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Supondo-se que nada mude e que o governo americano passe de fato a aplicar tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras para os Estados Unidos a partir de 1º de agosto, o impacto sobre a economia brasileira será intenso na avaliação de bancos de investimento. A estimativa é que a redução das exportações poderá reduzir em até 0,5 ponto percentual o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) previsto para 2025, segundo bancos de investimento e corretoras.
As expectativas dos profissionais do mercado financeiro para o desempenho da economia vinham melhorando sistematicamente ao longo de 2025. No início deste ano, a projeção para o PIB divulgada no relatório Focus era de um crescimento de 2,02%. Na edição mais recente, publicada na segunda-feira (7), essa estimativa havia subido para 2,23%. O que vinha sustentando a melhora das estimativas era o crescimento do crédito e a queda do desemprego. Porém, o impacto das tarifas deve desacelerar esse processo.
As estimativas de bancos de investimento como o americano Goldman Sachs são de uma redução de 0,4 ponto percentual no crescimento do PIB. Já XP e Rico avaliam que o impacto negativo será de 0,5 ponto percentual. O banco JP Morgan é mais pessimista. Um relatório das analistas Cinthya Mizuguchi e Emy Shayo indica que a retração no crescimento pode oscilar entre 0,8 e 1,2 ponto percentual do PIB.
Dólar e Bolsa
Após um início de negócios tumultuado, os ativos brasileiros encerraram o pregão da quinta-feira (10) indicando uma piora das expectativas, mas sem alterações muito expressivas.
No final do dia, o dólar à vista teve nova alta, de 0,69%, cotado a R$ 5,5416. Já o Ibovespa teve uma leve queda de 0,54% e fechou a 136.743 pontos. Apesar de afetarem pesadamente algumas empresas, a percepção é que as novas tarifas americanas terão um impacto mais limitado na economia como um todo e terão reflexos indiretos na taxa de câmbio e na inflação.
A expectativa é de volatilidade, diz Izzy Politi, diretor comercial do Ouribank, instituição financeira especializada em câmbio. “O anúncio provocou uma reação imediata no câmbio, com o dólar subindo antes mesmo da confirmação oficial, e a medida deve intensificar a volatilidade e encarecer as importações, gerando mais pressão inflacionária”, diz ele. Politi diz esperar um impacto “significativo” para as empresas brasileiras com operações no exterior.
Suzano e Embraer
Em um relatório, o Goldman Sachs avalia que o impacto mais intenso será sentido sobre a Suzano. “A maioria dos produtos exportados pelas empresas sob nossa cobertura são commodities que, por natureza, têm baixa diferenciação e poderiam, em teoria, ser redirecionadas para outros mercados com impacto limitado nas condições globais de oferta/demanda e/ou preços”, escreveram os analistas.
Para o Goldman, o fato de o Brasil ter exportado 2,8 milhões de toneladas de celulose para os EUA em 2024, equivalentes a 78% do consumo de celulose de fibra curta do país é “muito significativo”. É um fornecimento difícil de ser substituído de forma ordenada por produtos de outras regiões. “Os candidatos naturais seriam Uruguai e Chile, mas a produção consolidada nessas regiões equivale a 9,5 milhões de toneladas por ano de madeira de fibra curta”, afirmaram os analistas.
Além da Suzano, a Embraer deve ser diretamente afetada pelas tarifas, pois cerca de 60% da receita vem da América do Norte, com 75% das vendas sujeitas à nova tarifa. O Itaú BBA estima uma redução de cerca de US$ 150 milhões no EBTIDA do segundo semestre, e o Bradesco BBI é mais pessimista, com um impacto estimado de US$ 220 milhões.