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terça-feira, maio 13, 2025

Não temos tempo a perder: Amazônia já

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Por Helena B. Nader e Adalberto L. Val*

A Amazônia, bioma que ocupa 49% do território brasileiro e se estende por outros oito países, abriga a maior biodiversidade do mundo e é alvo de pressões sem trégua. A poucos meses da COP30, vale relembrar: os problemas enfrentados pelo maior bioma existente impactam o mundo todo. Precisamos de ações urgentes para preservá-lo — e de atenção da ciência e sociedade para compreendê-lo.

O Brasil reúne boa parte das florestas da Amazônia, cuja conservação é chave para reduzir as mudanças climáticas. Além de armazenar entre 150 bilhões e 200 bilhões de toneladas de carbono, a floresta contribui para formar “rios voadores” que levam chuva a diferentes partes do continente.

Um fenômeno sob risco. Secas e incêndios têm se tornado mais frequentes. Na prática, muitos organismos já vivem perto dos seus limites de temperatura, em novo teste da resiliência do sistema.

O impacto das mudanças climáticas não é o único desafio da Amazônia. Para entender sua complexidade, precisamos olhar também para suas dimensões sociais, econômicas, urbanas, culturais e de saúde. Nos últimos dias, cientistas brasileiros, de países amazônicos e outras partes do mundo, incluindo indígenas, se reuniram para traçar esse panorama na Reunião Magna da Academia Brasileira de Ciências, no Museu do Amanhã, no Rio. O encontro reforçou o alerta de que não há tempo a perder.

Na Amazônia, só do lado brasileiro, vivem cerca de 25 milhões de pessoas. Somadas às que vivem no bioma também nos demais países, o total chega a cerca de 45 milhões, incluindo 2,2 milhões de indígenas. Mais de 300 línguas são faladas na região. Como boa parte não é dicionarizada, o conhecimento dos povos originários e comunidades tradicionais corre risco de ser perdido. É preciso compreender a Amazônia não apenas como espaço geográfico ou biológico, mas como patrimônio cultural global.

Desafios enfrentados pelas cidades amazônicas, como a falta de saneamento, ainda recebem pouca atenção nos debates. Ao mesmo tempo, o avanço da mineração e da agropecuária intensifica as pressões sobre os ecossistemas locais. Relatórios recentes apontam crescimento significativo na degradação florestal, impulsionado pelo aumento das queimadas e da extração seletiva de madeira.

Aí vem mais um risco, sanitário. A biodiversidade vai além do que podemos ver — inclui bactérias, fungos e vírus que podem causar doenças. Na floresta, muitos desses organismos vivem em animais, podendo migrar para o homem, em novas epidemias e potenciais pandemias. É urgente fortalecer a abordagem de saúde única, integrando homem, animal e ambiente.

Enquanto buscamos soluções, algumas medidas são consenso. O bioma não é dividido entre países, e a integração e a interlocução com nações vizinhas — onde fica a cabeceira dos rios — é de fundamental importância para a conservação. Com a primeira COP30 dentro da floresta, o Brasil tem a chance de fortalecer esse compromisso.

Também é preciso aumentar o conhecimento científico sobre a região, base para tomada de decisões. Para isso, é urgente haver recursos para a ciência feita dentro da Amazônia, e também para ela.

Pesquisas recentes comprovam que a bioeconomia, quando impulsionada por inovações tecnológicas e científicas, também tem potencial para transformar positivamente a região. No entanto, para maximizar seus benefícios, é essencial avançar em áreas como biotecnologia, manejo sustentável e políticas baseadas em evidências, garantindo aplicações eficientes e escaláveis.

Sem ciência, o bioma amazônico — estratégico para o cumprimento dos objetivos da Agenda 2030 — e o mundo não atingirão um futuro verdadeiramente sustentável. Convocamos toda a sociedade para se engajar de forma ativa e permanente na defesa e conservação desse bioma indispensável para a vida no planeta. Não temos tempo a perder.

*Helena B. Nader é presidente da Academia Brasileira de Ciências e professora emérita da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, Adalberto L. Val é pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e vice-presidente Regional Norte da Academia Brasileira de Ciências

[Fonte Original]

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