- Author, Rebecca Thorn
- Role, BBC 100 Women
Ela faz contas matemáticas. Pode elaborar perguntas de uma entrevista de trabalho. E pode até atuar como terapeuta. A inteligência artificial (IA) parece ser capaz de fazer tudo com um simples apertar de botão.
A tecnologia está evoluindo em uma velocidade sem precedentes, com as diferentes plataformas competindo entre si para lançar ferramentas novas e cada vez mais avançadas.
O ChatGPT é um dos aplicativos de tecnologia que mais cresceram na história. Alcançou mais de 1 milhão de usuários em apenas cinco dias após o seu lançamento, e 100 milhões em dois meses, segundo um relatório encomendado pelo Encontro Global sobre Inteligência Artificial de 2023, organizado pelos governos de 30 países e membros da ONU, União Europeia e OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
A Microsoft, que lançou seu assistente de IA, Copilot, em 2023, anunciou que espera que o setor de IA de sua empresa ultrapasse os US$ 10 bilhões em receita no segundo semestre de 2025, além de expandir seus data centers para 60 regiões ao redor do mundo.
Já a IA do Google, Overview, que oferece resumos no início dos resultados de busca, registrou 1,5 bilhão de usos em mais de 200 países e territórios, segundo Sundar Pichai, diretor-executivo da Alphabet, a empresa matriz do Google.
Os especialistas afirmam que essa tecnologia veio para ficar, então perguntamos a um deles como aproveitar melhor o que ela tem a oferecer.
A cientista da computação Sasha Luccioni é chefe de iniciativas climáticas filantrópicas na Hugging Face, uma startup global que trabalha com modelos de IA de código aberto e que busca “democratizar o bom uso do aprendizado automático”.
“Vejo a IA como um amplificador — tanto do bem quanto do mal da humanidade — mas precisamos garantir que manteremos o controle”, disse ela ao BBC 100 Women.
Aqui estão quatro perguntas que ela sugere fazer antes de usar a IA.
1. Qual é a melhor ferramenta de IA para o que você precisa?

Crédito, Getty Images
Todos os sistemas são capazes de fazer coisas muito diferentes, destaca Luccioni.
“Às vezes optamos pelas ferramentas mais populares de IA porque já as conhecemos e elas podem fazer muitas coisas. Mas existem outras feitas para tarefas específicas, como responder perguntas científicas, que podem fazer um trabalho melhor.”
A todo o tempo novos aplicativos estão sendo lançados, personalizados para uma variedade de necessidades, grandes e pequenas.
Um aplicativo permite que o usuário tire uma foto de um problema de matemática e ele é resolvido. Outro, mais específico, consegue analisar o seu pão de fermentação natural para melhorar a receita, enquanto outro ainda gera orações personalizadas baseadas em uma gama de textos sagrados.
De acordo com o relatório 2025 AI Index Report, da Universidade de Stanford, as instituições sediadas nos Estados Unidos produziram 40 modelos de IA de destaque no ano passado, em comparação com 15 da China e três da Europa.
Informe-se sobre o que está disponível e faça sua escolha de acordo com suas necessidades.
2. Dá para confiar nas respostas de IA?
A IA pode até te dar uma resposta, mas isso não quer dizer que ela seja correta ou verdadeira, segundo Luccioni.
Para evitar esse tipo de situação, ela recomenda sempre revisar os resultados gerados pelos sistemas de IA.
“Releia com atenção e pense criticamente sobre o que está sendo dito e se faz sentido. A IA pode soar confiante e, mesmo assim, estar errada.”
3. Que tipo de informação estou compartilhando?

Crédito, Getty Images
Os usuários deveriam pensar nas informações que estão fornecendo para uma IA tanto quanto nas que estão recebendo dela.
Segundo Luccioni, os sistemas de IA funcionam com base na compilação de enormes quantidades de dados que são usados para treinar o modelo. Isso significa que a informação que você fornece, seja em foto ou texto, pode ser armazenada, analisada e usada pelo sistema para influenciar respostas futuras.
Cada plataforma tem sua própria política de privacidade, então verifique os termos antes de usá-la.
“Se forem dados pessoais ou sensíveis, ou simplesmente constrangedores, não os forneça para um modelo de IA, porque eles podem acabar na internet”, afirma a especialista.
Ela cita o app de IA da Meta, que alguns usuários não sabiam que suas perguntas estavam sendo usadas em um sistema público de alimentação de dados chamado “Discover”.
A BBC encontrou exemplos de pessoas enviando fotos de perguntas de provas da escola ou da universidade, solicitando imagens sexuais e pedindo conselhos sobre sua identidade de gênero.
Em 2023, a Itália se tornou o primeiro país do Ocidente a bloquear o chatbot avançado do ChatGPT devido a questões de privacidade e conformidade com o Regulamento Geral de Proteção de Dados.
Coreia do Sul, Austrália e Estados Unidos também já demonstraram preocupação sobre como o DeepSeek, o chatbot chinês, armazena e processa os dados dos usuários.
4. Eu realmente preciso de IA?

Crédito, Getty Images
Use a IA como uma ferramenta, não como um substituto do seu cérebro, aconselha Luccioni.
Pense se é uma tarefa que poderia fazer por conta própria ou usando outras ferramentas, como uma calculadora para problemas matemáticos mais complexos.
Ela também recomenda recorrer às pessoas ao nosso redor para nos ajudar em questões éticas e pessoais.
A IA também consome muito mais energia e recursos do que os buscadores tradicionais. Os data centers onde ficam os servidores usados pela IA demandam grandes volumes de água para resfriamento, o que pode agravar os problemas de abastecimento ao redor do mundo.
“As ferramentas de IA vão continuar existindo por um bom tempo, especialmente porque estamos cada vez mais presentes e ativos na internet e nas redes sociais”, diz Luccioni.
“Mas isso não significa que devemos usar a IA para tudo em nossas vidas, o que acabaria fazendo com que perdêssemos justamente o que nos torna humanos em primeiro lugar: a criatividade, a conexão, a comunidade.”