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domingo, setembro 7, 2025

Dos papéis às enchentes: Cordoni revisita 39 anos de mercado financeiro no Brasil

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O gestor Sergio Cordoni, sócio da V8 Capital, acumula quase quatro décadas de experiência no mercado financeiro brasileiro — período em que viu o setor sair dos arquivos de papel para a era digital.

Em entrevista ao podcast Stock Pickers, ele revisitou os marcos de sua trajetória, que inclui até episódios inusitados, como trabalhar de um barco durante uma enchente, e comparou a evolução do Brasil com a de mercados mais maduros, como o americano.

Para Cordoni, apesar dos avanços em tecnologia e liquidez, a diferença de profundidade ainda é gritante: “Nos EUA, o mercado de corporate bonds emite US$ 30 bilhões por semana; no Brasil, levamos um ano inteiro para alcançar esse número”, afirmou.

Segundo o gestor, muitas carreiras se perderam no meio do caminho por conta da dificuldade em acompanhar as mudanças. Ele relatou que viu gestores experientes quebrarem ao ignorar a força dos fluxos automáticos dos CTAs, que passaram a dominar os mercados globais.

“Gente com 30 anos de mercado se arrebentou inteiro porque não desligou o sisteminha de sinais e ficou contra o fluxo”

— Sergio Cordoni, da V8 Capital

Além das análises técnicas, Cordoni também compartilhou histórias curiosas, que mostram o quanto o mercado era analógico e dependente de improvisos no início de sua trajetória.

Do papel quadriculado ao pregão físico

Cordoni começou em 1986 como estagiário em uma DTVM e permaneceu lá por 16 anos, chegando ao cargo de diretor. Na época, todo o controle era feito em papel.

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“A carteira de investimento de cliente a gente montava numa folha quadriculada, preenchendo setor, quantidade, preço e custo. O fechamento era semanal, a partir da cotação do jornal”, disse.

O acesso às informações era desigual. Enquanto hoje basta alguns segundos para consultar o resultado de uma empresa, no final dos anos 1980 tudo dependia do BDI (Boletim Diário de Informações), retirado pessoalmente na Bolsa. “Quem chegava primeiro saía na frente. Qualquer tempo ali era vantagem competitiva”, lembrou.

Ele contou que, naquele período, a renda fixa se resumia a CDBs de 30 a 60 dias. “Era o auge da hiperinflação, a gente falava em taxa ao mês, não ao ano. Muitas vezes a taxa do dia era maior do que a do mês de hoje”, destacou. Nesse contexto, diversificação significava principalmente comprar ações para complementar o portfólio.

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As operações de derivativos ainda eram incipientes, relembra ele:

“O mercado era feito para alta. Vender opções ou montar estratégias mais sofisticadas era quase inviável”

— Sergio Cordoni, da V8 Capital

O barco na enchente

Uma das histórias mais marcantes de sua carreira aconteceu nos anos 1990, quando uma forte enchente paralisou a cidade de São Paulo (SP), justamente em um dia de vencimento de opções. O escritório da DTVM onde trabalhava, localizado na Barra Funda, ficou submerso.

“Liguei para o escritório e me disseram: ‘a água está no segundo degrau’. Perguntei se dava para entrar e responderam: ‘não, é o segundo degrau de dentro’. Já tinha meio metro de água dentro do prédio”, recordou.

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Sem alternativa, Cordoni comprou um barco numa loja da região da Florêncio de Abreu, amarrou no carro e seguiu até próximo ao Memorial da América Latina, onde o lançou na água e remou até o escritório.

“Entrei remando, ancorei na porta e subi. Não tinha escolha, tinha que zerar posição. Ou fazia ou fazia”

— Sergio Cordoni, da V8 Capital

A cena foi registrada por um repórter fotográfico e virou capa de jornal, ilustrando a criatividade para superar as adversidades. “Eu tinha que estar lá de qualquer jeito. Isso era vestir a camisa de verdade”, disse, entre risos.

Evolução da carreira e chegada à V8

Depois da experiência na DTVM, Cordoni passou pela gestora Tática no início dos anos 2000, período em que o mercado de commodities viveu forte expansão.

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Ele explicou que a estratégia principal era montar operações de cash-and-carry, ajustando posições de ações contra o índice futuro.

“Não era neutro em caixa nem em beta, porque direcionávamos exposição em setores como commodities”, explicou.

Na sequência, teve passagens pela Zimulti e pela Magliano antes de chegar à V8 Capital, onde atua até hoje.

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Ao longo da carreira, Cordoni testemunhou a transformação do mercado de um ambiente dominado pelo pregão viva-voz para a sofisticação dos fundos multimercados.

Apesar das mudanças, ele ressalta que a essência continua sendo a mesma: lidar com riscos e buscar alternativas criativas.

“Hoje temos dados, tecnologia e liquidez, mas a disciplina e a capacidade de adaptação continuam sendo o que diferencia quem sobrevive no mercado.”

— Sergio Cordoni, da V8 Capital

[Fonte Original]

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