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terça-feira, setembro 9, 2025

Escândalo e derrota eleitoral geram complicações a Milei

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Javier Milei atravessa o seu momento mais difícil na Presidência da Argentina, pouco antes de completar dois anos no poder. Líder do La Libertad Avanza, ele ajudou a nacionalizar eleições legislativas estaduais na província de Buenos Aires (não na capital) para colher uma significativa derrota ante os peronistas. Ao colocar o pleito como um julgamento de sua gestão e prévia das eleições legislativas de 26 de outubro, o revés — Fuerza Pátria obteve 41,75% dos votos, a Aliança Libertad, 34,15% — fez os mercados desabarem, e o risco país dar um salto junto com o dólar, que foi parar perto do teto da banda de flutuação, de 1.470 pesos. Isso acentuou um mal-estar crescente com os rumos da economia, e, para piorar, o insucesso eleitoral refletiu desgaste com grave escândalo de corrupção, envolvendo Karina Milei, irmã do presidente e a segunda pessoa mais poderosa no governo.

O presidente demorou a reagir às denúncias, e, quando o fez, atacou opositores e a mídia, sem dar explicações. A ministra da Segurança Nacional, Patricia Bullrich, culpou os serviços de inteligência russos pela divulgação de gravações do ex-amigo e advogado do presidente Diego Spagnuolo que acusam Karina de receber comissão de 3% de medicamentos do órgão encarregado de atender deficientes físicos.

Milei teve um primeiro ano duríssimo. Com um programa forte de ajuste econômico, ele conseguiu desacelerar a escalada inflacionária (o IPC anual, que passou de 270% em junho de 2024, está agora em 36,6%). E começou a reorganizar a economia argentina, devastada por anos de má gestão pelo kirchnerismo. Esse sucesso culminou com o acordo de abril com o FMI, que aceitou emprestar mais US$ 20 bilhões ao país. O fôlego novo permitiu ao governo iniciar o desmanche das políticas de controle de câmbio, que dificultam e desestimulam o investimento produtivo e o financiamento externo.

Ao deixar o câmbio se valorizar, Milei acelerou a queda da inflação, reforçando a percepção de sucesso do duro ajuste econômico. O peso valorizado trouxe sensação de riqueza que o país não sentia havia anos. A classe média voltou a pisar no acelerador das compras no exterior e viagens internacionais.

Mas o custo dessa política foi pesado. A valorização tirou competitividade da produção argentina e estimulou as importações. O saldo comercial desabou (superávit de apenas US$ 2,7 bilhões no primeiro semestre) e a conta corrente foi para o vermelho. Isso agravou mais a difícil situação das empresas argentinas e acelerou a onda de falências, gerando mais desemprego. Como a situação cambial é insustentável, criou-se a expectativa de uma correção do dólar após as eleições, o que ampliou as incertezas e freou investimentos.

As pesquisas chegaram a apontar vitória dos partidos governistas (o Liberdad mais o Pro do ex-presidente Mauricio Macri) no domingo e nas legislativas de 26 de outubro. Isso daria a Milei maior poder de barganha no Congresso, vital para avançar com seu programa de ajuste. Milei disse que as urnas de domingo “cravariam o último prego no caixão do kirchnerismo”, quando podem ter pregado o primeiro no seu.

O escândalo de corrupção mudou o cenário político e econômico. O governo conseguiu na Justiça proibir a divulgação de uma nova gravação, desta vez da própria Karina, cujo teor não é totalmente conhecido e que ameaça causar mais estragos ao governo. As acusações são particularmente danosas a um presidente que foi eleito atacando a corrupção da “casta política”.

A derrota eleitoral era esperada, mas não por tamanha diferença, e azedou os mercados. O dólar já havia começado a subir com o escândalo, e o Tesouro argentino usou US$ 540 milhões para segurar as cotações, algo só permitido pelo acordo com o FMI quando o peso cai abaixo do piso ou ultrapassa o teto da banda cambial. O dólar ontem atingiu 1.450 pesos, maior cotação desde quando o câmbio foi liberalizado. O Banco Central tem reservas negativas e conta com US$ 14 bilhões do FMI como munição, cujo uso não é recomendável. O FMI acabou de dar waiver na revisão do acordo para o descumprimento da meta de aumento das reservas. A inflação, em leve alta nos últimos dois meses, pode subir com a queda do peso. Os juros bateram em 50%, asfixiando crédito e crescimento.

Milei fez erros que podem comprometer seu futuro, se não forem corrigidos. Ao entrar na campanha eleitoral com sua falta de sutileza e agressividade peculiares, conseguiu unir a oposição peronista em torno de um radical ex-ministro de Cristina Kirchner, Axel Kicillof, governador da Província de Buenos Aires, dando ao peronismo um líder que não tinham encontrado ainda após a prisão de Cristina. Os peronistas perceberam que o governo é vulnerável. O presidente também queria engolir o aliado Pro, de Macri, mas sua derrota o enfraquece nessa missão.

A lição da derrota é que Milei precisa cerrar aliança com forças políticas mais próximas, e não hostilizá-las, e moderar seus ímpetos políticos destrutivos. Até agora, seu estilo belicoso lhe deu trunfos, mas talvez não mais. Com a economia de volta à armadilha histórica de falta de dólares, avançar nas urnas e no apoio no Legislativo é questão de vida e morte para Milei.

[Fonte Original]

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