A retaliação do Irã contra Israel elevou a aversão a risco entre os investidores globais nas horas finais do pregão desta sexta-feira. Embora tenha se afastado da mínima de 136.586 pontos, o Ibovespa fechou em queda de 0,43%, aos 137.213 pontos. Na máxima do dia, o índice chegou aos 137.800 pontos. As ações domésticas foram pressionadas pela alta dos juros futuros, enquanto a valorização consistente dos papéis da Petrobras ajudou a atenuar as perdas do índice.
Apesar da sessão negativa, o Ibovespa acumulou alta de 0,82% na semana.
Diante das tensões geopolíticas provocadas pelo ataque de Israel a bases militares no Irã, com o objetivo de conter o avanço do programa nuclear persa, os contratos futuros de petróleo subiram mais de 7% na sessão de hoje e, na semana, acumularam ganhos de 12%. Além disso, ameaças ao Irã feitas pelo presidente americano, Donald Trump, potencializaram a alta da commodity.
Com isso, os papéis preferenciais e ordinários da Petrobras subiram 2,46 e 2,13%, respectivamente. Desde a última terça-feira (10), a empresa ganhou R$ 32,8 bilhões em valor de mercado, alcançando os R$ 437,5 bilhões nesta sexta-feira.
Nesta semana, as ações da Petrobras também se beneficiaram das declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que o governo negocia o pagamento de dividendos extraordinários por parte das estatais para conseguir cumprir a meta fiscal deste ano.
As equipes de recursos básicos e de óleo e gás do BTG Pactual visitaram investidores no Rio de Janeiro nos últimos dias. Os analistas constaram que o tom foi bastante sóbrio, com agentes muito subalocados no setor de commodities e abertamente pessimistas em relação ao cenário mais amplo.
Segundo os analistas, a recuperação do Brent para a faixa dos US$ 70 por barril voltou a atrair os holofotes para as companhias ligadas à fase inicial da cadeia de produção de petróleo. Ainda assim, com os bancos centrais adotando um tom mais cauteloso quanto à flexibilização monetária e os sinais de demanda da China permanecendo incertos, os investidores têm se mostrado mais seletivos, dando preferência a empresas com ativos resilientes, disciplina em capex e balanços sólidos.
Para Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Pine, a alta nos preços do petróleo representa apenas um ruído temporário, e a tendência é que, com o tempo, os valores dos ativos retornem a níveis mais equilibrados. Ele também chama atenção para o potencial de os conflitos regionais redesenharem a geopolítica ao longo dos anos, sendo a escalada de tensões no Oriente Médio um exemplo desse movimento.
Apesar do ceticismo do mercado, o BTG mantém uma visão mais construtiva sobre a Petrobras. “Acreditamos que algumas das temidas intervenções governamentais podem não se concretizar, e que a empresa ainda deve entregar um ‘dividend yield’ [rendimento de dividendos] de dois dígitos (com possibilidade de distribuição extraordinária adicional), mantendo uma alavancagem gerenciável”, escrevem os analistas.
Os profissionais do BTG apontam que a Prio continua como a tese de compra consensual. A ação ordinária da companhia subiu 1,76% nesta sexta. Ainda no setor, PetroRecôncavo ON teve alta de 2,71% e Brava ON ganhou 1,51%. Ainda entre as maiores altas, Suzano ON avançou 2,19%, após o Goldman Sachs elevar sua recomendação do papel de neutra para compra e subir o preço-alvo de R$ 63 para R$ 65.
Na ponta contrária, as ações da CVC lideraram as perdas com desvalorização de 8,33%. Outras ações domésticas também recuaram em um dia de avanço dos juros futuros mais longos, caso de Magazine Luiza ON (-7,07%) e Azzas 2154 (-3,18%).
O papel da Vale ON encerrou em queda de 1,33%, diante da forte aversão a risco. Os analistas do BTG também notam pouquíssimo interesse comprador na mineradora, com a maioria dos investidores preocupada com as perspectivas para o minério de ferro.
Entre os principais vetores negativos para o papel, os especialistas observam a queda na produção de aço bruto na China, aliado ao aumento sazonal da oferta de minério no segundo semestre. Os agentes monitoram, ainda, o possível início das operações em Simandou, na África, em novembro ou dezembro; as restrições de produção na China e a contínua fraqueza do setor imobiliário.
Mesmo que o foco do dia esteja na escalada das tensões no exterior, investidores permanecem atentos aos desdobramentos em torno de mudanças no IOF. Em meio ao imbróglio político, multi-family offices têm adotado cautela e evitado mudanças estruturais nas carteiras.
“É muito cedo para fazer qualquer alteração. Temos que acompanhar e monitorar como as possíveis mudanças vão evoluir. Teve MP [medida provisória] que veio e caducou. Apesar de estarmos diante de uma medida técnica, tem muito de política”, observa Victoria Siqueira, chefe de planejamento de fortunas na Portofino MFO.
Até as 17h30, o volume financeiro negociado no índice foi de R$ 16,6 bilhões e de R$ 22,7 bilhões na B3. Em Wall Street, os principais índices americanos encerram em queda firme: o S&P 500 recuou 1,13%, o Dow Jones cedeu 1,79% e o Nasdaq contraiu 1,30%.