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domingo, junho 8, 2025

Cenário externo tem mudado de forma rápida, diz José Júlio Senna

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Especialistas discutem nesta sexta-feira (23) qual a real influência do atual cenário externo turbulento em decisões do Banco Central (BC) sobre política monetária, ou seja, em elevar ou reduzir a taxa básica de juros (Selic).

José Júlio Senna, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-diretor do BC, afirmou que, em seu entendimento, as decisões sobre política monetária brasileira, de como conduzir daqui para frente o atual ciclo de aperto monetário (que começou em meados do ano passado), devem ser influenciadas, também pelo cenário externo. E a tendência do mercado externo, frisou, tem mudado de forma rápida.

O especialista ponderou que o BC sempre tenta trabalhar com um grau de aperto monetário que não leve a uma atividade econômica ruim no país – e que, ao mesmo tempo, cumpra a meta de conter avanço inflacionário no Brasil.

No entanto, o economista comentou que, em seu entendimento, não é possível tomar decisões de política monetária sem levar em contar o que ocorre no mundo.

Senna ponderou que, não faz muito tempo, se falava em recessão na economia americana. Tal fato poderia conduzir a ritmo mais fraco de atividade global – com possível consequência na economia brasileira. “Haverá de fato desaceleração economia americana e com isso desaceleração da economia mundial?”, questionou ele, em evento no Rio.

Senna explicou que, em caso de recessão global, a economia brasileira também poderia ser afetada, ou seja: também poderia desaquecer, por influência. Com isso, não seria necessário elevar taxa básica de juros (Selic) para conter o aquecimento de mercado interno.

No entanto, também no mesmo evento no Rio, Fernanda Guardado, economista-chefe para América Latina no BNP Paribas e também ex-diretora do BC, considera que ocorrerá desaceleração na economia americana, mas sem recessão. Assim, impactos desse aspecto específico do quadro externo não devem ter tanto impacto significativo na economia brasileira, opinou ela.

Para Guardado, a dinâmica interna do mercado brasileiro vai se sobrepor ao cenário internacional, no que concerne como fatores determinantes na condução de juros. No entendimento dela, o atual aquecimento do mercado interno infere em uma Selic elevada “por pelo menos um ano”.

Tiago Berriel, estrategista-chefe do BTG Pactual Asset Management e ex-diretor do BC, comentou que, em seu entendimento, em política monetária “não dá para fugir do debate um remédio ruim antes”. Ou seja: o especialista ponderou que, em sua análise, possíveis sinais de cenário inflacionário ruim, no futuro, devem influenciar decisões de política monetária, no presente – e é assim que o BC deve agir. “Deve-se escolher os riscos que vamos tomar, não há escapatória.”

Sobre o atual cenário externo, Berriel concordou com Senna e Guardado do atual quadro instável. Para ele, é possível dizer que a economia global deve operar a ritmo menor. Principalmente, continuou, por conta da decisão do governo americano em promover o “tarifaço” contra parceiros comerciais. Mas não se sabe em que intensidade essa diminuição de ritmo da economia mundial será, comentou Berriel.

O estrategista-chefe comentou ainda que não se sabe se, com o “tarifaço” de Donald Trump, presidente americano, haverá deslocamento de negócios dos Estados Unidos para a China. Ou seja: se parceiros comerciais poderiam manter ritmo de negócios, a trocar um país pelo outro, em termos de alocação de mercadorias e exportações.

Outro aspecto considerado por ele é o fato de que não se sabe como o quadro internacional atual de “guerra de tarifas” afetará preços de commodities no longo prazo. O técnico ponderou que o ritmo de cotação de commodities, para cima ou para baixo, afeta o PIB nominal brasileiro e, por consequência, o ritmo de aquecimento de mercado interno. Que é justamente o que o BC vê quando se decide sobre juros.

“É uma situação muito delicada assumir que, em caso de recessão forte, teremos uma desinflação forte [no Brasil]” afirmou.

Berriel lembrou ainda que economistas e analistas têm errado, sucessivamente, ano a ano, quando a economia brasileira iria desacelerar de forma mais intensa. Além disso, não se sabe ainda os efeitos das decisões fiscais atuais do governo na economia real.

Para o economistas, assim, é preciso ponderar todos esses fatores, quando se menciona sobre o que fazer em condução de política monetária.

Os especialistas participam de XI Seminário Anual de Política Monetária, promovido pelo Centro de Estudos Monetários (CEM) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), no Rio.

José Júlio Senna, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-diretor do BC — Foto: Ana Paula Paiva/Valor

[Fonte Original]

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