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domingo, junho 8, 2025

Pessimismo que cerca a seleção brasileira na estreia de Ancelotti é cíclico como o futebol

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A cada quatro anos, chegamos a uma conclusão: o Brasil não produz mais jogadores de alto nível. Basta acabar uma Copa do Mundo sem a conquista do título — o que, infelizmente, vem se repetindo com assustadora frequência — que a certeza bate. Era exatamente isso que vocês da imprensa diziam depois de um 0 a 0 com o Equador, em Guayaquil… em 1993! Quem se lembrou disso foi o colega e amigo Paulo Vinicius Coelho, na Rádio CBN. O PVC citou manchetes da época e resolvi pesquisar a do GLOBO naquele dia 19 de julho. “Brasil lucra com empate”, dizia o Caderno de Esportes, de cuja equipe eu fazia parte.

O ataque, naqueles tempos de 4-4-2, era formado por Bebeto (“Muita correria e um gol perdido. Só”, segundo o texto das atuações) e Careca (“Um pouco mais efetivo”). Logo depois, veio a derrota por 2 a 0 para a Bolívia, a primeira da seleção na história das Eliminatórias. E pronto, o fim estava decretado.

Poderia dizer que o resto é história, mas prefiro ser mais específico: nas três Copas seguintes, o Brasil disputou as três finais e ganhou duas, com jogadores como Romário, Rivaldo, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e Kaká — todos vencedores da Bola de Ouro da Fifa. Em 2006, com os quatro últimos no time e um favoritismo gigante, começou uma seca de títulos que dura até hoje. Nesse período, Vini Jr foi o único brasileiro eleito o melhor do mundo, o que só aconteceu no ano passado.

Depois de mais esse período de fracassos, chegamos a outra conclusão que está sempre ali, pronta para ser lançada: o brasileiro não liga mais para a seleção. Trata-se de uma convicção frequentemente atropelada pelos fatos. O ibope do jogo contra o Equador foi o maior do ano na TV Globo, e a fila de espera de ingressos para Brasil x Paraguai, na Neo Química Arena, já passa de cem mil pessoas, mais do que o dobro da capacidade do estádio. Claro que são números inflados pela estreia de Carlo Ancelotti, um dos maiores treinadores do mundo e o primeiro estrangeiro a dirigir a seleção brasileira na era moderna do futebol. Mas a distância entre não ligar e bater recordes é grande demais para botar na conta de uma pessoa só.

Sob o calor de Guayaquil e sobre a grama ruim do Estádio Monumental, a expectativa se transformou em tédio —os dois estados entre os quais se equilibra a mente humana, segundo Mihaly Csikszentmihaly, autor de “Flow”, um livro que poderia muito bem ter sido escrito sobre como gostaríamos que a seleção jogasse: num fluxo contínuo de talento e habilidade, sem que pareça preciso pensar sobre o que se está fazendo. Algo que se costuma atingir com dez mil horas de prática, e não em dois treinos.

E aqui chegamos à terceira frase feita: o que Espanha e França fizeram horas antes, num 5 a 4 emocionante, parecia outro esporte. Mas é o mesmo esporte praticado pela seleção espanhola de 2022, que, sob o comando de Luis Enrique, atualmente celebrado como campeão da Champions pelo PSG, perdeu do Japão e foi eliminada pelo Marrocos? Ou será que tudo é futebol, um esporte que tem seus ciclos e cujos praticantes costumam responder às condições de trabalho que lhes são oferecidas? Procurar as repostas me parece bem mais útil do que vir com elas prontas.

[Fonte Original]

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