Grandes empresas ao redor do mundo, seja por razões econômicas ou políticas, têm reduzido ou revertido ações em ESG, caminhando na direção oposta aos avanços obtidos nos últimos anos. No entanto, isso não representa uma perda significativa do valor dessa agenda para os negócios no longo prazo.
Alguns levantamentos feitos pelo Fórum Econômico Mundial destacam essas transformações. O “The Future of Jobs Report 2025”, por exemplo, aponta que a mitigação e a adaptação às mudanças climáticas são tendências que vão transformar os negócios nos próximos cinco anos. Já o “The Global Risks Report 2025” traz os eventos climáticos extremos como o segundo maior risco em escala global no horizonte de dois anos e o primeiro em dez anos.
No cenário de investimentos, o relatório da Ipsos, “Reset or Retreat?”, mostra que os investidores permanecem engajados, especialmente na Europa, que concentra 84% dos ativos ESG globais. Já a S&P Global estima que a emissão mundial de títulos sustentáveis alcançará US$ 1 trilhão neste ano. Portanto, o interesse por investimentos alinhados às práticas dessa agenda permanece forte.
Entre os CFOs, também não há expectativa de desaceleração de aportes. Uma pesquisa da consultoria Kearney indica que 92% dos mais de 500 líderes financeiros de diversos países planejam aumentar seus investimentos atuais em sustentabilidade.
Assim, o momento não é de recuo, mas de reforçar a importância da atuação dos CFOs na implementação de medidas estratégicas voltadas à resiliência e à confiabilidade das empresas, com foco em três pontos fundamentais: custos, compliance e reputação.
As empresas que mantêm e fortalecem seus posicionamentos e iniciativas em ESG podem se beneficiar de linhas de crédito mais baratas, uma vantagem competitiva que impacta diretamente a saúde financeira e possibilita novos investimentos.
O relatório “Sustainability reporting for value creation”, da KPMG, indica que o desempenho em classificações de sustentabilidade pode apoiar a ampliação de acesso a capital de baixo custo.
A KPMG também divulgou recentemente que, América Latina, Brasil e Chile se destacam no fornecimento de dados de sustentabilidade.
No Brasil, esse avanço está relacionado às regulamentações da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que determinam que a elaboração de relatórios de informações financeiras ligadas à sustentabilidade siga os padrões IFRS S1 e S2 do International Sustainability Standards Board (ISSB).
Para facilitar a adoção voluntária dessas normas pelas empresas, a CVM fez uma alteração recente na resolução, fixando o prazo para divulgação até 31 de dezembro de 2025. No entanto, a obrigatoriedade passará a valer já em janeiro de 2026.
Os CFOs, portanto, precisam acelerar os procedimentos de adequação para não colocar em risco o compliance.
Com relatórios financeiros de sustentabilidade mais rígidos em razão das novas regras, a vantagem não se limita à conformidade, evitando prejuízos legais, mas também abrange a reputação das empresas.
A European Banking Authority (EBA), em seu último relatório, apontou um aumento no número de casos potenciais de greenwashing em todos os setores da União Europeia entre 2012 e 2023. O estudo enfatiza que os riscos reputacionais e operacionais são os mais afetados por essa prática, impactando diretamente as finanças corporativas.
Mesmo com a Comissão Europeia flexibilizando os seus requisitos para simplificar processos e potencializar a competitividade, a tendência global é de endurecimento das regulamentações climáticas, diante das quais os CFOs precisam antecipar ações para responder prontamente ao mercado.
O cuidado das lideranças financeiras também se estende à participação ativa nas discussões e à forma como lidam com os stakeholders. A comunicação clara e transparente dos esforços realizados é a base para estabelecer relações de confiança, elemento essencial para a construção de uma imagem sólida.
Embora a agenda ESG envolva todas as áreas de uma empresa, os CFOs desempenham um papel central, uma vez que as práticas de mitigação de riscos e de identificação de oportunidades são vitais para conduzir as organizações rumo a um futuro econômico mais sustentável e próspero.
Lucianna Raffaini é Vice-presidente de Comissões Técnicas do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo (IBEF-SP)
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