Estatueta de madeira do século 19 de mulher amamentando criança, da Costa do Marfim (The Cleveland Museum of Art)
O que é uma mãe? As categorias entendidas como naturais – ou ainda que são naturalizadas no pensamento cotidiano – são em geral as mais desafiadoras de definirmos. É difícil encontrarmos definições técnicas, criteriosas, rígidas ou muito coesas para ideias, categorias, conceitos e termos que fazem parte do nosso cotidiano justamente por não precisarmos pensar neles durante a comunicação. Quando alguém pergunta “quem é a sua mãe?”, quase nunca é preciso fazer uma grande e longa reflexão sobre os critérios da maternidade, ou sobre o que é uma mãe. Respondemos simplesmente “minha mãe é fulana, minha mãe é beltrana”. Em certo sentido, a sociedade trata como mãe, inequivocamente, aquela que pariu uma criança, embora nem sempre ela seja a mãe; a questão é que, caso a parturiente não seja a mãe da criança parida, isso é entendido como uma exceção ou flexibilização da categoria “mãe”, ou ainda como uma forma particular e não natural de maternidade (como no caso da “mãe adotiva”, de predicado imprescindível na linguagem cotidiana comum). Uma mãe adotiva, embora legalmente tenha o mesmo status de uma mãe sem predicado, é constantemente lembrada dessa característica, vista como particular em sua posição parental. Consta aí um dos primeiros princípios básicos da categoria “mãe”: a ideia de natureza que a embasa é a de que esses vínculos, laços de maternidade e filiação são eternos. Não se desfaz uma relação mãe-filho. No caso da ideia de mãe adotiva, porém, existe um fantasma, que é a cre
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