Embora o anúncio do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) tenha causado dúvidas sobre os impactos no crédito, o Bradesco BBI reitera sua recomendação para “overweight” (equivalente a compra) para as ações brasileiras. No geral, o banco avalia como positivo o pacote anunciado ontem pelo governo e enxerga dois grandes catalisadores para o Ibovespa: o fim de ciclo de alta de juros à frente e a aproximação do ciclo eleitoral em 2026.
Para o BBI, o congelamento de gastos de R$ 31,3 bilhões somado às medidas de aumento de receita são um avanço gradual positivo, que pode antecipar cortes de juros e reduzir preocupações com a sustentabilidade fiscal. Segundo cálculos do Ministério da Fazenda, o aumento de receita com a elevação do IOF é de R$ 20 bilhões para 2025 e R$ 41 bilhões para 2026 — sem considerar a reversão de parte das alíquotas hoje cedo.
Entre as grandes incertezas que são amenizadas pelo pacote do governo, o BBI diz que o aumento do IOF sobre o crédito “atua como uma política monetária mais contracionista”, com efeito similar a um aumento adicional da Selic de 0,5 ponto percentual. Segundo os analistas, esse movimento atua como uma “proteção adicional” para os investidores, ao sinalizar a desaceleração da economia no segundo semestre. Isso abriria espaço para ancorar as expectativas de inflação e fortalecer a confiança em um primeiro corte de juros em dezembro de 2025.
“A combinação de corte de gastos e aumento de receitas reforça o compromisso com a regra fiscal, ajudando a reduzir o elevado déficit público e diminuindo os temores do mercado quanto a novas medidas de estímulo que poderiam frear o processo de desaceleração econômica”, diz o banco.
No momento em que o Ibovespa tem renovado suas máximas históricas, o banco aponta que há, ainda, um duplo desconto das ações e no câmbio. Em sua avaliação, o Brasil é o mercado de ações mais barato entre os principais do mundo, ao considerar preço sobre lucro (P/L) e “dividend yield” (retorno de dividendos), além da desvalorização do real em relação à média histórica.
O banco projeta que o movimento de retorno de capital estrangeiro deve continuar, impulsionado pela rotação de portfólios que vêm saindo dos Estados Unidos.
Diante desse cenário de proximidade de fim de ciclo de aperto monetário, a carteira recomendada do BBI prioriza empresas sensíveis à taxa de juros (como Localiza, Assaí e Energisa), proxies do mercado de capitais (BTG Pactual, XP) e estatais (Petrobras, Banco do Brasil).