Com o Banco Central do Brasil próximo de divulgar as primeiras regras para o mercado de criptomoedas no Brasil, especialistas afirmam que a auditoria independente deixará de ser apenas um requisito formal e passará a atuar como um pilar estratégico para o futuro das criptomoedas no Brasil.
Essa é a análise de Bruno Faria e Thiago Brehmer, sócios da CLA Brasil, que defendem em artigo encaminhado ao Cointelegraph que a credibilidade e a transparência do setor dependem da consolidação de auditorias externas robustas.
“A auditoria independente deixa de ser compreendida apenas como requisito de conformidade e passa a ser tratada como pilar estratégico para a credibilidade e transparência”.
As Consultas Públicas 109 e 110 do Banco Central estão prestes a se transformar em norma. Elas tratam de prestadores de serviços de ativos virtuais (PSAVs) e emissores de stablecoins. Em paralelo, a CP 122/2025 trouxe critérios contábeis inéditos para reconhecimento e mensuração de ativos virtuais e utility tokens.
Segundo os especialistas, esse movimento coloca o Brasil em sintonia com a corrida regulatória internacional. Enquanto a Europa implementa o MiCA e os Estados Unidos avançam com o GENIUS Act, o país busca consolidar-se como ator confiável na institucionalização dos criptoativos.
De acordo com eles, até agora, a narrativa sobre transparência no setor esteve concentrada em soluções como Proof of Reserves, relatórios on-chain, Merkle Tree e Zero-Knowledge Proofs. Embora representem avanços, essas técnicas não garantem segurança plena.
“Tais mecanismos não verificam passivos, não asseguram a unicidade e liquidez do lastro, não avaliam a gestão de riscos e tampouco testam controles internos”, afirmaram apontando que é justamente nesse espaço que a auditoria independente ganha protagonismo.
O papel central da auditoria
No marco regulatório em construção, a auditoria independente terá funções essenciais. Entre elas, relatórios periódicos de segregação patrimonial, cibersegurança, compliance contra lavagem de dinheiro, além de testes de lastro em stablecoins e auditorias contábeis semestrais.
“Relatórios periódicos de lastro — ao menos trimestrais — no caso das stablecoins, assegurando que estejam 100% lastreadas em ativos líquidos e disponíveis”, reforçam os autores. Essa exigência busca eliminar riscos de descasamento entre emissão e reservas, um dos maiores pontos de fragilidade desse mercado.
Faria e Brehmer destacam ainda que o Brasil já conta com um arcabouço sólido para dar suporte à mudança. O Banco Central atua na supervisão prudencial, a CVM regula tokens que se configuram como valores mobiliários, e o CFC junto aos CRCs supervisiona a profissão contábil. Além disso, o Ibracon garante alinhamento com normas internacionais.
Eles sugerem ainda que os auditores passem por validação de entidades independentes, como ocorre na Suíça com a FINMA, que delega a Organizações Autorregulatórias a certificação de agentes. Essa prática, segundo eles, poderia reforçar a confiança no ecossistema brasileiro de ativos digitais.
Na avaliação dos sócios da CLA Brasil, os efeitos de uma auditoria independente estruturada serão imediatos.
“A confiança dos investidores tende a aumentar, reduzindo assimetrias de informação. O risco percebido pelos agentes de mercado diminui”, afirmam.
Os especialistas lembram que, no setor de ativos digitais, transparência e confiabilidade deixaram de ser vantagens competitivas. Agora, são condições básicas para sobrevivência. Empresas que não se adequarem às novas exigências terão dificuldades para captar recursos e atrair investidores institucionais.
Ao consolidar seu arcabouço regulatório com as CPs 109, 110, 111 e 122, o Brasil envia uma mensagem clara ao mercado global. “Está pronto para assumir protagonismo na construção de um ecossistema de criptoativos sólido, transparente e competitivo em nível internacional”, afirmam Faria e Brehmer.