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segunda-feira, maio 12, 2025

Dia das Mães: 48% das profissionais sentem que já deixaram de ser contratadas por terem filhos

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Recusar uma oportunidade de trabalho porque a vaga não contemplava as necessidades de uma vida com filhos já foi uma realidade vivida por mais da metade das profissionais (55%) entrevistadas na pesquisa “Parentalidade no Trabalho: realidades, desafios e caminhos para o futuro”, feita pela plataforma educativa para recursos humanos Think Work com o apoio do iFood Benefícios. Apenas 26% dos homens afirmam ter passado pela mesma situação.

Feito em março de 2025, o levantamento obtido com exclusividade pelo Valor contou com a participação de 722 respondentes, sendo 54% mulheres, de diversas faixas etárias, e 58% ocupando cargos de liderança.

Entre as entrevistadas, 69% das mães sem rede de apoio já tiveram que abrir mão de uma vaga, e 57% das mães que estão fora do mercado de trabalho dizem que a maternidade foi o principal motivador da condição. Ainda segundo a pesquisa, 48% das profissionais sentem que já deixaram de ser contratadas por terem filhos. Em 13% dos casos, a empresa assumiu que a maternidade foi a grande razão para a não contratação. Outras 35% acreditam não terem sido promovidas por serem mães; 7% das companhias confirmaram que este era o impasse.

O objetivo da pesquisa foi explorar o impacto de ter um filho na carreira, diz Tatiana Sendin, fundadora e CEO da Think Work. “Quando olhamos para a taxa de envelhecimento da população, temos uma geração estrangulada, que precisa cuidar de pais idosos e também tem que cuidar dos filhos. […] Eu acho que é porque essa desigualdade do cuidado começa em casa. As mulheres têm que faltar mais no trabalho por conta de compromissos familiares”, afirma Sendin.

Ainda de acordo com a pesquisa, 42% das mães já foram questionadas pelo gestor por atenderem uma urgência familiar; e 31% delas sentem que não há a quem recorrer em casos de desentendimento com seus líderes diretos.

Para 31% das profissionais com filhos, aliás, suas demandas familiares são menosprezadas. Apesar disso, os chefes se dão nota 9 (média) quando perguntados como atuam em casos que envolvem as questões familiares dos seus liderados.

Entre as entrevistadas da pesquisa, 69% das mães sem rede de apoio já tiveram que abrir mão de uma vaga, e 57% das mães que estão fora do mercado de trabalho dizem que a maternidade foi o principal motivador da condição — Foto: Freepik

“Infelizmente, a maioria dos líderes ainda é de homens e a divisão dos cuidados é muito desigual para a mulher. O homem nem percebe que essa distribuição em casa está desigual”, pontua a fundadora da Think Work com base nos dados que levantou. Ela complementa dizendo que o RH deveria se responsabilizar por tratar os impasses das mães dentro da organização, “ou estar olhando mais de perto as pessoas que têm filhos na empresa”. As soluções, ainda de acordo com Sendin, contemplam uma política mais clara de folga que permita à pessoa se ausentar do trabalho quando tem uma demanda familiar urgente.

O levantamento mostrou também que os benefícios mais usados pelas mães são o acompanhamento pré-natal e o plano de saúde para dependentes. O mais desejado, entretanto, é o “day off” no aniversário do filho.

A pesquisa realizada pela Think Work revelou que o período médio de licença parental foi de 118 dias para as mães – abaixo dos 120 previstos por lei – e de 27 dias para os pais, acima dos 5 dias estipulados legalmente. Mais de 40% dos respondentes consideram o tempo insuficiente. Segundo eles, o ideal seria uma licença de 74 dias para os pais e de 168 para as mães.

Em relação ao formato do trabalho, 40% das profissionais com filhos consideram que a atuação ideal é o híbrido; 34% preferem o remoto e 26%, o presencial.

62% das mães que perderam os filhos não tiveram apoio da empresa no luto

Mais da metade (62%) das profissionais que perderam um filho relatam não terem recebido qualquer tipo de apoio da empresa onde trabalhavam no período do luto. O dado foi extraído da pesquisa “Parentalidade no Trabalho”, da Think Work.

“As empresas deveriam medir, acompanhar isso mais de perto para ter um raio-x da realidade das pessoas com filhos dentro da empresa”, argumenta Sendin. Para Gabriela Queiroz, psicóloga clínica especializada no atendimento de pessoas enlutadas, os dois dias de afastamento previstos pela legislação rabalhista não são suficientes para aplacar a dor de uma mãe enlutada. “Vai demorar ainda um certo tempo para que essa funcionária volte ao seu ‘funcionamento normal’, digamos assim”, explica.

Queiroz ainda ressalta a importância de compreender que o luto não atinge apenas o emocional das pessoas, mas tem capacidade de impactar a imunidade, possibilitando também o surgimento de dores crônicas. “O rendimento vai cair porque o luto afeta a nossa dimensão cognitiva, então [a profissional] vai ter menor concentração, menor atenção e memória de curto prazo prejudicada, porque todo o organismo dessa mãe vai estar voltado para elaborar a perda desse filho, para conseguir assimilar que aquela criança não está mais ali”, reforça.

Gestores devem compreender que durante certo período, o rendimento da trabalhadora não vai ser o mesmo, ainda segundo a especialista. “Por mais que a pessoa queira cumprir metas, render como rendia antes, não será possível”, detalha.

A psicóloga complementa que apenas o ato de reduzir cobranças excessivas ajuda no acolhimento da mulher — ou de qualquer outro trabalhador enlutado, assim como deixar de lado questionamentos sobre como a pessoa está reagindo ao luto. Ela diz que o que cabe aos gestores e colegas é proporcionar um lugar minimamente confortável para que a profissional possa vivenciar seu sofrimento.

Não forçar conversas sobre a perda no ambiente corporativo é outro conselho passado por Queiroz, porém, caso a profissional queira conversar sobre, o ideal é que seja ouvida sem receber opiniões ou julgamentos. “Não estamos ali na posição de dar conselhos ou tentar tirar a dor dessa pessoa. Não nos cabe chegar e dizer que vai passar, que vai ficar tudo bem ou ‘pelo menos era novinho’, ‘não deu tanto tempo de se apegar’. Essas são frases que invalidam a dor”, complementa.

“É mais sobre estar disponível e menos sobre o que falar e como agir”, conclui Queiroz.

Mães e pais adquirem habilidades após a chegada dos filhos:

  • 68% viram impacto positivo na produtividade;
  • 67% observaram melhora no relacionamento com os colegas;
  • 61% sentiram-se mais concentrados;
  • 81% viram melhora na própria comunicação;
  • 86% disseram adquiriram mais empatia;
  • 69% viram melhora na habilidade de negociação;
  • 81% observaram impacto positivo na capacidade de tomar decisões;
  • 42% dizem estar mais estressados;
  • 38% se sentem mais irritados;
  • 36% estão mais ansiosos.

De acordo com Mara Cristiane Favero, psicóloga especialista em gestão empresarial, durante a gravidez a mulher é, de certa forma, preparada biologicamente para as exigências da maternidade. “Podemos dizer que o cérebro se especializa para a capacidade de se vincular ao bebê e certas regiões ligadas ao relacionamento social e a regulação emocional são afetadas — o que pode impactar em algumas realidades, inclusive a profissional”, destaca.

Favero ainda afirma que o cérebro da mulher passa por uma reorganização neural que aumenta a eficiência das redes cerebrais, especialmente nas áreas ligadas à empatia, cognição social e regulação emocional. Ela complementa que “isso melhora a percepção emocional e aumenta o foco [em função dos cuidados para a sobrevivência do recém nascido], o que pode resultar em mais produtividade no ambiente corporativo”.

“O impacto emocional da maternidade geralmente provoca reflexões sobre propósitos e valores que podem gerar motivação para o autodesenvolvimento e clareza sobre o que é prioridade, […] aumentando a assertividade nas escolhas profissionais e relacionais”, elabora Favero. A psicóloga finaliza com a observação de que os efeitos variam entre as mulheres porque existem condições sociais distintas e aquelas que deram à luz recentemente podem vivenciar a depressão pós-parto. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que até 20% das mães nos países em desenvolvimento sofrem de depressão pós-parto, segundo dados de 2017.

[Fonte Original]

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