O ator Wagner Moura comentou seu retorno ao cinema brasileiro após mais de uma década atuando em produções internacionais. O protagonista de “O Agente Secreto”, filme que vai representar o Brasil em Cannes neste ano, falou sobre a volta durante uma entrevista com a Vanity Fair publicada nesta segunda-feira (12).
Para ele, uma das coisas mais significativas em participar de um filme nacional novamente é o contato com a língua materna. “Significou muito pra mim simplesmente atuar e dizer coisas em português de novo, me reconectar com essa cultura. Eu nem consigo descrever o quanto isso foi importante para mim”, refletiu.
“Eu não falava inglês quando era criança, tive que aprender. Mesmo quando trabalho em espanhol, é diferente, sabe? O português é minha língua materna. É a cultura também. Esse filme especificamente foi tudo ao mesmo tempo. Fiquei tão feliz”, completou.
O retorno de Wagner Moura ao cinema nacional se dá com o longa dirigido por Kleber Mendonça Filho. O ator interpreta Marcelo, um acadêmico escondido em Recife por volta de 1977, durante a ditadura militar. A produção foi selecionada para representar o Brasil no Festival de Cannes, que começa nesta terça-feira (13).
“É interessante porque é muito político — é sobre pessoas que resistiram à ditadura —, mas é mais como um outro círculo vicioso, quando você joga uma pedra no rio e há aquelas ondulações. É como o que podemos sentir agora nos EUA — esses governos e como eles empoderam as pessoas com suas palavras. Acho que este filme fala muito sobre valores e os tipos de valores que acompanham uma mentalidade como essa”, analisou Moura.
Em meio à euforia da vitória de “Ainda Estou Aqui” no Oscar, o ator comentou sobre a valorização do cinema brasileiro e o apoio massivo do público com as indicações do filme e de Fernanda Torres na categoria de Melhor Atriz. “‘Ainda Estou Aqui’ reconectou o público brasileiro com o nosso cinema, como um filme para adultos e um filme sobre um momento muito específico da nossa história, uma cicatriz que ainda não cicatrizou”, opinou.
O ator se manteve ocupado nos últimos dez anos. Ele interpretou o traficante Pablo Escobar na série “Narcos” em 2015 e dirigiu o longa “Mariguella” em 2018, que só foi lançado oficialmente em 2021. No ano passado, Moura estrelou o filme “Guerra Civil”, em que dá vida ao jornalista Joel.
“Eu estive fazendo coisas fora. Fiz ‘Narcos’, que era uma série — levou muito, muito tempo — e dirigi um filme que levou três anos. E também, eu não estava empolgado com nada do que estava acontecendo no Brasil durante o governo Bolsonaro. Nada estava acontecendo”, disse.
O ator criticou o tratamento que o setor audiovisual recebeu durante o mandato do ex-presidente. “Bolsonaro fez o que todos os autocratas fazem: atacou as universidades, os jornalistas e o setor cultural”, afirmou.
“Dirigi um filme em 2018, ‘Marighella’, e ele foi censurado no Brasil. Foi uma loucura. Só pude lançar o filme lá em 2021. O Kleber também sofreu muito. Ele tem essa capacidade de ser um homem que viu tantos filmes e consegue regurgitar tudo o que viu em algo muito brasileiro”, afirmou.
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