19.2 C
Brasília
sábado, maio 17, 2025

Musical Torto Arado estreia neste sábado no Rio de Janeiro

- Advertisement -spot_imgspot_img
- Advertisement -spot_imgspot_img

O livro de Itamar Vieira Junior que ultrapassou a marca de 1 milhão de exemplares vendidos é a base para a criação de Torto Arado – O Musical, espetáculo que estreia, neste sábado (17), às 20h, no Teatro Riachuelo no centro do Rio de Janeiro.

A turnê nacional começou com grande sucesso em Salvador e seguiu para São Paulo, com sessões lotadas nas duas cidades.

Em palco, 22 profissionais – sendo seis músicos e 16 atores – contam em duas horas e vinte minutos uma história de vida e morte no sertão da Chapada Diamantina, na Bahia. 


Rio de Janeiro (RJ), 15/05/2025 – O musical Torto Arado, no Teatro Riachuelo. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Rio de Janeiro (RJ), 15/05/2025 – O musical Torto Arado, no Teatro Riachuelo. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Musical Torto Arado, no Teatro Riachuelo – Fernando Frazão/Agência Brasil

A produção aborda trabalho análogo à escravidão, racismo, resistência, sobrevivência e disputa de terra. O texto é uma adaptação livre do livro Torto Arado, do escritor Itamar Vieira Junior, e aborda ainda o universo da fé, magia, poesia e religiosidade.

Três artistas com atuação musical e teatral interpretam personagens de destaque na trama. A cantora e apresentadora Larissa Luz dá vida a Bibiana, uma das heroínas da história. A atriz, cantora, compositora e teatróloga, Bárbara Sut dá vida à Belonisia, irmã de Bibiana. 

As duas são netas de Donana, uma personagem nova na adaptação teatral, vivida pela atriz e cantora Lilian Valeska, que não conhecia o livro do Itamar Vieira Junior quando recebeu o convite para participar da montagem, em maio do ano passado.

Lilian conta que quando começou a ler a obra e ter mais detalhes da montagem ficou empolgada: 

“É uma personagem que começa com uma idade. Vai passando o tempo, e [ela] tem que ter mais peso no corpo, na voz. A história é uma história que desafia qualquer atriz. Tem muitas coisas na cabeça de Donana que ficam martelando durante a história inteira dela em cena que são sentimentos, dores e confusões, que têm que aparecer no espetáculo, durante as músicas. Acho muito importante a gente interpretar a letra de uma música que é baseada naquela história”, disse à Agência Brasil.

Para a Lilian Valeska, a estreia na Bahia teve muita representatividade.

“Muitas mulheres que vieram falar comigo [depois do espetáculo] passaram por estas coisas todas. Dava para ver e ouvir o coração delas no olhar. Era uma coisa quente e verdadeira. Acho que foi significante começar este espetáculo na Bahia.”

A atriz Larissa Luz destaca outro ponto positivo da estreia em Salvador: “estruturalmente é incomum a gente estrear grandes produções em Salvador. Geralmente a gente estreia em São Paulo ou no Rio. Então, deslocar este eixo de foco de atenção, é importante para a gente mostrar que a gente também tem possibilidade e capacidade de fazer nossas montagens estrearem por lá. Priorizar o público soteropolitano e ter a energia do lugar, da Bahia”. 


Rio de Janeiro (RJ), 15/05/2025 – O musical Torto Arado, no Teatro Riachuelo. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Rio de Janeiro (RJ), 15/05/2025 – O musical Torto Arado, no Teatro Riachuelo. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Musical Torto Arado, no Teatro Riachuelo – Fernando Frazão/Agência Brasil

A intérprete de Bibiana desta outro aspecto da montagem: o elenco majoritariamente baiano. 

“Isso tudo é muito simbólico e dialoga também muito bem com o tema da peça. É uma peça que se passa em uma cidade fictícia, mas na Bahia. Fala da região da Chapada e acho mais que justo a gente priorizar o público baiano e estrear tendo essa energia”, contou Larissa à Agência Brasil.

Foi a mãe de Larissa, professora de literatura, que lhe apresentou e incentivou a leitura da obra: “ela que me mostrou o livro e disse ‘você tem que ler, esse livro é muito especial, muito maravilhoso!’. A gente já tinha uma relação com o livro, eu e ela. Isso tudo me fez querer interpretar mais a Bibiana que é uma personagem que diz muito sobre a gente. É uma mulher aguerrida, destemida, com sede de justiça.”

Intérprete de Belonisia, Bárbara Sut já conhecia o livro e era fã de Itamar Vieira Junior. Ao saber sobre a montagem do musical e audições para a escolha do elenco, Bárbara se animou. 

“Quando soube que passei nas audições fiquei muito feliz, especialmente por ser a Belonisia, um personagem que na leitura me atravessou muito. Lembro de ficar muito tomada pela narrativa dela, poder vivê-la e ajudar a criar essa personagem no palco”

Para Bárbara, a relação de Belonisia com a linguagem se impõe, já que a personagem sofre um acidente no início da narrativa que a deixa impedida de falar. “Como fazer com que ela se comunique, possa se expressar e o público a entenda de forma orgânica e interessante cenicamente. Belonisia foi criada muito na sala de ensaio”, contou à reportagem, sobre o desenvolvimento da personagem.

Responsável pela direção-geral, Elísio Lopes Júnior, também assina a dramaturgia com Aldri Anunciação e Fábio Espírito Santo. Para o diretor, a estreia em Salvador trouxe ao elenco uma sensação de pertencimento.


Rio de Janeiro (RJ), 15/05/2025 – O diretor do musical Torto Arado, Elisio Lopes Jr, no Teatro Riachuelo. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Rio de Janeiro (RJ), 15/05/2025 – O diretor do musical Torto Arado, Elisio Lopes Jr, no Teatro Riachuelo. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

O diretor do musical Torto Arado, Elisio Lopes Jr, no Teatro Riachuelo – Fernando Frazão/Agência Brasil

“Tem uma especificidade tanto da cultura negra, quanto da cultura indígena e esse culto de fé é sempre cantado e dançado. Para mim, o DNA da criação do espetáculo vem disso. A gente está falando da nossa própria cultura e não é um musical com formato preestabelecido e sim um musical onde o universo de toda a história está misturado com o universo da fé deles e da cultura preta e indígena, que usa a dança e a música para professar sua fé”, observou em entrevista à Agência Brasil.

O diretor conta que a junção de canções do Jarê (típicas da religião de matriz africana praticada na Chapada Diamantina) com as músicas inéditas compostas, exclusivamente, para o espetáculo, contam a história do musical. 

“[As canções] não são ilustrativas, não são apenas adornos. Fazem parte da narrativa dos sentimentos dos personagens. Essa construção da dramaturgia com a música em conjunto viabilizou contar a história de uma forma que a gente conseguisse priorizar a trama e não o formato.”

Receptividade

Para o diretor-geral, a receptividade do público até agora, especialmente de pessoas que ainda não tinham lido o livro, é impressionante. 

“Foi um movimento muito forte para mim as pessoas dizendo ‘quero ler o livro, quero entender como é isso nas páginas’. Tem ainda uma informação geral nas duas experiências: tanto de quem leu como de quem não leu. As pessoas estão interessadas em saber mais sobre a própria cultura. Como a gente traz um universo que tem uma poética muito própria, é muito curioso, os costumes, a forma de lidar, as entidades que aparecem”, indicou Elísio Lopes Júnior. 

“Sinto que o brasileiro quer conhecer as suas próprias histórias. Acho que é por aí.”

Processo


Rio de Janeiro (RJ), 15/05/2025 – O musical Torto Arado, no Teatro Riachuelo. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Rio de Janeiro (RJ), 15/05/2025 – O musical Torto Arado, no Teatro Riachuelo. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Musical Torto Arado no Teatro Riachuelo – Fernando Frazão/Agência Brasil

Em 2021, Aldri Anunciação começou sozinho o trabalho de transpor o livro para o musical e decupou a obra para identificar o que poderia resultar em cenas. Inicialmente, contabilizou 468 possibilidades de cenas e as transformou em pequenas frases. O processo de redução do que poderia ser selecionado chegou a 128 cenas. 

Nesse ponto, ele se juntou a Elísio e Fábio Espírito Santo com essas cenas selecionadas. Elísio fez outra redução, desta vez para 68 cenas, a fim de alcançar o sentido teatral e elencar os personagens mais relevantes. 

“No teatro a gente não pode botar todas as personagens do romance, então a gente tensiona em Donana, que acaba se tornando protagonista também, Belonisia e Bibiana, o trio condutor dessa história. E tem a Salu, Zeca Chapéu Grande e Severo, personagens que estão dando suporte incrível de coadjuvação dessa narrativa”, conta Aldri.

Elísio, Aldri e Fábio se dividiram para desenvolver as cenas. “O maior desafio da gente foi transformar e trazer o diálogo para a cena junto com a prosódia e a construção de pensamento de cada personagem e característica no modo de fala. Isso não tem no romance que é todo a partir das personagens, mas em terceira pessoa. Trazer isso para o modo dialógico foi um desafio a três. Eles entram no início de 2024, já no ano de estreia”, contou.

“O significado maior de levar isso para o palco é a gente entender que grandes histórias de resistência, de lutas, são muitas em nosso país. Elas precisam mesmo estar no palco porque ganham relevância para além do que a gente já sabe. Tem uma boa parte da população que não sabe dessas histórias de exploração, mas ainda para os que já sabem levar para o palco significa um pouco de transcender dores”, concluiu.

Músicas inéditas

Autor das composições inéditas apresentadas no espetáculo, o cantor e compositor Jarbas Bittencourt assina a direção musical. Ele conta que o trabalho foi concentrado em dois meses, em imersão absoluta, para que tivesse o cuidado necessário com o livro de Itamar e um tratamento responsável e amoroso com a obra do escritor. 

Jarbas conta que algumas canções surgiram antes que as cenas existissem, o que lhe pareceu bem interessante uma vez que geralmente ocorre o contrário: “nesse caso, Elísio em alguns momentos falou ‘essa cena ainda vai ser escrita mas gostaria muito que você fizesse a canção, porque acho que canção pode inspirar a gente a escrever a cena.”

Jarbas Bittencourt trabalha com criação musical de espetáculos desde 1996, à frente da direção musical do Bando de Teatro Olodum, seu grupo de origem em Salvador, de onde saíram artistas como Érico Brás, Lázaro Ramos, Virgínia Rodrigues, Valdinéia Soriano, a Edvana Carvalho. Na visão dele, a construção da música em espetáculos musicais é o ponto alto da carreira de um compositor que trabalha com teatro.

“É como se fosse a nossa sinfonia. É o momento em que a gente coloca à prova a nossa capacidade de entendimento e de construção de música enquanto dramaturgia, enquanto texto. Esse trabalho, eu gosto de perceber e constatar que a feitura de um musical como Torto Arado, assim como Amor Barato, que fiz uns anos atrás, ou até mesmo a parte original de Ivone Lara, que também assino, é um exercício de carreira de uma vida inteira. É como se a gente se preparasse a vida inteira para este momento de dar um salto maior”, apontou à reportagem.

Jarbas também comentou sobre a referência religiosa e sua influência no musical, que traz o ritual do Jarê – culto específico da Chapada Diamantina. 

“Ali se vê a fusão ou sedimentação daquilo que vem de matriz afro-brasileira. Até o candomblé que está ali é o candomblé congo, a umbanda está ali presente de algum jeito, o catolicismo. Musicalmente falando a gente tem ali ritmos da umbanda e do candomblé que foram a primeira informação musical do que a gente ia tratar. A partir desse lugar afro sonoro do Recôncavo da Bahia a gente buscou ampliar o conceito da música para que ela conversasse com o que de fato o livro conversa, que é o interior do Brasil inteiro. Acho que no livro, através da Chapada Velha, Itamar conseguiu se comunicar com o Brasil inteiro”, completou.

O diretor e coreógrafo Zebrinha é responsável pela direção de movimento do espetáculo. A cenografia ficou a cargo de Renata Mota; o figurino com a designer Bettine Silveira e a coordenação geral é de Fernanda Bezerra, responsável também pela idealização do projeto.

Programação

A temporada de Torto Arado – O Musical segue em cartaz até 15 de junho. Quintas e sextas às 20h, sábados às 16h e às 20h, e domingos às 16h. 

Apresentado pelo Ministério da Cultura e pelo Nubank, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, o espetáculo é realizado pela Maré Produções, Ministério da Cultura e Governo Federal União e Reconstrução. 

Os ingressos a R$ 40,00 podem ser comprados na plataforma ingresso.com ou na bilheteria do teatro.


[Fonte Original]

- Advertisement -spot_imgspot_img

Destaques

- Advertisement -spot_img

Últimas Notícias

- Advertisement -spot_img