Robin Little / Colaborador/Logotipo Getty Images
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O músico Hermeto Pascoal, principal multi-instrumentista brasileiro, morreu neste sábado (13), aos 89 anos. A informação foi confirmada em uma publicação assinada pela equipe e a família do artista nas redes sociais. A causa da morte não foi revelada.
“Com serenidade e amor, comunicamos que Hermeto Pascoal fez sua passagem para o plano espiritual, cercado pela família e por companheiros de música”, informa um trecho da postagem. “Como ele sempre nos ensinou, não deixemos a tristeza tomar conta: escutemos o vento, o canto dos pássaros, o copo d’água, a cachoeira, a música universal segue viva.”
O músico se apresentaria neste sábado no Festival Acessa BH, em Belo Horizonte (MG), onde era uma das principais atrações. O show, marcado para as 19h no Teatro do Centro Cultural Unimed, acabou sendo cancelado poucas horas antes. Na agenda internacional, ele também tinha uma apresentação prevista para novembro, no Barbican Centre, em Londres.
Embora detalhes de sua saúde nunca tivessem sido revelados, o músico vinha apresentando problemas há tempos. Em uma apresentação no Sesc Pinheiros, no final de maio deste ano, enfrentou dificuldades na execução de alguns instrumentos. Ainda assim, manteve uma agenda sempre intensa.
Na postagem das redes sociais, é solicitado respeito e privacidade. “Informações sobre despedidas públicas serão divulgadas em breve nos canais oficiais”, diz o texto. A sugestão para homenageá-lo é: “deixar soar uma nota no instrumento, na voz, na chaleira e ofereça ao universo. É assim que ele gostaria.”
Hermeto Pascoal, o bruxo dos sons
Nascido na cidade de Arapiraca, em Alagoas, em 1936, Hermeto Pascoal era compositor, arranjador e multi-instrumentista, considerado um dos músicos mais inventivos do século XX. Desde cedo mostrou talento para transformar qualquer som em música, conforme sempre relembrou em seus shows. Ele começou na sanfona de oito baixos, e, aos 11 anos, já se apresentava em rádios e festas. Em seguida, passou a explorar o piano, a flauta e inúmeros outros instrumentos.
Recebeu diversos prêmios ao longo da carreira, foi três vezes vencedor do Grammy Latino e se apresentou em diferentes países.
Sua trajetória inclui passagens por trios e orquestras no Nordeste, a mudança para o Rio e São Paulo, onde gravou com conjuntos como Som 4, Sambrasa Trio e o icônico Quarteto Novo, marco da música instrumental brasileira.
A carreira internacional teve início em 1969, quando viajou aos Estados Unidos a convite de Airto Moreira e Flora Purim. Lá, gravou com grandes nomes do jazz, como Miles Davis, o que catapultou sua projeção internacional. De volta ao Brasil, lançou discos experimentais em que a natureza e os ruídos cotidianos tornaram-se matéria-prima musical. Tudo virava som nas mãos, boca e qualquer outra parte de seu corpo. Ele chegou a levar porcos para o estúdio, captar o barulho do vento, de chaleiras e ainda o canto de pássaros.
Hermeto rompeu fronteiras entre o popular e o erudito, o regional e o universal, criando uma música livre, difícil de classificar. Premiado pela crítica, participou de festivais internacionais e desenvolveu conceitos como o “som da aura” e o “som universal”. Ele também formou gerações de músicos em sua “oficina familiar”.
Visionário, chegou a abrir mão dos direitos de centenas de composições, reforçando sua concepção de arte como partilha, conforme citação feita a editores da enciclopédia Itaú Cultural. Sua obra, marcada pela experimentação e pela escuta atenta do mundo, reflete a riqueza da cultura brasileira e projeta-se para o mundo sem fronteiras.