O arco The Reign of Kylo Ren, que reúne as edições da série Legacy of Vader, chega à edição que finalmente encerra o clima de flashback de Vaneé, assistente de Darth Vader. Charles Soule opta por concluir esse mini arco narrativo de forma bem característica de Star Wars, com guerra. Após matar pessoas em Tatooine, Kylo eleva seu nível de imaturidade ao desejar ser rei de Naboo, ou qualquer outra coisa, para tentar apagar o passado do planeta, que é profundamente enraizado. Soule escreve um drama que, embora autêntico, soa meio tolo para esse personagem neonazista que é Ben Solo.
Todo esse quinto quadrinho é uma estratégia em menor escala do que Palpatine fez na trilogia Prelúdio. O jogo duplo entre separatistas e republicanos agora é recriado por Ben, que inventa uma guerra entre a Primeira Ordem e o planeta Naboo. Sem resistência ao ataque, Kylo Ren se torna, quase do nada, um resistente de Naboo para fomentar o conflito. Isso lembra, em parte, o que acontece na história de Ghorman, na segunda temporada de Andor. Apesar disso, a narrativa só se sustenta porque é mais uma camada desesperada de um personagem que, cada vez mais, se revela um Skywalker perdido, incapaz de aceitar sua própria história.
O legado que está sendo trabalhado, afinal, é frágil. Charles Soule, consciente disso ou não, usa Vaneé para expor essa fraqueza, muito mais que só um gancho para a leitura do próximo mês. Essa edição vale mais pela ação urgente entre os rebeldes de Naboo e os stormtroopers e pelo discurso do assistente de Vader. A sensação é que as edições seguem um caminho para mostrar como Ben Solo é privilegiado e pretensioso ao buscar destruir o passado. Seu discurso do Episódio VIII é revisitado como uma fraqueza, uma fuga de si mesmo, como um rei tolo que, no fundo, é o próprio bobo da corte. A guerra contra Naboo parece um passatempo para um príncipe sem propósito. Felizmente, a história não adota esse tom de rico ocioso buscando o que fazer como o clima central da narrativa.
Stefano Raffaele, o artista, retrata Kylo Ren de forma muito monotemática nas expressões, mas sempre violento. Porque, no fim, esse é o tom: o personagem sendo birrento e agressivo contra si mesmo, sabotando sua própria história. Sua raiva contra Vader e a dor que sente pelo passado apenas o levam a se autodestruir, como Vaneé aponta. O visual mórbido reflete isso, como uma HQ sem brilho por culpa do próprio protagonista. Assim, ser digno de mais poder exige reconhecer suas origens, e não matar o passado para construir o legado poderoso que se deseja. Parece moralista, mas é assim que os neonazistas reconstroem suas ideologias, ainda hoje.
Um dos motivos citados por Putin, presidente da Rússia, para justificar a invasão da Ucrânia em 2015 é ‘desnazificar’ o país, enquanto seu país também é um símbolo de influência neonazista na Europa. Além disso, nos Estados Unidos, neonazistas, protegidos pela lei, vivem com mais liberdade do que na Europa. Qual a relação disso com Kylo Ren? As referências da Primeira Ordem ao neonazismo, herdadas do legado do Império Galáctico, não são sutis, desde a cena em O Despertar da Força, de 2015, com o cumprimento nazista dos stormtroopers antes do primeiro ataque da Base Starkiller. Como já mencionei: Kylo Ren não é mais um rascunho para quem lê os escritos de Charles Soule.
Star Wars: Legacy of Vader #5 — (Estados Unidos, 2025)
Roteiro: Charles Soule
Arte: Stefano Raffaele
Cores: Nolan Woodard
Letras: VC’s Joe Caramagna
Capa: Derrick Chew
Editoria: Mikey J. Basso, Drew Baumgartner, Mark Paniccia, C.B. Cebulski
23 páginas