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domingo, junho 8, 2025

Entenda: Os EUA e a UE estão em um confronto sobre comércio. O que Trump quer e o que a Europa pode oferecer?

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Funcionários do alto escalão da comissão executiva da União Europeia (UE) afirmam estar pressionando fortemente por um acordo com o governo de Donald Trump para evitar uma tarifa de 50% sobre os produtos importados. Trump ameaçou impor as tarifas em 1º de junho, mas estendeu o prazo para 9 de julho, repetindo uma tática que vem usando com frequência em sua guerra comercial.

Os negociadores europeus estão lidando com as ameaças tarifárias imprevisíveis e em constante mudança de Trump, mas “mesmo assim, eles precisam apresentar algo que, com sorte, o apazigue”, diz Bruce Stokes, pesquisador sênior visitante do German Marshall Fund dos Estados Unidos.

Stokes diz que há mais em jogo do que apenas divergências sobre déficits comerciais. As ameaças de Trump “têm origem em uma frustração com a UE que pouco tem a ver com comércio. Ele não gosta do bloco. Ele não gosta da Alemanha”.

Mas afinal, o que Trump quer? O que a Europa pode oferecer? A seguir, os principais pontos de tensão entre os dois lados.

Repetidamente, Trump vem lamentando que a Europa vende mais coisas para os americanos do que compra deles. A diferença, ou o déficit comercial em bens, no ao passado foi de 157 bilhões de euros (US$ 178 bilhões). Mas a Europa afirma que quando se trata de serviços, especialmente serviços digitais como propaganda on-line e computação em nuvem, os EUA vendem mais do que compram e isso reduz o déficit comercial geral para 48 bilhões de euros, o que representa apenas cerca de 3% do comércio total. A Comissão Europeia diz que isso significa que o comércio está “equilibrado”.

Uma maneira de mudar o comércio de mercadorias seria a Europa comprar mais gás natural liquefeito (GNL) dos EUA por navio. Para fazer isso, a UE poderia cortar completamente as importações remanescentes de gás russo, tanto por gasoduto como na forma de GNL. A Comissão Europeia está preparando uma legislação para forçar o fim dessas compras até o fim de 2027. No ano passado, elas ainda representavam cerca de 19% das importações.

Isso pressionaria as empresas privadas europeias a buscar outras fontes de gás, como os EUA. Entretanto, o afastamento da Rússia já está em curso e isso “claramente não tem sido suficiente para satisfazer [Trump]”, segundo disse Laurent Ruseckas, um especialista em mercados de gás natural da S&P Global Commodities Insights Research.

A Comissão Europeia não compra gás diretamente, mas pode recorrer à chamada “persuasão moral” para convencer as empresas a passarem para fornecedores americanos nos próximos anos. Porém, “isso não é uma solução mágica, nem algo que trará resultados imediatos”, diz Simone Tagliapietra, analista de energia do centro de estudos Bruegel de Bruxelas.

Outra possibilidade seria a Europa comprar mais de fabricantes de armamentos dos EUA, como parte de seu esforço para dissuadir novas agressões da Rússia após a invasão da Ucrânia, diz Carsten Brzeski, economista-chefe global do banco ING.

No entanto, se os países europeus de fato aumentarem seus gastos com defesa – outra das exigências de Trump -, seus eleitores provavelmente insistirão que as compras sejam feitas de empresas de defesa da Europa, e não dos EUA, segundo Stokes, do German Marshall Fund. Uma maneira de contornar esse obstáculo político seria as companhias de defesa dos EUA construírem fábricas na Europa, mas “isso levaria tempo”, diz ele.

A UE também poderia reduzir seu imposto de 10% sobre os automóveis estrangeiros – uma das antigas queixas de Trump contra a Europa. “De todo modo, os EUA não vão exportar muitos carros para a Europa. Os alemães seriam os mais resistentes, mas não acho que eles estejam terrivelmente preocupados com a concorrência da América”, diz Edward Alden, pesquisador sênior do Council on Foreign Relations. “Isso seria uma vitória simbólica para o presidente.”

Uma disputa devido à carne

Há tempos os EUA reclamam das normas europeias sobre alimentos e produtos agrícolas, que impedem a entrada de carne bovina tratada com hormônios e frangos desinfetados com cloro. Mas especialistas não esperam que os negociadores comerciais da UE façam concessões nessa área.

“A UE não está disposta a capitular”, diz Mary Lovely, pesquisadora sênior do Peterson Institute for International Economics. “A UE já disse várias vezes que não mudará suas regras sanitárias, suas regras sobre culturas geneticamente modificadas ou sobre frangos tratados com cloro, coisas que há muito tempo incomodam os EUA.”

Recuar nessas questões, diz ela, significaria que “os EUA passariam a ditar os padrões de segurança alimentar da Europa”.

Imposto sobre valor agregado

Uma das implicâncias recorrentes de Trump tem sido com o imposto sobre valor agregado usado pelos governos europeus, um imposto que, segundo ele, representa um ônus para as empresas americanas.

Economistas afirmam que esse tipo de imposto, usado por cerca de 170 países, é neutro em termos comerciais porque se aplica igualmente a importações e exportações. O imposto sobre valor agregado, ou IVA, é pago pelo comprador final no caixa, mas difere dos impostos sobre vendas porque é calculado em cada etapa do processo de produção. Nos dois casos, IVA e imposto sobre vendas, importações e exportações recebem o mesmo tratamento. Os EUA são um caso atípico, pois não utilizam o IVA.

Há poucas chances de que países mudem seus sistemas tributários para agradar Trump – a própria União Europeia já descartou essa possibilidade.

Estratégia de negociação

A abordagem de Trump em negociações tem envolvido ameaças de tarifas astronômicas – de até 145% no caso da China -, antes de fechar acordos com taxas bem mais baixas. De todo modo, a Casa Branca tem adotado a posição de não aceitar nada abaixo de um piso de 10%. A ameaça de 50% para a UE é tão alta que equivale a um “embargo comercial efetivo”, diz Brzeski, uma vez que imporia custos que tornariam as importações inviáveis ou significaria cobrar dos consumidores preços tão altos que os produtos perderiam a competitividade.

Como os pontos mais espinhosos que dividem a UE e os EUA – os padrões de segurança alimentar, o IVA, a regulamentação das empresas de tecnologia – são tão difíceis de resolver que é “impossível imaginar que eles sejam solucionados até o prazo final”, diz Alden. “O que pode acontecer, e Trump já demonstrou disposição para isso, é um acordo muito pequeno”, como o que ele anunciou no último dia 8 com o Reino Unido.

Os economistas Oliver Rakau e Nicola Nobile, da Oxford Economics, escreveram em um comentário nesta segunda (26) que, se forem impostas, as tarifas de 50% poderiam reduzir em até 1% no próximo ano a economia conjunta dos 20 países que usam o euro e cortar em mais de 6% os investimentos empresariais.

A UE ofereceu aos EUA uma solução “zero por zero”, em que as tarifas seriam removidas sobre os bens industriais dos dois lados, inclusive sobre automóveis. Trump rejeitou essa proposta, mas autoridades da UE disseram que ela continua na mesa.

Lovely, do Peterson Institute, vê as ameaças e a arrogância como uma forma de negociação de Trump. “No curto prazo, não acredito que 50% será a nossa realidade”.

Mas ela afirma que a estratégia de Trump aumenta a incerteza em torno da política dos EUA, o que está paralisando os negócios. “Isso sugere que os EUA são um parceiro comercial não confiável, que opera por capricho e não de acordo com o Estado de Direito”, diz Lovely. “Amigo ou inimigo, você não será bem tratado por esse governo.”

[Fonte Original]

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