21.5 C
Brasília
domingo, junho 8, 2025

Dona do ChatGPT quer oferecer bot de IA como ‘boas-vindas’ a calouros universitários nos EUA

- Advertisement -spot_imgspot_img
- Advertisement -spot_imgspot_img

A OpenAI, criadora do ChatGPT, tem um plano para reformular o ensino superior nos Estados Unidos — integrando suas ferramentas de inteligência artificial em todos os aspectos da vida universitária.

Se a estratégia da empresa for bem-sucedida, as universidades oferecerão assistentes de IA para acompanhar e orientar os alunos desde o primeiro dia de aula até a formatura. Professores poderão fornecer bots de estudo personalizados para cada disciplina. Os serviços de carreira disponibilizarão chatbots de recrutamento para treinar entrevistas de emprego. E os estudantes poderão ativar o modo de voz do chatbot para serem questionados em voz alta antes de uma prova.

A OpenAI chama essa proposta de “universidades nativas de IA”.

“Nossa visão é que, com o tempo, a IA se torne parte da infraestrutura essencial do ensino superior”, disse Leah Belsky, vice-presidente de educação da OpenAI, em entrevista. Assim como as faculdades fornecem contas de e-mail institucionais, ela afirma que, em breve, “todo aluno que chegar ao campus terá acesso a uma conta de IA personalizada”.

Para disseminar os chatbots nas universidades, a OpenAI está vendendo serviços premium de IA voltados ao uso por professores e alunos. Também está promovendo campanhas de marketing com foco em estudantes que nunca usaram chatbots, incentivando-os a experimentar o ChatGPT.

Algumas instituições, como a Universidade de Maryland e o sistema da Universidade Estadual da Califórnia, já estão integrando essas ferramentas no cotidiano acadêmico. No início de junho, a Universidade Duke passou a oferecer acesso ilimitado ao ChatGPT para alunos, professores e funcionários. A instituição também lançou uma plataforma própria chamada DukeGPT, com ferramentas desenvolvidas internamente.

A campanha da OpenAI faz parte de uma corrida tecnológica acirrada para conquistar espaço nas universidades e entre os estudantes. A empresa segue os passos de rivais como Google e Microsoft, que há anos promovem seus softwares e dispositivos no ambiente escolar, mirando nos estudantes como futuros clientes.

A disputa chegou a tal ponto que Sam Altman, CEO da OpenAI, e Elon Musk, fundador da concorrente xAI, publicaram anúncios rivais nas redes sociais oferecendo acesso gratuito aos seus serviços premium de IA para estudantes durante o período de provas. Em seguida, o Google foi além e anunciou acesso gratuito ao seu chatbot premium para estudantes “até o final de 2026”.

A OpenAI impulsionou a atual tendência de IA na educação. No fim de 2022, o lançamento do ChatGPT — capaz de gerar redações e trabalhos com linguagem humana — deu início a uma onda de fraudes acadêmicas envolvendo chatbots. Ferramentas generativas como o ChatGPT, treinadas com grandes volumes de texto, também podem gerar informações falsas, o que pode confundir os alunos.

Menos de três anos depois, milhões de estudantes universitários usam regularmente chatbots de IA como apoio em pesquisas, redações, programação e geração de ideias. Agora, a OpenAI está capitalizando sobre a popularidade do ChatGPT para promover seus serviços como nova infraestrutura do ensino superior.

O ChatGPT Edu, serviço universitário da empresa, oferece mais funcionalidades e garantias de privacidade em relação à versão gratuita. Ele permite que professores e funcionários criem bots personalizados com base nas necessidades da universidade. (A OpenAI também oferece versões premium ao público mediante assinatura mensal.)

O esforço da OpenAI para integrar IA à educação superior representa um experimento nacional nos EUA, com milhões de alunos. O uso desses chatbots nas universidades ainda é tão recente que seus potenciais benefícios educacionais — e também os riscos — ainda não estão totalmente compreendidos.

Alguns estudos iniciais indicam que delegar tarefas como pesquisa e escrita aos chatbots pode enfraquecer habilidades como o pensamento crítico. E há críticos que alertam que o entusiasmo das universidades ignora questões como riscos sociais, exploração de trabalho para treinar IA e impactos ambientais.

O marketing da OpenAI nos campi coincide com o aumento do desemprego entre recém-formados — especialmente em áreas como engenharia de software, onde a IA tem automatizado tarefas que antes eram humanas. Buscando melhorar as perspectivas dos alunos, muitas universidades estão correndo para oferecer ferramentas e treinamentos com IA.

A Universidade Estadual da Califórnia anunciou neste ano que disponibilizará o ChatGPT a mais de 460 mil estudantes em seus 23 campi, com o objetivo de prepará-los para “a economia futura da Califórnia, impulsionada pela IA”. A universidade afirmou que a medida ajudará a torná-la “o primeiro e maior sistema universitário com IA dos Estados Unidos”.

Algumas instituições afirmam que estão adotando essas ferramentas justamente para orientar o desenvolvimento da tecnologia e estabelecer limites adequados.

“Você está preocupado com questões ecológicas. Com desinformação e viés algorítmico?”, disse Edmund Clark, diretor de TI da Universidade Estadual da Califórnia, durante uma conferência educacional em San Diego. “Então participe. Nos ajude a moldar o futuro.”

Há cerca de um ano, a OpenAI lançou o ChatGPT Edu, seu primeiro produto voltado para universidades, com acesso à IA mais recente da empresa. Clientes pagantes, como as universidades, contam também com maior privacidade: a OpenAI afirma que não utiliza os dados inseridos por alunos, professores e administradores para treinar seus modelos de IA.

No final do ano passado, a OpenAI contratou Leah Belsky para liderar os esforços educacionais. Veterana do setor de tecnologia educacional, ela trabalhou anteriormente na Coursera, plataforma de cursos universitários e profissionais.

Belsky tem seguido uma estratégia dupla: vender serviços premium para universidades enquanto promove o ChatGPT gratuito diretamente aos estudantes. A empresa também formou um painel de alunos universitários para ajudar a divulgar o uso da tecnologia entre os colegas.

Entre esses alunos está Delphine Tai-Beauchamp, estudante de ciência da computação da Universidade da Califórnia, na cidade de Irvine. Ela usa o chatbot para entender conceitos difíceis, identificar erros em códigos e criar diagramas com conexões entre ideias.

“Eu não recomendaria usar a IA para evitar as partes difíceis do aprendizado”, disse ela. “Mas recomendo usá-la como apoio. Peça para ela explicar algo de cinco maneiras diferentes.”

Belsky afirmou que sugestões como essas inspiraram a primeira campanha de outdoors da empresa voltada a estudantes universitários.

“Você pode me testar sobre os músculos da perna?”, dizia um dos outdoors do ChatGPT exibido recentemente em Chicago. Outro anunciava: “Me dê um guia para dominar este plano de aula de Cálculo 101.”

Outdoors da publicitária do ChatGPT voltada para universitários em prédios no bairro River North, em Chicago, nos EUA, em abril deste ano — Foto: Jamie Kelter Davis/The New York Times

Ela disse que a OpenAI também começou a financiar pesquisas sobre os efeitos educacionais do uso de seus chatbots.

“O desafio é descobrir quais são os usos mais impactantes da IA nas universidades”, disse Belsky em um evento da Cornell Tech, em Nova York, em dezembro. “E depois como replicar essas boas práticas em todo o ecossistema.”

Alguns professores já criaram seus próprios chatbots personalizados com base no material de suas aulas, como apostilas, slides, vídeos e provas.

Jared DeForest, professor e chefe do departamento de biologia ambiental e vegetal da Universidade de Ohio, criou um bot tutor chamado SoilSage, capaz de responder perguntas dos alunos com base em suas pesquisas e conhecimentos científicos. Limitar o chatbot a fontes confiáveis melhorou a precisão das respostas, segundo ele.

“O chatbot personalizado me permite controlar o conteúdo para entregar exatamente o que desejo no nível universitário”, afirmou DeForest.

Mas mesmo com materiais específicos, a IA pode errar. Em um estudo recente — “A IA pode atender alunos na hora de tirar suas dúvidas?” — professores de direito inseriram um livro didático sobre patentes em modelos da OpenAI, Google e Anthropic. Depois, fizeram dezenas de perguntas com base no livro e concluíram que todos os três chatbots cometeram erros jurídicos “significativos” que poderiam “prejudicar o aprendizado”.

“É um bom jeito de levar os alunos para o caminho errado”, afirmou Jonathan S. Masur, professor da Faculdade de Direito da Universidade de Chicago e coautor do estudo. “Acho que todos deveriam respirar fundo e ir com mais calma.”

A OpenAI afirmou que o livro de 250 mil palavras usado no estudo excede o dobro da capacidade de processamento do seu modelo GPT-4o. A Anthropic declarou que o estudo tem limitações por não comparar a IA com o desempenho humano. O Google disse que seus modelos estão mais precisos hoje.

Belsky comentou que um novo recurso de “memória” — que permite à IA lembrar e retomar interações anteriores — ajudará o ChatGPT a adaptar suas respostas ao longo do tempo, tornando-se “mais útil à medida que o estudante cresce e aprende”. Especialistas em privacidade alertam que esse tipo de rastreamento levanta preocupações sobre vigilância tecnológica a longo prazo.

Da mesma forma que muitos alunos hoje mantêm seus e-mails escolares após a formatura, Belsky imagina um futuro em que estudantes levem seus chatbots personalizados para os ambientes de trabalho — e os utilizem por toda a vida.

“Eles se tornariam uma porta de entrada para o aprendizado — e para a vida profissional”, disse Belsky.

[Fonte Original]

- Advertisement -spot_imgspot_img

Destaques

- Advertisement -spot_img

Últimas Notícias

- Advertisement -spot_img