Crédito, EPA
- Author, Steve Rosenberg
- Role, Editor da BBC News na Rússia
A semana começou de forma dramática na Rússia.
Seu corpo estava em um parque nos arredores de Moscou, com um ferimento de bala na cabeça. Uma pistola, supostamente, foi encontrada ao lado do corpo.
Segundo investigadores, o ex-ministro teria se matado.
No tabloide Moskovsky Komsomolets, publicado na manhã desta terça-feira (8/7), havia um tom de choque.
“O suicídio de Roman Starovoit apenas algumas horas depois da ordem presidencial para demiti-lo é um acontecimento quase único na história da Rússia”, declarou o jornal.
Isso porque é preciso voltar mais de 30 anos, antes do fim da União Soviética, para encontrar um exemplo de um ministro de governo que tenha se matado.
Em agosto de 1991, após o fracasso do golpe de Estado promovido por comunistas linha-dura, um dos líderes do golpe — o ministro do Interior soviético Boris Pugo — se matou com um tiro.
Especulações na imprensa russa
O Kremlin tem dito muito pouco sobre a morte de Starovoit.
“Quão chocado você ficou ao saber que um ministro federal foi encontrado morto apenas algumas horas após ser demitido pelo presidente?, perguntei ao porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, durante uma coletiva com o Kremlin.
“Pessoas normais não podem deixar de ficar chocadas com isso”, respondeu Peskov.
“É claro que nós também ficamos chocados. Cabe à investigação fornecer respostas para todas as perguntas. Enquanto isso é feito, só podemos especular. Mas isso é para a imprensa e os analistas políticos. Não para nós.”
A imprensa russa, de fato, está cheia de especulações.
Nesta terça, vários jornais russos associaram o que aconteceu com Roman Starovoit aos acontecimentos na região de Kursk, que faz fronteira com a Ucrânia.
Antes de ser nomeado ministro o Transporte em maio de 2024, Starovoit havia sido governador da região de Kursk por mais de cinco anos. Durante seu mandato — e com grandes quantias de dinheiro do governo —, o governador Starovoit lançou a construção de fortificações defensivas ao longo da fronteira.
Desde então, o sucessor de Starovoit no governo, Alexei Smirnov, e seu vice, Alexei Dedov, foram presos e acusados de fazer parte de um esquema de fraude em grande escala, relacionado à construção dessas fortificações.
“O senhor Starovoit poderia muito bem ter se tornado um dos principais réus neste caso”, sugeriu a edição desta terça do diário econômico Kommersant.
As autoridades russas não confirmaram essa hipótese.

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Mas, se foi o medo de ser processado que fez com que um ex-ministro tirasse a própria vida, o que isso nos diz sobre a Rússia de hoje?
“A parte mais dramática disso, com toda a reestalinização que vem acontecendo na Rússia nos últimos anos, é que um oficial de alto-escalão do governo se matou porque não vê outra forma de sair do sistema”, afirma Nina Khrushcheva, professora de Relações Internacionais na The New School, em Nova York.
“Ele deve ter temido que, se fosse investigado, receberia dez anos de prisão, e sua família sofreria imensamente. Então, não havia outro caminho. Eu imediatamente pensei em Sergo Ordzhonikidze, um dos ministros de Stálin que se matou em 1937 porque achava que não tinha outra saída. Quando você começa a pensar em 1937 no contexto atual, isso dá muito o que refletir.”
A morte de Roman Starovoit pode até ter estampado as manchetes de jornal na Rússia. Mas essa “ocorrência quase única na história da Rússia” recebeu cobertura mínima na TV estatal.
O principal telejornal da noite no canal Russia-1 exibiu, na segunda-feira, uma reportagem de quatro minutos sobre Putin ter nomeado Andrei Nikitin como novo ministro de Transportes. Não houve qualquer menção ao fato de que o ministro anterior havia sido demitido ou que ele tivesse sido encontrado morto.
Apenas quarenta minutos depois, após o fim do jornal, o âncora mencionou brevemente a morte de Roman Starovoit.
O apresentador dedicou apenas 18 segundos ao assunto, o que significa que a maioria dos russos provavelmente não verá os acontecimentos dramáticos de segunda-feira como algo relevante.
Para a elite política, a história é diferente. Para ministros, governadores e outros oficiais russos que buscaram fazer parte do sistema político, o que aconteceu com Starovoit servirá como um alerta.
“Diferente de antes, quando você podia conseguir esses cargos, ficar rico e ser promovido do nível regional para o federal, hoje isso claramente não é mais um caminho de carreira se você quiser continuar vivo”, diz Nina Khrushcheva.
“Não há mais mobilidade ascendente, e até mesmo a mobilidade descendente termina em morte.”
É um lembrete dos perigos que surgem ao entrar em choque com o sistema.