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domingo, julho 6, 2025

Projetos de novas unidades de conservação na Barra e em Jacarepaguá avançam; confira os principais

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Na Zona Oeste, área que mais cresce na cidade, pressionada por interesses imobiliários e ocupação irregular, a preocupação com a preservação ambiental aumenta na mesma proporção. Moradores, especialistas no tema e órgãos governamentais vêm se mobilizando para garantir proteção a áreas de natureza exuberante, muitas vezes ameaçadas também pelo turismo desordenado. Na região de Barra, Recreio e Jacarepaguá, alguns projetos avançam a passos acelerados.

— Nessa região, vivemos uma grande pressão do mercado imobiliário. É o aumento organizado e o nem tão organizado assim, como o de áreas informais, onde a ocupação não passa por licenciamento — diz a secretária municipal de Ambiente e Clima (Smac), Tainá de Paula. — Mas as pessoas já entendem a preservação ambiental como um dos pontos mais importantes para a região, como um ativo, e não como um problema que impede o desenvolvimento.

Vinculado à associação civil Instituto Mar a Dentro, o projeto Ilhas do Rio monitora as ilhas de Peças e de Palmas, na costa da Praia de Grumari, com vistas à preparação de um relatório que embasa a sugestão de criação de uma área de proteção marinha no local. Após discussões e pesquisas in loco, com mapeamento das espécies daquela área, um grupo de trabalho formado por seus especialistas, membros da sociedade civil e representantes das três esferas do poder público finaliza o documento, que será entregue até o fim deste mês a entidades ambientais dos governos federal, estadual e municipal, respectivamente Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICM-Bio), Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e Smac.

— Conseguimos formar um grupo de trabalho grande e multissetorial, com cerca de 40 pessoas. Isso é algo raro. Os usuários deste território estão muito interessados em trabalhar juntos. Temos um grande potencial de biodiversidade que precisa ser conservado. E também de turismo — destaca a coordenadora do grupo organizado pelo Ilhas do Rio, Mariana Clauzet, que celebra ter conseguido reunir no grupo cidadãos comuns e técnicos do governo.

Pesquisadores na Ilha de Palmas, na costa de Grumari, que pode integrar unidade de conservação — Foto: Custodio Coimbra/30-04-2024

Paralelamente, o Inea estuda a criação do Parque Estadual Marinho das Praias Selvagens (Grumari-Prainha), uma unidade de conservação marinha e insular — que pode abranger as mesmas ilhas de Peças e de Palmas, localizadas a 500 metros e um quilômetro da costa, respectivamente. Para tanto, conta com a cooperação da ONG The Nature Conservancy (TNC), que trabalha em escala global.

A intenção do Inea de proteger esta área foi anunciada na Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade (COP-16), na Colômbia, em outubro passado. A favor de projetos como estes está o Marco Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal, de 2022, que estabeleceu como meta que os governos tenham 30% de mar protegidos até 2030.

— Os governos vão procurar bater essa meta. Nosso projeto está totalmente conectado com a agenda internacional de conservação — observa Mariana.

Há cerca de um ano, as ilhas de Peças e Palmas entraram para a seleta lista Hope Spots, ou Pontos de Esperança, junto com as Ilhas Tijucas, localizadas na Barra. O título foi criado pela Aliança Internacional Mission Blue, da oceanógrafa americana e símbolo do ambientalismo Sylvia Earle, e certifica ecossistemas com grande potencial em termos de biodiversidade, mas vulneráveis ao impacto humano. No monitoramento feito pelo Ilhas do Rio, foram observadas espécies endêmicas, aquelas que só são encontradas em determinado local, assim como outras que foram vistas pela primeira vez no litoral carioca. Mas, além da vida marinha, havia também lixo deixado por embarcações.

— Encontramos espécies ameaçadas de extinção, espécies juvenis e peixes se alimentando para crescer. Vimos também o que chamamos de pesca fantasma, que são restos de linhas, um material abandonado que se embrenha nas rochas e fica por lá — destaca a coordenadora. — Essas ilhas são Zonas de Amortecimento dos parques de Grumari e da Prainha, espaços que evitam que os impactos da ocupação cheguem até as unidades de conservação. Nosso trabalho hoje é fazer com que elas funcionem como têm que ser, de maneira ordenada.

Cavalo-marinho-de-focinho-curto, uma das espécies encontradas nas ilhas de Peças e Palmas — Foto: Divulgação/Augusto Machado
Cavalo-marinho-de-focinho-curto, uma das espécies encontradas nas ilhas de Peças e Palmas — Foto: Divulgação/Augusto Machado

Entre as espécies encontradas nas duas ilhas estão peixes como garoupas, olhetes, robalos e badejos, além de polvos, lagostas, estrelas do mar e golfinhos-nariz-de-garrafa. Foram registradas também espécies invasoras, como o coral-sol.

Além da pesca predatória, o turismo desordenado é outra preocupação. O documento que está sendo elaborado sugere formas de turismo sustentável que podem ser exploradas nas ilhas, especialmente relacionadas à contemplação e à educação ambiental, assim como regras para a pesca esportiva. Também é mencionada a criação de canais de comunicação direta entre usuários e gestores ambientais.

Mais áreas verdes preservadas

Longe da costa, há também projetos importantes para a preservação ambiental na região. Entre eles, um estudo da Smac para a criação de um corredor azul, uma unidade de conservação que iria dos limites do Parque Nacional da Tijuca (PNT) até as lagoas de Jacarepaguá e da Tijuca, passando pela Floresta do Quitite.

— Temos diversos ecossistemas neste território. Além de área de mar, restinga e manguezal, há Mata Atlântica e mosaicos importantes. Precisamos pensar o desenvolvimento sustentável, em que cada vez mais estejamos integrados a essas unidades de conservação. Apesar de ser densamente ocupada, esta é uma área em que a natureza está muito presente — observa a secretária Tainá de Paula.

Grupo em caminhada pela Floresta do Quitite, em Jacarepaguá, organizada pela  Associação dos Moradores e Amigos da Freguesia (Amaf) — Foto: Divulgação
Grupo em caminhada pela Floresta do Quitite, em Jacarepaguá, organizada pela Associação dos Moradores e Amigos da Freguesia (Amaf) — Foto: Divulgação

Uma reivindicação antiga da Associação dos Moradores e Amigos da Freguesia (Amaf) é justamente a proteção da Floresta do Quitite, que fica na subida da Autoestrada Grajaú-Jacarepaguá. O movimento, que pede também a proteção de um trecho da Floresta da Tijuca que não está no PNT, originou a campanha Floresta em Pé Jacarepaguá. Um documento com a proposta da criação de uma UC foi entregue à Smac, há dois anos.

— Estamos realizando diversas ações de conscientização para as pessoas conhecerem a região, como passeios até a Pedra do Urubu e às cachoeiras. Esta área é muito utilizada para lazer; tem quedas d’água e poças, além de abrigar diversas espécies — diz Karolina Dunai, ativista do Floresta em Pé e associada da Amaf.

Segundo Tainá de Paula, o estudo para a nova UC deverá ser concluído ainda este ano. Uma consulta pública está prevista.

— O projeto pode ir direto para publicação, via decreto. A ideia é que nem precise passar pela Câmara dos Vereadores —diz.

Floresta do Quitite, em Jacarepaguá: Secretaria municipal de Meio Ambiente estuda unidade de conservação — Foto: Divulgação
Floresta do Quitite, em Jacarepaguá: Secretaria municipal de Meio Ambiente estuda unidade de conservação — Foto: Divulgação

Uma conquista recente é o Parque Municipal Perilagunar da Lagoa do Camorim, desejo antigo do biólogo Mario Moscatelli, criado em março. Agora, o ambientalista vai propor um plano de ocupação do espaço.

— Em 60 dias, quero apresentar um modelo. O parque teria áreas de palafitas, com placas informativas. E não haveria acesso por terra: os passeios seriam feitos em barcos, para haver controle de quantidade de pessoas — diz ele.

O biólogo se inspirou nas observações de animais nos lagos da Flórida e ressalta que o início da dragagem das lagoas, feita como obrigação contratual pela concessionária Iguá Saneamento, já possibilitou o aumento de indivíduos de espécies como o colhereiro, assim como a incidência de outras aves que até então não tinham sido vistas na região, como a biguatinga.

— Falo da Flórida porque os ecossistemas são praticamente iguais. É brejo de água doce, brejo de água salgada, manguezal… a fauna é muito semelhante, e o potencial econômico é extraordinário, em termos de ecoturismo — diz ele, que pensa na união de recursos públicos e privados para financiar as atividades.

Grupo em passeio pelo recém-criado Parque Perilagunar da Lagoa do Camorim, por iniciativa do biólogo Mario Moscatelli — Foto: Divulgação
Grupo em passeio pelo recém-criado Parque Perilagunar da Lagoa do Camorim, por iniciativa do biólogo Mario Moscatelli — Foto: Divulgação

O Parque Perilagunar também deverá contemplar educação ambiental.

— O projeto prevê a visitação de alunos da rede municipal de ensino, o que será valioso para a educação de nossas crianças e jovens — destaca o presidente da Câmara, vereador Carlo Caiado (PSD), um dos autores da lei que criou o parque.

Com a agenda ambiental em evidência em todo o mundo, e no ano em que o Brasil vai sediar a COP-30, Tainá de Paula vê um terreno fértil para a criação de áreas de proteção na região de Barra, Recreio e Jacarepaguá.

— Anos atrás, para muitos a grande questão era que as áreas de conservação impediam a construção de condomínios ou shoppings. Hoje, vejo uma vontade de usar mais os recursos naturais. Os moradores questionam por que as lagoas não são acessíveis para banho — exemplifica.

Como Moscatelli, ela vê a conservação como um jogo onde todos ganham, que proporciona mais qualidade de vida à população e atrai investimentos.

— Existe uma vontade de incentivar o turismo sustentável na cidade, com a atração de empresas, cooperativas e turismo comunitário. Isso já acontece nas lagoas, com stand up paddle, canoagem, jet ski. Mas é muito importante que avancemos na despoluição delas e de outros pontos — diz Tainá.

Capivaras no Parque Perilagunar do Camorim — Foto: Divulgação
Capivaras no Parque Perilagunar do Camorim — Foto: Divulgação

Uma das questões que mais preocupam é o lançamento de esgoto in natura nas lagoas, inclusive por empreendimentos formais, o que pode anular os ganhos obtidos com a dragagem, salienta.

— Apesar de estarmos falando de rendas médias distintas, os problemas em toda a Zona Oeste são os mesmos. Temos, por exemplo, um déficit real de esgoto na orla da Barra. Estamos em diálogo com a Iguá para estabelecer um cronograma para que os grandes condomínios de classe média alta da orla e da Avenida das Américas estejam ligados à rede de esgoto até 2030 ou 2035.

Pequeno dicionário da proteção ambiental

Unidade de Conservação (UC): Espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, com objetivos de conservação e limites definidos e sob regime especial de administração. Se for de proteção integral, tem como principal finalidade a preservação da natureza e, por isso, só é permitido o uso indireto de seus recursos naturais, por meio de atividades como recreação e turismo. Se for de uso sustentável, tem o objetivo de compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parte dos seus recursos. Nesse grupo, são permitidas atividades que envolvem coleta de recursos naturais, sem ameaçá-los.

Parque (nacional, estadual, distrital ou municipal): Áreas destinadas à preservação de ecossistemas de grande relevância ecológica e beleza cênica. Permite atividades recreativas, educativas e de interpretação ambiental, além da realização de pesquisas científicas.

Área de Proteção Ambiental (APA): Tem atributos naturais, estéticos e culturais importantes para a qualidade de vida e o bem-estar do ser humano. Geralmente, é uma área extensa, onde os objetivos são proteger a diversidade biológica, ordenar a ocupação e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais.

Refúgio da Vida Silvestre (Revis): Área de proteção de ambientes naturais com o fim de assegurar a existência ou a reprodução de espécies locais de fauna e flora. Permite diversas atividades de visitação e pode englobar áreas particulares.

Reserva Biológica (Rebio): Área destinada à preservação da diversidade biológica, na qual podem ser realizadas medidas de recuperação de ecossistemas alterados. Só pode ser visitada com objetivos educacionais.

Monumento Natural (Mona): Área de preservação de sítios naturais singulares, raros e de grande beleza cênica na qual são permitidas diversas atividades de visitação. Pode englobar áreas particulares, desde que suas atividades sejam compatíveis com os objetivos da UC.

[Fonte Original]

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