Na Indonésia, navios que pescam cavalinha frequentemente acabam pegando também tubarões-martelo e arraias, que acabam sendo vendidos ou como alimento ou no mercado de barbatanas, usadas em medicina alternativa. Para proteger essas espécies, que correm risco de extinção, pesquisadores da Universidade de Oxford (Reino Unido), em parceria com a Universidade de Johns Hopkins nos EUA, testaram uma estratégia: pagar por animal libertado.

Os cientistas desenharam um estudo controlado: 77 barcos pesqueiros foram divididos aleatoriamente em dois grupos, um para receber pagamento por peixe libertado, outro para continuar como antes, o grupo controle. Estratégias similares, que usam incentivos financeiros na conservação ambiental, e até mesmo em campanhas de vacinação, já mostraram sucesso no passado, e os pesquisadores imaginavam que o resultado seria muito positivo.

O experimento deu certo para as arraias, mas não para os tubarões. O incentivo era tão bom para os pescadores, que tinham que filmar os animais sendo liberados das redes de pesca, que muitos começaram a capturá-los deliberadamente só para fazer o vídeo de soltura e receber o pagamento. O problema é que tubarões-martelo precisam se manter em movimento para conseguir respirar, e acabavam sufocando quando eram presos. As arraias sobreviviam, gerando uma diferença de 25% mais arraias vivas nos barcos do incentivo do que nos barcos controle. Para os tubarões, a diferença foi um excesso de 44% de animais mortos!

Os pesquisadores agora estão testando uma nova estratégia, mais voltada para educação, e uso de redes especiais que não prendem arraias e tubarões. De qualquer maneira, tanto para golfinhos e tubarões fica um sopro de esperança nestes tempos difíceis para a ciência ambiental e de conservação. Tem gente fazendo um bom trabalho para garantir políticas públicas que protejam a biodiversidade.

[Fonte Original]

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