Crédito, Getty Images
- Author, Tom Bateman
- Role, BBC News
Os comentários do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o conflito entre Israel e Irã têm variado entre o apoio total aos ataques de Israel e o forte distanciamento deles, e vice-versa.
Após afirmar inicialmente que os EUA não tinham nenhuma relação com os ataques de Israel ao Irã, Trump fez postagens nos últimos dias pedindo que moradores deixassem a capital iraniana, Teerã, exigindo “rendição incondicional” do Irã e afirmando que os EUA conheciam a localização do líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, mas que não o matariam “por enquanto”.
A ambiguidade dele aumentou a sensação de incerteza à medida que o conflito se intensifica — e ele deixou mais cedo a cúpula do G7 no Canadá, dizendo simplesmente que tinha “coisas importantes” para fazer em Washington.
A Casa Branca afirmou que a partida do presidente americano tinha a ver com “o que está acontecendo no Oriente Médio“, enquanto mais tarde, na plataforma Truth Social, ele escreveu que não tinha “nada a ver com um cessar-fogo”.
Mais cedo, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que os ataques foram “totalmente coordenados” com os EUA.
Mas, afinal, que fatores estão pesando sobre Trump e, sobretudo, quais são suas opções agora?
1. Ceder à pressão de Netanyahu e intensificar a escalada
Quando os mísseis israelenses atingiram Teerã na quinta-feira (12/6), Trump ameaçou os líderes do Irã com ataques “ainda mais brutais” por parte de seu aliado israelense armado com bombas americanas.
Sabemos qual é o objetivo final de Trump. Ele afirma, assim como Netanyahu, que o Irã não pode ter uma bomba nuclear. Basicamente, ele disse que sua opção preferida (diferentemente de Netanyahu) é por meio de um acordo entre os EUA e o Irã (essa rota também reflete sua autoproclamada imagem de negociador de alto nível).
Mas ele tem sido vago sobre como chegar lá, às vezes recorrendo à ameaça do uso da força, outras vezes insistindo na diplomacia. Na semana passada, ele chegou a se contradizer na mesma frase, ao dizer que um ataque israelense ao Irã ajudaria a fechar um acordo ou “arruinaria tudo”.
Sua imprevisibilidade é, às vezes, retratada por seus apoiadores como estratégica — a chamada teoria do “louco” das relações internacionais. Essa teoria já foi usada anteriormente para descrever as táticas de negociação de Trump, e sugere que a incerteza deliberada ou a imprevisibilidade sobre a escalada funciona para coagir os adversários (ou até mesmo os aliados, no caso de Trump) a cooperar. Isso foi notoriamente atribuído a algumas das práticas do presidente Richard Nixon durante a Guerra Fria.
Alguns dos conselheiros e apoiadores de Trump defendem o lado da “pressão máxima” da teoria do louco quando se trata da abordagem em relação ao Irã. Eles acreditam que as ameaças vão acabar prevalecendo porque, segundo eles, o Irã não leva a sério as negociações (embora em 2015 o país tenha assinado um acordo nuclear liderado por Obama, do qual Trump se retirou posteriormente).

Crédito, Getty Images
Netanyahu tem exercido pressão constante sobre Trump para que ele siga a via militar, e não diplomática, e o presidente dos EUA — apesar de seu desejo frequentemente declarado de ganhar o Prêmio Nobel da Paz — pode, no fim das contas, ver a necessidade de cumprir suas ameaças mais beligerantes à liderança de Teerã.
Israel também pode pressionar mais nos bastidores para que os EUA intervenham, na sua opinião, para concluir o trabalho. Os EUA têm bombas antibunker que Israel acredita que podem destruir a instalação subterrânea de enriquecimento de urânio do Irã em Fordow.
À medida que o conflito se intensifica, aumenta também a pressão sobre Trump por parte da ala mais belicista de republicanos do Congresso, que há muito tempo pedem uma mudança de regime no Irã.
Trump também vai se deparar com o argumento de que isso poderia forçar os iranianos a negociar com ele com menos vantagem. Mas o fato é que os iranianos já estavam nesta mesa de negociação, à medida que uma sexta rodada havia sido marcada para domingo, em Omã, com o enviado de Trump, Steve Witkoff.
As negociações foram abandonadas.
2. O meio termo — manter o curso
Até o momento, Trump reiterou que os EUA não estão envolvidos nos ataques de Israel.
A escalada traz riscos significativos e potencialmente definidores em termos de legado para Trump. Os destróieres navais americanos e as baterias de mísseis terrestres já estão ajudando na defesa de Israel contra a retaliação iraniana.
É provável que alguns dos conselheiros de Trump no Conselho de Segurança Nacional estejam alertando contra a possibilidade de ele fazer qualquer coisa que possa aumentar a intensidade dos ataques de Israel contra o Irã nos próximos dias, especialmente com alguns mísseis iranianos rompendo as defesas israelenses e americanas com efeitos mortais.
Netanyahu agora argumenta que atacar o líder supremo do Irã, Ali Khamenei, acabaria com o conflito, e não o agravaria.
Mas uma autoridade anônima dos EUA informou a algumas agências de notícias no fim de semana que Trump deixou claro que era contra essa medida.

Crédito, Getty Images
3. Ouvir as vozes do Maga e recuar
Um dos grandes fatores políticos que influenciam a mente de Trump é seu apoio interno.
A maioria dos republicanos no Congresso ainda apoia firmemente Israel, incluindo a continuidade do fornecimento de armas americanas ao país. Muitos deles apoiaram abertamente os ataques de Israel ao Irã.
Mas há vozes importantes dentro do movimento Make America Great Again (Maga) de Trump que agora rejeitam totalmente esse tradicional apoio “irrefutável” a Israel.
Nos últimos dias, elas se perguntaram por que os EUA estão correndo o risco de serem arrastados para uma guerra no Oriente Médio, dada a promessa de America First da política externa de Trump.
O jornalista pró-Trump Tucker Carlson escreveu uma crítica contundente na sexta-feira, dizendo que as alegações do governo de não estar envolvido não eram verdadeiras, e que os EUA deveriam “abandonar Israel”.
Ele sugeriu que Netanyahu “e seu governo ávido por guerra” estavam agindo de forma a arrastar tropas americanas para lutar em seu nome.
“Se envolver nisso seria mostrar o dedo do meio para milhões de eleitores que votaram na esperança de criar um governo que finalmente colocaria os EUA em primeiro lugar”, escreveu Carlson.
Da mesma forma, a parlamentar Marjorie Taylor Greene, fiel escudeira de Trump, postou no X (antigo Twitter) que: “Qualquer pessoa que esteja almejando que os EUA se envolvam totalmente na guerra entre Israel e Irã não é America First/Maga“.
Isso representa uma vulnerabilidade considerável para Trump.
E aumenta a pressão sobre ele para distanciar os EUA da ofensiva de Israel, e há sinais, pelo menos em público, de que ele respondeu a isso.
A polêmica do Maga no fim de semana coincidiu com a publicação dele nas redes sociais de que havia se juntado ao presidente russo, Vladimir Putin, para pedir o fim da guerra. No domingo, ele disse que o Irã e Israel deveriam fazer um acordo, acrescentando: “Os EUA não tiveram nada a ver com o ataque ao Irã”.
O Irã já ameaçou atacar as bases dos EUA na região se, como está acontecendo agora, Washington ajudar na defesa de Israel.
O risco de qualquer vítima americana provavelmente faria com que o argumento isolacionista do Maga crescesse exponencialmente, o que, por sua vez, poderia aumentar a pressão sobre Trump para que ele recuasse, e pedisse a Netanyahu que encerrasse a ofensiva mais rápido.