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sábado, maio 24, 2025

Crítica | As Aventuras de José e Durval – Plano Crítico

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Entre as diversas produções originais Globoplay, destaca-se a série As Aventuras de José & Durval, que, assim como Rensga Hits!, tem a sua trama no universo sertanejo. Narrando uma história real, porém com um nome incomum para uma biografia – quase um conto de fadas da Cinderela – de uma das duplas sertanejas de maior sucesso do país, a minissérie retrata a vida de Chitãozinho & Xororó. Além disso, ela vem embalada por refrões conhecidos, os quais tratam de dramas românticos ou miram o homem do campo, ou seja, o sertanejo raiz. Quem aí nunca soltou o gogó ao ouvir o segundo hino do Brasil, que se chama Evidências? É um clássico dos clássicos nas comemorações! É até surpreendente que tenha demorado tanto tempo para que a dupla-protagonista, assim como a família Camargo – que teve um filme para contar a sua história, com o famoso filme 2 Filhos de Francisco: A História de Zezé di Camargo & Luciano -, tenha ganhado uma produção ficcional para retratar a intimidade de como tudo começou antes de toda a fama.

Tudo inicia com a direção de Hugo Prata e com o roteiro de Rafael Lessa, permitindo ao seriado ir além, isto é, o telespectador é convidado a conhecer a essência da música caipira com doses generosas de música, mas com um equilíbrio sensível. Isso foi possível, é claro, com a bela escalação do elenco, pois, se a química entre os atores – juntamente à perfeita fotografia e figurino – é capaz de levar uma produção televisiva a outro patamar, esta série faz isso em uma escala exponencial. Inclusive, se tivesse sido combinado, não teria dado tão certo, afinal de contas, os protagonistas são interpretados também pelos irmãos Rodrigo Simas e Felipe Simas, os quais encararam com perfeição a proposta de uma trupe artística familiar. Se Chitãozinho e Xororó são irmãos sintonizados desde o berço e, agora, como co-compositores, formam uma dupla sertaneja no sentido amplo da classificação, os irmãos Simas conseguiram a maestria de interpretá-los da melhor maneira possível.

Há quem se engane que a escalação certeira foi apenas dos dois protagonistas, porque Andréia Horta e Marco Ricca também foram excelentes em suas atuações, como Araci e Mário, mãe e pai de José e de Durval. Até o terceiro episódio, a dupla foi interpretada de forma exemplar pelos estreantes atores mirins Pedro Tirolli e Pedro Lucas, respectivamente. Aqui vale ressaltar a potência de mãe e de mulher na figura de Araci, da qual Horta extraiu a sua força do fundo do poço das emoções, repleta de energia e de infelicidade, seja pelo amor, seja pela raiva.  Ela tem cenas fortes, com ataques de fúria, que a levaram a internações em hospitais psiquiátricos para cuidar da sua saúde mental, sem ser caricata em nenhum momento. A atriz entende a bipolaridade de sua personagem, assunto que na época não era discutido e, por muito tempo, essa condição dela era um tabu na família. 

Já Ricca possui uma atuação mais contida, todavia não menos emocionante, comovendo-nos com o Mário, o chefe da família. Aos poucos, ele vai se afeiçoando ao alcoolismo, sem saber lidar com tanta pobreza, juntamente à doença psíquica de sua esposa. Em meio a isso, o brilhante Augusto Madeira, ao interpretar Geraldo Meirelles, mais conhecido Bira, dono do primeiro teatro de péssima qualidade em que os meninos se apresentaram, é um dos destaques dos quatro episódios iniciais, afinal ele foi um dos grandes incentivadores da dupla. O enredo começa em 1968, na infância dos músicos, em Rondon, no interior do estado do Paraná, e atravessa o tempo nos anos de 1970, 1980 e 1990. Notoriedade para a formidável cenografia e o excelente figurino que reconstituíram todos esses períodos, ajudando a carregar o telespectador para a jornada musical dos músicos sertanejos.

Além do elenco principal, outros personagens também ajudaram a compor o enredo, como a Rosária, irmã da dupla, interpretada em fases distintas pelas atrizes Duda Galvão e Ana Herman; a Noely Lima também se destaca ao ser interpretada por Màrjorie Gêrardi, enquanto Larissa Ferrara é Adenair, a primeira esposa de Chitãozinho. Por fim, temos Homero Béttio (Thiago Brianti), amigo e empresário dos irmãos, e a prostituta Jalmira, interpretada pela atriz Talita Younan. Com o passar dos anos e a convivência com essas pessoas, eles enfrentaram dificuldades até conseguirem de fato conquistar o coração das pessoas, de modo que as suas músicas pudessem passar de geração para geração, contendo inclusive musicais de seus maiores sucessos, como Galopeira e Saudade da Minha Terra. Dos ensaios na humilde casa da família às apresentações em quermesses, em caravanas, passando por circos e por bares, até o estouro nos anos de 1980 e de 1990. 

Dentre os principais empecilhos que eles enfrentaram até a tão sonhada chegada do sucesso musical foi o fato de a música caipira ter sido considerada “inferior” e “brega” em relação aos outros ritmos musicais que estavam “na boca do povo”, como o rock nacional, com Titãs, Cazuza, RPM, dentre outros. Foi Chitãozinho & Xororó que assimilou elementos da música pop e do rock à música caipira, diminuindo, por exemplo, as barreiras de aceitação do sertanejo nos grandes centros. Ficou claro o encantamento de José e de Durval por artistas de outros gêneros, como na cena em que eles ouvem Raul Seixas pela primeira vez na vida. Ademais, em virtude de a produção ter decidido fazer um seriado ao invés de um filme funcionou para o público habituado a consumir episódios em maratonas nas plataformas de streaming e, ainda, distanciou a obra de comparações com o já mencionado filme 2 Filhos de Francisco, que obviamente possuem diversas semelhanças históricas apesar das licenças poéticas construídas por se tratarem de obras ficcionais.

Percebe-se, portanto, que o caminho de sucesso da dupla foi repleto de desafios no caminho, conquistando gerações de fãs pelo Brasil, com grandes hits musicais, seja nas cantorias em karaokês, seja nas festas de família. Somado a isso, eles também embalaram a trilha sonora de novelas da Rede Globo, assim como estão presentes nas rádios e em participações de programas de TV. Os dois, Chitãozinho & Xororó têm uma carreira de mais de 50 anos, sendo o embalo musical de muitas histórias, contudo, o grande público não imagina que a vida deles teve grandes empecilhos. Desse modo, evidencia-se que As Aventuras de José & Durval é uma aventura extremamente brasileira, com ingredientes da dramaturgia universal: tem tristeza, mas tem também muita esperança. Não por acaso, os protagonistas mencionaram mais de uma vez a intenção de “correr atrás do nosso sonho” e eles conseguiram: o Brasil ama e acompanha o universo sertanejo.

As Aventuras de José e Durval (Brasil, 2023)
Criação: Hugo Prata
Direção: Hugo Prata, Kitty Bertazzi
Roteiro: Duda de Almeida, Dan Rosseltto, Rafael Lessa
Elenco: Andréia Horta, Felipe Simas, Rodrigo Simas, Marco Ricca, Augusto Madeira, Natália Dal Molin, Thiago Brianti, Hugo Polosso, Màrjorie Gêrardi, Larissa Ferrara, Pedro Tirolli, Pedro Lucas, Duda Galvão, Ana Herman, Talita Younan, Aramis Trindade, Débora Veneziani, Giovana de Toni, Aramis Trindade, Marcelo Várzea, Che Morais, Drayson Menezes, Thierry Tremouroux
Duração: 08 episódios – Cada episódio tendo 40 minutos de duração, em média.



[Fonte Original]

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