O mercado de criptomoedas ‘virou a chave’ com a eleição de Donald Trump que alinhou a principal economia do mundo com o mercado de ativos digitais. Além disso, fundamentou o Bitcoin como uma estratégia de reserva de valor, abrindo o caminho para outras nações criarem suas reservas de ativos digitais.
A incerteza sobre a estratégias das gigantes de investimento, como BlackRock, foram dissipadas e ficou claro que os grandes gestores de ativos mundiais não vão ‘voltar atrás’ na adoção cripto; agora é só para frente.
No entanto, ‘nem só de Bitcoin vive o mercado cripto’ e, outros ativos e setores estão despontando e tomando lugar entre as grandes narrativas, inclusive com alguns analistas acreditando inclusive que estes setores emergentes podem até mesmo superar o Bitcoin ou então ‘salvar’ a economia americana e o próprio dólar.
Para falar sobre estas tendências e o futuro do mercado cripto, o Cointelegraph Brasil conversou com Rocelo Lopes, CEO da SmartPay e de apps como o Swapx e Truther. Além disso, o empresário brasileiro é próximo de algumas das principais personalidades globais que estão definindo o futuro do mercado, como o CEO da Tether, Paolo Ardoino, Giancarlo Devasini, CFO da Bitfinex, entre outros.
Segundo Lopes, 5 tendências devem ditar o mercado de criptomoedas nos próximos anos, com forte impacto no Bitcoin e na fundamentação da nova economia digital, que, segundo Fabio Araujo, coordenador do Drex no Banco Central, vai criar o Sistema Financeiro 2.0.
1 – Novos tokens e RWA em ascensão
Rocelo Lopes prevê que, nos próximos cinco anos, uma onda de novos tokens surgirá, focados principalmente em projetos agronômicos e de energia, conhecidos como RWA (Real World Assets).
Ele destaca que as blockchains atuais talvez não estejam preparadas para atender a essa demanda crescente. “Vamos ver o surgimento de novas blockchains que possam atender esse mercado”, afirma.
Além disso, Rocelo discorre sobre a urgência de blockchains com privacidade na transação. “Eu ainda não aceito, depois de tanto tempo, essa transparência perigosa no tamanho que está o mercado hoje”, afirmou.
“Um indivíduo mandar um token de uma carteira A para um indivíduo da carteira B e ambos poderem olhar as transações e ambos poderem olhar o saldo, eu acredito que até mesmo para RWA isso venha a ser um problema e é um problema que tem que ser resolvido”, destaca.
Por fim, Rocelo afirma que a regulação será crucial para garantir um controle eficaz. “A gente vai ver governos se movimentando, reguladores se movimentando para tentar realmente ter um controle maior disso”
2 – As stablecoins como solução
Com a volatilidade das moedas tradicionais e a desconfiança em sistemas financeiros tradicionais, as stablecoins devem se tornar uma opção cada vez mais atraente, especialmente em países emergentes. “A dolarização em mercados como a Bolívia, que já está se transformando na aceitação do USDT em transações diárias”, explica Rocelo.
O CEO destaca que para as stablecoins se consolidarem é preciso uma evolução em termos de blockchain. “Hoje, a única blockchain que permite ter uma privacidade adequada para stablecoin é a Liquid. O USDT roda em cima da Liquid, ali existe uma privacidade onde os usuários não conseguem ver transações ou até mesmo saldos entre si”, explica.
No entanto, ele enfatiza a necessidade de um marco regulatório claro para permitir uma melhor integração das stablecoins em bancos digitais e fintechs.
“Eu acredito que as transferências internacionais passarão a ser praticamente padronizadas. Um banco lá de Hong Kong, que tem USDT dentro da plataforma dele, vai enviar para uma pessoa que tem a conta num banco digital”, explica.
“No nosso caso, temos a Truther, que é de auto custódia, o usuário vai mandar para uma conta em um banco digital ou fintech e pronto, está feito. O que precisa realmente é definir certas regras para dar mais tranquilidade para o mercado e, até mesmo, para empresas e bancos que venham atuar nessa área”.
Embora as stablecoins não substituam as moedas tradicionais, Rocelo prevê que elas complementarão o sistema financeiro.
“Estamos testemunhando uma mudança na forma como as pessoas e empresas transacionam”, diz. Ele menciona exemplos de países que já integram stablecoins em suas economias e sugere que o Brasil deveria seguir esse caminho, permitindo que a iniciativa privada desenvolva soluções inovadoras.
“A Bolívia tem uma necessidade muito grande de dólares, mas ele nem fala mais de dólares, fala de USDT. Você já vê o USDT em todos os lugares, já tem grandes empresas buscando maneiras de adquirir para colocar no seu capital ou para ter que fazer pagamentos”, explicou.
3 – O papel da regulação
A regulação é vista como um pilar fundamental para o crescimento do mercado de criptomoedas. “Uma abordagem equilibrada ajudará a proteger os usuários e a fomentar a inovação”, diz Rocelo. Ele sugere que os reguladores comecem a entender profundamente as tecnologias em questão, priorizando a regulamentação das stablecoins e do bitcoin, que representam a maior parte do mercado.
4 – Adoção institucional e a busca por estabilidade
Além disso, Rocelo também comenta sobre a adoção de criptomoedas por grandes empresas, que está em pleno crescimento. Muitas empresas já estão organizando a inclusão de ativos digitais em suas reservas. Rocelo observa que, ao diversificar seus portfólios, essas empresas estão contribuindo para a estabilidade do mercado.
“A descentralização das instituições que detêm criptomoedas pode levar a uma maior estabilidade de preços, isso porque vamos ter muito mais profissionais olhando para o mercado e, consequentemente, não vamos ter tanta manipulação como existe hoje.”, acrescenta.
5 – Inovações e desafios tecnológicos
A tecnologia blockchain precisa ainda evoluir para oferecer maior capacidade de processamento e escalabilidade. Rocelo menciona a importância de inovações, como as Confidential Transaction, que permitirão um transporte de dados mais seguro. “A única que tem isso hoje é a Liquid e a Solana”, afirma.
O empresário também alerta para os desafios atuais, como a complexidade dos aplicativos de wallets e a falta de educação financeira, que ainda dificultam a adesão de novos usuários. “Hoje, o maior risco que existe para o usuário são os vários aplicativos de carteira usando tecnologia e interfaces ruins”, ressalta.
O conhecimento ainda é uma barreira. Rocelo explica que ainda é muito complexo o modelo de auto custódia ou para o usuário entender a importância das 12 ou 24 palavras.
“O que mais ouvimos é ‘Poxa, eu vou ter que armazenar 12 palavras, eu mal decoro o meu PIN com 6 números!’. E se perder as palavras? O que acontece? Nosso objetivo é dar o poder da auto custódia ao usuário e garantir que, num caso de perda, morte ou esquecimento, ele consiga recuperar isso”, diz o CEO.
“15 anos se passaram e o mercado ainda é muito cru, principalmente na América Latina. Vejo falta de conhecimento das pessoas com relação a isso. Acredite, ainda existe uma certa relutância do mercado financeiro em entender que a criptomoeda e a blockchain vieram para ficar”, destacou.