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sábado, junho 7, 2025

“O agente secreto”, de Kleber Mendonça Filho leva os prêmios de melhor direção e melhor atuação masculina – Revista Cult

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O cineasta iraniano Jafar Panahi se consagrou como o grande vitorioso do Festival de Cannes de 2025. Seu Un simple accident (It was just an accident) foi escolhido pelo júri comandado pela atriz francesa Juliette Binoche como o vencedor da Palma de Ouro, principal láurea do evento francês.

O longa conta a história de um homem que sequestra o sujeito que o torturou no passado, quando foi preso após participar de um protesto em busca de melhorias salariais – no Irã, algumas manifestações públicas são passíveis de punições bastante rígidas. Discutindo até que ponto uma pessoa deve levar sua sede de vingança adiante, o longa garantiu a Panahi uma façanha: agora tem na estante o prêmio principal de cada um dos três principais mostras de cinema do mundo – já tinha vencido o Leão de Ouro em Veneza em 2000, por O círculo, e o Urso de Ouro em Berlim, em 2015, por Táxi Teerã. Panahi rodou Un simple accident clandestinamente – no passado, já foi preso por suas posições contrárias ao governo autoritário de seu país.

Mas o Brasil teve uma excelente participação no evento, levando dois prêmios, por O agente secreto. O cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho foi agraciado com o prêmio de direção, enquanto Wagner Moura foi premiado com o troféu de melhor interpretação masculina.

Os prêmios coroam um período áureo do cinema no Brasil, que só neste primeiro semestre de 2025 havia vencido o Grande Prêmio do Júri, no Festival de Berlim, com O último azul, de Gabriel Mascaro, e o Oscar de melhor filme internacional, com Ainda estou aqui, de Walter Salles. O agente secreto se passa em 1977 e conta a história de um pesquisador universitário (vivido por Moura) que precisa fugir da própria morte depois que um poderoso empresário contrata dois assassinos para matá-lo – o sujeito acha que as pesquisas realizadas pelo intelectual podem ameaçar o andamento de seus negócios.

Traçando um grande painel sobre a sociedade brasileira, em seus conflitos e desigualdades, o filme mescla drama, comédia e thriller policial, sem deixar de lado uma abordagem de cunho político sobre as contradições de um país em que o arcaico precisa conviver com o novo, e os valores individualistas coexistem com concepções sociais de natureza mais humanista. O longa havia vencido, um pouco antes, o prestigiado prêmio Fipresci, conferido pelos críticos de cinema no evento.

O Prêmio Especial do Júri, o segundo mais importante, foi para Sentimental value, do dano-norueguês Joachim Trier. O longa conta a história de um diretor de cinema internacionalmente renomado que tem problemas de relacionamento com a filha, uma atriz de teatro famosa na Noruega. Quando ele decide filmar uma história muito pessoal, falando de suas angústias, pede para que a filha protagonize o longa, mas ela rejeita o convite, sendo posteriormente substituída por uma estrela de Hollywood cuja carreira se encontra em baixa. O filme se concentra nas dificuldades de comunicação entre pai e filha, ecoando as inquietações existenciais da obra de outro cineasta nórdico de grande prestígio, o sueco Ingmar Bergman.

O Prêmio do Júri foi dividido entre dois filmes: Sirat, do franco-espanhol Óliver Laxe, e Sound of falling, da alemã Mascha Schilinski. O primeiro mostra a história de um espanhol que vai ao Marrocos procurar sua filha, que ele suspeita que possa aparecer em alguma festa rave no deserto do país. Talvez tenha sido o longa mais ousado da competição, com um roteiro que surpreende na reta final. O segundo acompanha uma mesma casa ao longo de vários anos, com foco em mulheres que habitaram o local e seus dramas em épocas distintas. A cineasta mostra um apuradíssimo talento para a composição de imagens.

Resurrection, do chinês Bi Gan, levou o Prêmio Especial, categoria inexistente há até pouco tempo, mas que pelo visto passará a fazer parte do festival. É uma trama futurista, sobre uma época em que os humanos perderam a possibilidade de sonhar – mas um homem consegue manter seus devaneios, revisitando em seus períodos oníricos épocas distintas da história da China.

A francesa Nadia Melliti levou o prêmio de melhor interpretação feminina, em La petite dernière, de Hafsia Herzi, em que dá vida a uma jovem lésbica começando a entender melhor sua sexualidade. Foi talvez a maior surpresa da cerimônia de encerramento, já que a favorita era a iraniana Parinaz Izadyar, por Mother and child, em que vive uma mãe em luto pela morte do filho. E o troféu de melhor roteiro foi entregue aos irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne, por Jeunes mères, em que falam de mães muito jovens que enfrentam problemas como pobreza, machismo e vício em entorpecentes.

A premiação não chegou a surpreender, se pensarmos que os filmes laureados eram de fato os que estavam na linha de frente da disputa segundo o boca a boca pela Croisette. Mas a ausência de prêmios para Two prosecutors, do bielorusso-ucraniano Sergei Loznitsa, talvez tenha sido a grande falha do júri comandado por Binoche. No mais, Cannes 2025 consolida a excelente fase do nosso cinema, e tanto oficializa Wagner Moura como um astro internacional como insere de uma vez por todas Kleber Mendonça Filho na elite dos grandes cineastas em atividade em todo o mundo.

 

 

 



[Fonte Original]

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